A saúde em países pobres é um dos maiores problemas do mundo. Veja a lista dos demais problemas aqui.
A saúde em países pobres é um problema urgente. Todos os anos, cerca de dez milhões de pessoas morrem nesses países, vítimas de doenças que podem ser evitadas ou tratadas de forma muito barata, incluindo a malária, o HIV, a tuberculose e a diarreia.
1.Resumo
Cerca de 100 dólares per capita são gastos com a saúde dos 2 bilhões de pessoas mais pobres do mundo a cada ano (valor ajustado pelo poder de compra). Disso resulta que ainda existem muitas oportunidades de ampliar com ganhos de escala os tratamentos que são conhecidos por prevenir ou curar tais doenças.
As opções para trabalhar no problema incluem ser um doador para projetos eficazes, trabalhar como economista em organizações intergovernamentais, tais como o Banco Mundial ou a Organização Mundial da Saúde, e trabalhar ou criar uma nova organização sem fins lucrativos que amplie com ganhos de escala os tratamentos comprovadamente eficazes.
2.Nossa Visão Geral
Recomendado? Às vezes recomendado
Este é um problema urgente para se trabalhar, mas você pode gerar impacto ainda maior em outras áreas.
Escala? |
Os danos causados por doenças facilmente evitáveis nos países menos desenvolvidos (incluindo a Índia) estão entre 200 milhões a 500 milhões de EVCIs (DALYs) por ano.1 |
Negligência? |
Os países menos desenvolvidos (incluindo a Índia) gastam cerca de US$ 300 bilhões em saúde a cada ano (ajustado pelo poder de paridade de compra). |
Capacidade de Resolução? |
O problema é, basicamente, ampliar com ganhos de escala as abordagens que sabemos com quase certeza que funcionam, se feitas corretamente. |
3.Qual o problema?
Todos os anos, cerca de dez milhões de pessoas nos países mais pobres morrem de doenças que podem ser evitadas ou administradas de forma muito barata, incluindo a malária, o HIV, a tuberculose e a diarreia. Dezenas de milhões de pessoas sofrem de desnutrição persistente ou doenças parasitárias que os tornam menos aptos, mental e fisicamente, do que poderiam ser.
4.Por que a saúde em países pobres é prioritária?
4.1.No que se baseia nossa recomendação?
Focar em tratamentos básicos de saúde no mundo em desenvolvimento é apoiado pela GiveWell, pelo Global Priorities Project, e pela Copenhagen Consensus. Além disso, a Fundação Bill e Melinda Gates, com a qual compartilhamos muitos valores, gasta a maior parte de seu dinheiro nessa causa. Nossa recomendação é uma compilação de suas descobertas, bem como dados básicos do Global Burden of Disease (Veja Carga Global de Doenças ou Fardo de doenças), Banco Mundial, entre outros.
4.2.Por que é prioritário?
Essas doenças causam sofrimento desnecessário e morte, tanto para as vítimas como para suas famílias. Elas também levam a todo um outro conjunto de efeitos negativos:
- Menor desenvolvimento educacional
- Letargia e capacidade reduzida de se pensar e trabalhar
- Saúde pior quando idosos
- Maior taxa de fertilidade para compensar a mortalidade infantil
Em muitos casos essas doenças e seus impactos podem ser praticamente eliminados com tecnologias baratas que são conhecidas por funcionarem bem e existem a décadas. Por exemplo:
- Malária pode ser prevenida com mosquiteiros tratados com inseticida.
- Tuberculose quase sempre é curada com tratamento contínuo de antibióticos (conhecidos como DOTS – Tratamento Diretamente Observado de Curta Duração)
- Pessoas com HIV tem uma expectativa de vida quase normal e raramente transmitem o vírus para outras pessoas, se pronta e consistentemente tratados com medicamentos antirretrovirais.
- A diarreia pode ser evitada através de melhor saneamento e a morte é evitada por meio da terapia de reidratação oral.
- Doenças parasitárias podem ser curadas com uma pílula que custa menos de 1 dólar por ano.
- Uma série de outras doenças pode ser prevenida através de programas básicos de vacinação (por exemplo, difteria, coqueluche, etc).
Embora a relação custo-eficácia das abordagens acima variem grandemente, elas podem, na maioria dos casos, gerar um ano extra de vida saudável por menos de mil dólares e, em alguns casos, por menos de US$ 100.
Nos últimos 60 anos, as taxas de mortalidade de várias dessas doenças foram reduzidas em mais de metade usando tais técnicas, sugerindo uma maneira muito clara de como progredir.
4.3.Quais os principais argumentos quanto a tais questões não serem prioritárias?
- Você pode pensar que esse não é um problema particularmente negligenciado, dado que é amplamente reconhecido e financiado por organizações, incluindo agências de ajuda, com bilhões de dólares para serem gastos todos os anos. Os governos dos países em desenvolvimento também estão fazendo progressos significativos na melhoria da saúde de sua população, embora algumas lacunas certamente permaneçam na prática. Por esse aspecto, será difícil encontrar oportunidades excepcionais, porque há tantas outras pessoas tentando fazer o mesmo.
- Você pode estar preocupado que reduzir a pobreza e melhorar a saúde nos países pobres não terá grandes efeitos de longo prazo no futuro, o qual será determinado de outras maneiras, por exemplo, através da guerra ou da invenção de novas tecnologias.
- Você pode crer que outros meios para reduzir a pobreza serão mais eficazes, tal como a reforma de instituições governamentais e jurídicas em países em desenvolvimento.
4.4.Principais juízos que devem ser feitos ao priorizar a saúde em países pobres
- Que as vidas das pessoas em outros países são tão importantes quanto as vidas das pessoas no país em que você (provavelmente) vive.
- Que melhorar a saúde de suas populações fará com que os países em desenvolvimento se tornem cada vez mais ricos e produtivos, por exemplo, reduzindo a fertilidade e melhorando a educação e a governança.
5.O que você pode fazer a respeito desse problema?
5.1.O que se faz mais necessário para contribuir para esse problema?
Fornecer serviços básicos de saúde para todas as pessoas que têm ou estão em risco de contrair doenças contagiosas que podem ser facilmente prevenidas. Por exemplo:
- Fazer com que todas as crianças cumpram o programa básico de vacinação (atualmente, cerca de 85%)2. (Ouça nosso podcast de 2021 com Varsha Venugopal sobre avanços recentes nesta questão).
- Colocar todo mundo exposto à malária dormindo sob mosquiteiros. Atualmente, um pouco mais da metade das pessoas nas partes relevantes da África tem acesso aos mosquiteiros3.
- Tratar todos os casos de tuberculose – atualmente pelo menos um terço não é diagnosticado4.
- Garantir que todos tenham acesso a água potável – atualmente pelo menos um bilhão de pessoas não tem5.
Esta é principalmente uma questão de financiamento e logística. Os tratamentos geralmente são simples e não requerem treinamento médico avançado para que sejam entregues (embora o tratamento da tuberculose e do HIV exija supervisão médica).
5.2.Que conjuntos de habilidades e recursos se fazem mais necessários?
- A habilidade de angariar fundos em grandes somas, ou movimentar dinheiro dentro de burocracias para os melhores projetos.
- Pessoas com habilidades logísticas em trabalhos de campo para o desenvolvimento internacional (ou seja, o tipo de pessoa que saberia distribuir 100.000 redes de malária na África).
- Empreendedores (principalmente em organizações sem fins lucrativos, mas também às vezes com fins lucrativos) que poderiam fundar uma das organizações de filantropia efetiva listadas nesse artigo.
- Economistas do desenvolvimento e pesquisadores de custo-efetividade, incluindo aqui economistas, estatísticos e especialistas em controle de doenças.
- Dinheiro para financiar as organizações recomendadas pela GiveWell.
Acreditamos que as pessoas capazes de iniciar projetos excepcionais nessa área provavelmente conseguirão atrair o financiamento necessário, o que torna essa área em grande parte mais limitada por falta de talentos que de recursos.
5.3.Quem está trabalhando nesse problema?
- Veja nossa lista estendida de lugares em potencial para tentar trabalhar dentro dessa causa.
- Departamentos de saúde dos países em desenvolvimento.
- Uma série de fundações tal como a Fundação Bill e Melinda Gates e a Children’s Investment Fund Foundation.
- Organizações intergovernamentais tal como a Organização Mundial de Saúde, Global Alliance for Improved Nutrition, GAVI, Banco Mundial e o Fundo Global.
- Uma série de organizações não governamentais, tal como Médicos Sem Fronteiras, CARE, UNICEF e a Evidence Action.
5.4.O que você pode fazer concretamente para ajudar?
- Doe para uma organização recomendada pela GiveWell hoje.
- Assuma o compromisso da Giving What We Can de doar ao menos 10% de sua renda para pessoas em pobreza extrema.
- Planeje uma carreira em torno da fundação de uma nova organização sem fins lucrativos – veja esse perfil para os próximos passos.
- Tente trabalhar na GiveWell (veja um exemplo do que seria um papel de pesquisador) ou então uma dessas dezenas de outras organizações nesse campo.
- Faça doutorado em economia e então aplique suas habilidades ao desenvolvimento, por exemplo, trabalhando em uma organização intergovernamental, como o Banco Mundial ou a Organização Mundial da Saúde.
- Tornar-se um decisor de doações em uma fundação que financie (ou possa financiar) projetos globais de saúde, por exemplo, a Fundação Bill e Melinda Gates.
- Consiga um emprego em qualquer organização que amplie tratamentos de saúde comprovados, por exemplo Against Malaria Foundation, SCI, Stop TB, Evidence Action e Project Healthy Children.
- Se torne um pesquisador biomédico e trabalhe em melhores maneiras de prevenir doenças negligenciadas que afetam os mais pobres.
6.Demais leituras
- Podemos usar a ciência para acabar com a pobreza mais rapidamente. Mas quanto que os governos estão dispostos a escutar?
- Ofir Reich sobre o uso da ciência de dados para acabar com a pobreza e a espúria distinção entre ação e inação
- Veja nosso perfil de problema relacionado: fumo no mundo em desenvolvimento.
- É justo dizer que a maioria dos programas sociais não funciona?
- Um dos mais famosos ensaios nesse tópico é Fome, Riqueza e Moralidade por Peter Singer.
- Toby Ord escreveu sobre por que é particularmente importante garantir que os recursos de saúde sejam gastos de maneira econômica: O imperativo moral face ao custo-eficácia.
- Milhões Salvos, um livro sobre sucessos na saúde global.
- Relatórios da GiveWell sobre as diferentes intervenções na área de saúde.
- Copenhagen Consensus Centre.
- Disease Control Priorities Project.
- Wikipedia sobre saúde global.
- Pesquisa da Giving What We Can
- O estudo Carga Global das Doenças (Global Burden of Disease).
7.Leia também, em português:
- Mitos sobre filantropia e Ajuda ao Desenvolvimento
- Conceitos do Altruísmo Eficaz: Pobreza Global
- Vendo os vieses de gênero — mulheres na agricultura por Melinda Gates
- GiveDirectly: dinheiro diretamente nas mãos dos mais pobres do mundo
- As vidas econômicas dos pobres, por Abhijit Banerjee e Esther Duflo, ganhadores do Nobel de economia de 2019
- Como sair da pobreza?
- Como as pedras se mexem – A África pode nos alcançar
- Bill Gates tuitou um gráfico e provocou um enorme debate sobre a pobreza global
8.Notas e Referências
1. A população desses países é de cerca de 2 bilhões. Para evitar 100 milhões de DALYs a cada ano, cada pessoa nesses países teria que receber uma média de 1/20 de um DALY a cada ano. Dada uma expectativa de vida atual de cerca de 65 anos, isso exigiria estender a expectativa de vida em 3,25 anos, ou o equivalente em melhoria da qualidade da saúde. Isso parece possível e pequeno quando comparado aos ganhos em saúde alcançados por outros países que eliminaram doenças facilmente preveníveis no passado.
Traduzido de: https://80000hours.org/problem-profiles/health-in-poor-countries/