GiveDirectly: dinheiro diretamente nas mãos dos mais pobres do mundo

A missão da GiveDirectly é realizar transferências incondicionais de dinheiro, para as pessoas mais pobres do mundo.

Por transferências diretas eles querem dizer sem intermediários. A GiveDirectly trabalha diretamente com as pessoas que receberão o dinheiro, impedindo assim que o dinheiro seja desviado por corrupção ou ineficiências administrativas, por exemplo.

Por mais pobres do mundo eles querem dizer pessoas em extrema pobreza, o que significa viver com menos de um dólar e noventa centavos por dia, de acordo com a ONU. Isso já leva em conta as diferenças do que você consegue comprar com um dólar aqui, nos EUA ou no Quênia, por exemplo. Tudo isso é nivelado numa régua que os economistas chamam de paridade de poder de compra.

Por transferências incondicionais podemos dizer duas coisas: que não existe nenhuma ação que a pessoa deve cumprir para receber o dinheiro. Por exemplo, alguns programas de transferência condicionam os repasses a presença das crianças nas escolas ou que os pais as levem para tomar vacinas. Geralmente esses programas são realizados por governos e o objetivo principal é a realização da condição.

Mas também podemos observar que as transferências são incondicionais no sentido de que não existe quaisquer restrições de como as pessoas usarão o dinheiro. Elas podem fazer o que julgarem melhor. Essa talvez seja a parte que cause mais questionamentos: Será que as pessoas gastarão bem o dinheiro?

Como funciona a GiveDirectly?

A GiveDirectly consegue levar dinheiro diretamente para famílias vivendo em extrema pobreza fazendo a transferência de recursos via telefones celulares. Como vimos, esta transferência permite que as próprias famílias decidam como usar o dinheiro, seja para comprar comida, remédios, reformas da casa, pagar a escola dos filhos, ou mesmo iniciar um micro empreendimento.

Com a GiveDirectly você, do Brasil ou qualquer outro lugar, pode enviar dinheiro pros mais pobres do mundo, em países como Uganda e Quênia. A GiveDirectly, por sua vez, enviará o dinheiro para as pessoas beneficiárias via celular, usando o M-Pesa.

M-Pesa funciona de forma semelhante ao ao PayPal, PicPay e demais serviços que já conhecemos, não sendo necessário uma conta bancária ou sequer smartphone. Com o M-Pesa é possível sacar, depositar e enviar dinheiro usando apenas SMS.

Há todo um trabalho prévio realizado pela GiveDirectly em mapear, cadastrar e explicar a iniciativa para as pessoas que receberão as doações. Pesquisas regulares são então conduzidas para acompanhar como as pessoas estão gastando as transferências. Os beneficiados contam até mesmo com serviço de atendimento ao cliente de um call center exclusivo.

Mas funciona mesmo?

A GiveDirectly mantém um repositório de trabalhos em seu site. Conforme mencionam no site:

A avaliação rigorosa e experimental é rara entre as organizações sem fins lucrativos. A GiveDirectly colabora com uma ampla gama de pesquisadores independentes e renomados para medir os impactos das transferências de renda e responder as complexas perguntas do desenho destes programas por meio de mais de uma dúzia de ensaios clínicos aleatórios.

Relatamos os resultados de nossas avaliações e também anunciamos estudos em andamento antes da coleta dos dados, de modo que possamos ser responsabilizados pelos resultados. Também realizamos testes menores e não experimentais para saber mais sobre o que funciona melhor e como os diferentes tipos de destinatários gastam os fundos que recebem.

A intervenção típica da GiveDirectly consiste em fornecer três transferências generosas de dinheiro, com espaço de alguns poucos meses, e assim termina a ajuda. Contudo, eles também decidiram conduzir um grande projeto para testar o impacto de transferência continuada de renda (também conhecidos por aqui como programas de renda básica, renda mínima ou renda cidadã).

Abaixo, por exemplo, fizemos um gráfico com o resultado da pesquisa com 20 pessoas do vilarejo piloto do programa de renda básica, onde foi perguntando no que eles gastaram seus últimos 6 meses de transferências:

GiveDirectly

Ainda assim você pode ter dúvidas quanto a eficácia deste trabalho. Isso é ótimo. Devemos sempre prezar pela dúvida e buscar onde possamos estar errados. Em nosso artigo sobre como sair da pobreza, fizemos algumas rápidas observações quanto a um debate que contrapõe algumas das mais populares estratégias para tirar as pessoas da pobreza: transferência direta de dinheiro (como faz a GiveDirectly), microfinanças, geração de empregos e as chamadas “intervenções continuadas”, também conhecidas como “modelo de graduação”.

Sendo assim, não descartamos que determinados programas podem ser mais eficazes em tirar as pessoas da pobreza com menor custo, ou seja, que existam programas mais custo-eficazes que a transferência direta de renda. Também vale observar que diversos programas que atacam diretamente problemas de saúde, tal como a malária e parasitas, são comprovadamente mais eficazes em gerar maiores ganhos de qualidade de vida e também em vidas salvas.

Para uma análise bem mais detalhada sobre os estudos rigorosos que a GiveDirectly tem realizado a fim de medir seu impacto na economia local recomendamos ler depois esse artigo que traduzimos da Vox.

E como as pessoas têm usado o dinheiro transferido pela GiveDirectly?

Ná página do facebook da Give Directly é possível encontrar relatos de como as pessoas têm usado duas transferências, trouxemos algumas dessas histórias para você conhecer.

GiveDirectly

“Durante muito tempo, Gladys — uma das beneficiadas no Quênia — sonhava em melhorar seu projeto de criação de galinhas para ter uma vida melhor. Por isso, quando ela recebeu a transferências da GiveDirectly, decidiu comprar 120 filhotes. Nas últimas duas semanas, ela já coletou mais de 100 ovos. Ela espera obter bons retornos, já que um ovo é vendido a vinte centavos de dólar e a temporada de festas está chegando. Gladys obteve benefícios não apenas da venda dos ovos como também do esterco do frango, que ela pode usar como fertilizante em seu jardim. Cultivando couve, espinafre e abóbora frescos e nutritivos”.

GiveDirectly

“Samson, um beneficiário do programa Urban Youth da GiveDirectly em Nairobi, investiu o dinheiro que ganhou na abertura de uma barbearia — ele trabalha por conta própria desde fevereiro e usa seus ganhos da loja para pagar suas contas.”

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“Rose decidiu gastar sua primeira transferência na compra de chapas de ferro para um novo telhado, porque ela atualmente vive em uma casa de telhado de palha que goteja quando chove. Ela também comprou um saco de milho para alimentar sua família.”

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“Nancy gastou sua primeira transferência de dinheiro da GiveDirectly comprando um barco de pesca e a segunda transferência comprando um motor para o barco. Agora, ao invés de ganhar 1 dólar por dia lavando roupas, ela ganha cerca de 20 a 80 dólares por dia vendendo peixes.”

Esse é talvez o melhor exemplo que já vimos para refutar uma comum oposição a ideia de dar dinheiro diretamente aos pobres, a famosa frase: “Não dê o peixe, ensine a pescar”. Pois bem: dê o dinheiro e eles irão comprar a vara de pescar, o barco e o motor!

Local vs Global

Fica claro que apenas graças a revolução proporcionada pela internet e celulares projetos incríveis como esse são possíveis.

Algumas pessoas entendem que devemos doar localmente e devolver ao nosso país ou comunidade aquilo que alcançamos. Seguem ditados como “caridade começa em casa”, “pra mudar o mundo comece pelo seu bairro”, entre outros.

Mas tem o outro lado da moeda: as regiões mais necessitadas são justamente as que tem menos gente tentando “devolver” algo. Ademais, neste mundo conectado e globalizado, faz sentido ainda falar em agir localmente?

Peter Singer nos falar sobre a expansão de nosso circulo moral, abrangendo mais e mais pessoas, independente de seu local de nascimento, assim como outras espécies que não a humana. A tecnologia já proporcionou essa expansão. Não caberia à nossa moralidade acompanhar?

Saiba mais e ajude

Conheça mais sobre a GiveDirectly lendo todo extenso material que disponibilizam em seu próprio site: https://www.givedirectly.org/ ou então leia a análise feita pela GiveWell: https://www.givewell.org/charities/give-directly (obs.: ambos em inglês)

Caso deseje doar para a GiveDirectly pelo Brasil, a DoeBem facilita esse processo: http://www.doebem.org.br/pagOngs/givedirectly

Caso prefira doar diretamente pelo site da GiveDirectly: https://donate.givedirectly.org/

Caso deseje doar via Bitcoins:
https://www.coinbase.com/checkouts/fe543c1fbe3f17ecba299323532ac0c8

Autor: Fernando Moreno

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