De Benjamin Todd
Não importa qual carreira você escolha, qualquer um pode fazer uma diferença doando para a caridade, defendendo causas ou se voluntariando.
Infelizmente, muitas tentativas de fazer o bem dessa maneira são ineficazes, e algumas na verdade causam danos.
Considere, por exemplo, o paraquedismo patrocinado. Todo ano, milhares de pessoas arrecadam doações para boas causas e, em seguida, pulam de aviões para chamar a atenção para qualquer instituição de caridade que elas tenham escolhido apoiar. Isso parece ser um ganha-ganha: o arrecadador de fundos tem uma experiência única na vida, enquanto arrecada dinheiro para uma causa digna. O que poderia haver de danoso nisso?
Bastante, na verdade. Segundo um estudo de dois centros populares de paraquedismo, ao longo de um período de cinco anos (de 1991 a 1995), aproximadamente 1.500 pessoas saltaram de paraquedas para a caridade e coletivamente arrecadaram mais de £ 120.000. Isso parece bastante impressionante, até você considerar alguns problemas.
Primeiro, o custo dos saltos de paraquedas é subtraído das doações. Então, das 120.000 libras arrecadadas, apenas 45.000 foram para as organizações.
Segundo, como a maioria dos paraquedistas era de primeira viagem, eles sofreram um total combinado de 163 ferimentos, resultando em uma permanência hospitalar média de nove dias.
Para tratar esses acidentados, o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido gastou cerca de 610.000 libras. Isso significa que para cada £ 1 arrecadada para as instituições de caridade, o serviço de saúde público gastou cerca de £ 13, de modo que o efeito líquido foi reduzir os recursos para os serviços de saúde. Ironicamente, muitas das instituições de caridade que foram apoiadas se relacionavam à área da saúde.1
Que tal o voluntariado? O problema é que voluntários precisam ser gerenciados. Se voluntários não treinados usam o tempo de gerentes treinados, é bem fácil que eles custem mais à organização do que o valor que agregam a ela.
De fato, a principal razão pela qual muitos programas de voluntariado persistem é que, se alguém é voluntário para certa organização, é mais provável que ele doe. Quando a organização FORGE decidiu encerrar seu programa de voluntariado para ser mais eficaz, provocou-se sem querer uma grande queda nas doações.
Logo, embora o voluntariado possa ser eficaz nas circunstâncias certas, muitas vezes não é.
Em nossa pesquisa, descobrimos que qualquer graduado universitário em um país rico pode fazer muito para melhorar as vidas dos outros, e eles podem fazer isso sem mudar de emprego ou fazer grandes sacrifícios.
Nós vamos abordar três exemplos:
- doar 10% da sua renda para uma organização eficaz,
- defender causas importantes e
- ajudar outras pessoas a ser mais eficazes.
Tempo de leitura: 12 minutos
1. Doação eficaz
Como você pode escolher o emprego que acha mais divertido e pessoalmente gratificante, e ao mesmo tempo fazer uma enorme quantidade de bem?
Dê 10% de sua renda para as pessoas mais pobres do mundo. É simples assim.
1.1. Quanto bem as doações podem fazer? Um limite inferior
Desde 2008, a GiveDirectly (página sobre a GiveDirectly em português) possibilita dar dinheiro diretamente para as pessoas mais pobres na África Oriental por telefone celular.
Não achamos que esse é o modo mais eficaz de doar para a caridade de forma alguma — posteriormente discutiremos sobre abordagens de maior impacto —, mas é simples e quantificável, de modo que forma um bom ponto de partida.
Como vimos na primeira parte, quanto mais dinheiro você já tiver, menos qualquer dinheiro adicional melhorará sua vida. Por exemplo, nos EUA, uma duplicação da renda está associada apenas a um ganho de meio ponto na satisfação com a vida, numa escala de 1 a 10.
Essas pesquisas foram replicadas em todo o mundo. Há exemplos no gráfico abaixo.2
As pessoas pobres atendidas pela GiveDirectly no Quênia têm um consumo individual médio de cerca de 800 dólares por ano.3 Esse valor é baseado em quanto US$ 800 poderia comprar nos EUA, o que significa que leva em conta o fato de que o mesmo dinheiro compra mais coisas nos países pobres.
Uma pessoa com diploma universitário nos Estados Unidos ganha, em média, uma renda de trabalho individual de cerca de US$ 77.000 (em 2023) por ano, ou US$ 54.000 após impostos.4 Isso significa que um dólar fará cerca de 68 vezes mais bem se um americano com ensino superior completo doá-lo a um queniano, em vez de gastá-lo consigo mesmo.5
Se uma pessoa que ganha esse nível médio de renda fosse doar 10%, ela poderia dobrar a renda anual de sete pessoas que vivem em extrema pobreza, a cada ano. Ao longo de sua carreira, ela poderia ter um grande impacto positivo na vida de centenas de pessoas.
Grace é uma típica beneficiária de doações da GiveDirectly. Ela é uma viúva de 48 anos que mora com quatro filhos:
Eu gostaria de usar parte do dinheiro para construir uma casa nova, já que a minha está em uma condição muito ruim. Em segundo lugar, eu gostaria de pagar para o meu filho ir estudar numa escola técnica…
A conquista de que tenho mais orgulho é que consegui educar meu filho até o ensino médio.
Minha maior dificuldade na vida é que eu não tenho uma fonte de renda adequada.
Meus objetivos atuais são construir uma latrina com fossa e cavar um poço, já que conseguir água é um problema muito grande.
A GiveDirectly conduziu um estudo clínico controlado randomizado de seu programa e descobriu que os beneficiários experimentaram reduções significativas na fome, no estresse e em outros maus resultados durante anos após o recebimento das transferências. Esses resultados se somam à já substancial literatura existente que mostra que transferências monetárias trazem benefícios significativos.
1.2. Quanto sacrifício isso envolverá?
Normalmente, quando pensamos em fazer o bem com nossas carreiras, pensamos em caminhos tais como tornar-se um professor ou trabalhador na área da caridade, que frequentemente pagam metade do que se ganha no setor privado, e ainda podem não estar alinhados com suas habilidades ou interesses. Em comparação com mudar para essas carreiras, doar 10% da sua renda pode facilmente ser um sacrifício menor.
Além disso, como vimos anteriormente no guia, uma vez que você ganha mais de 55.000 dólares por ano,6 uma renda extra não afetará muito a sua felicidade, enquanto atos que ajudam os outros, como doar para a caridade, provavelmente fazem você mais feliz.
Para dar apenas um exemplo, um estudo descobriu que em 122 de 136 países, se os respondentes respondiam “Sim” à pergunta “você doou para a caridade no mês passado?”, a sua satisfação com a vida era muito maior numa quantidade também associada a uma duplicação da renda.7 Em parte, provavelmente isso é porque pessoas mais felizes doam mais, mas esperamos que parte do efeito também ocorra no sentido contrário.
(Leia mais sobre se doar 10% vai deixar você mais feliz).
1.3. Como ter um impacto maior do que o de um médico
A razão pela qual as doações podem ser tão eficazes é que é possível enviar seu dinheiro para as melhores organizações do mundo, que trabalham nos maiores e mais negligenciados dos problemas Embora muitas instituições de caridade não sejam eficazes, as melhores são.
E embora a GiveDirectly seja certamente uma organização eficaz, há outras que, argumentam alguns especialistas, são ainda melhores. A GiveWell, uma importante avaliadora de instituições de caridade independente,8 estima que suas instituições de caridade mais bem classificadas (como a Helen Keller International e a Against Malaria Foundation (leia sobre a Against Malaria Foundation em português), pode evitar uma morte para cada US$ 7.500 em doações que recebe.9 Além disso, isso fornece outros benefícios que acompanham o tratamento da malária — como uma melhor qualidade de vida em geral e um aumento da renda —, o que causa mais efeitos em cascata ao longo do tempo.
Entenda como a GiveWell avalia organizações neste vídeo:
Com o salário de um típico americano com diploma universitário, doar 10% da sua renda para a Against Malaria Foundation poderia, portanto, salvar mais de uma vida a cada ano.
Esses tipos de programas de saúde comprovados e com boa relação custo-efetividade oferecem uma oportunidade tão boa de fazer o bem que até mesmo os mais proeminentes críticos da ajuda externa ofereceram poucos argumentos contra eles.
Uma vida salva por ano equivaleria a 40 vidas salvas durante uma carreira de 40 anos. No artigo anterior, estimamos que um médico típico trabalhando em clínica médica salva três vidas ao longo de sua carreira. Sendo assim, ao doar 10%, da sua renda, você pode alcançar 10 vezes mais impacto.
E acabamos de usar a Against Malaria Foundation e a GiveDirectly para fornecer um limite inferior concreto para o bem que você pode alcançar. Na verdade, pensamos que existem muitas organizações que são ainda mais eficazes.
Algumas organizações trabalham em problemas que parecem envolver muito mais coisas em jogo que são negligenciadas, como prevenir uma pandemia catastrófica. Discutiremos por que pensamos que pandemias são mais urgentes que a saúde global mais adiante no guia, e você pode ler no artigo separado sobre quais organizações têm o maior impacto (artigo em português com conteúdo similar).
Se todos nos 10% mais ricos da população mundial doassem 10% de sua renda, seriam US$ 5 trilhões por ano.10 Isso bastaria para duplicar o financiamento da pesquisa científica, elevar todos no mundo para acima da linha de pobreza de US$ 2,15 por dia, prover uma educação básica universal e ainda ter bastante sobrando para financiar um renascimento nas artes, ir para Marte e então investir 1 trilhão na mitigação das mudanças climáticas. Nada disso seria simples atingir, mas pelo menos ilustra o enorme potencial de fazer mais doações.11
1.4. Como isso é possível?
É surpreendente que possamos fazer tanto bem enquanto sacrificamos tão pouco. Como isso é possível?
Considere um dos gráficos mais importantes da economia, o gráfico da renda mundial:
O eixo x mostra a porcentagem de pessoas no mundo que ganham cada nível de renda (conforme indicado pelo eixo y). A renda foi ajustada para indicar o quanto essa quantia específica em dólares comprará no país de origem da pessoa (ou seja, “paridade de poder de compra”). Se o mundo fosse completamente igual, a linha seria horizontal.
Para países como os EUA e o Reino Unido, sabemos que somos ricos para os padrões globais, mas geralmente não pensamos em nós mesmos como as pessoas mais ricas do mundo: não somos banqueiros, diretores-executivos ou celebridades, afinal. Mas na realidade, se você ganha US$ 60.000 por ano após a dedução dos impostos e não tem filhos, falando em termos globais, você é o 1%.
[NT: Para brasileiros, sabemos que nosso país não está entre os mais desenvolvidos, mas também não estamos na pior das situações, globalmente falando; além disso, existem pessoas com padrão de vida alto até nos países mais pobres, e o Brasil não é exceção. Por incrível que pareça, o brasileiro com ensino superior completo, ganhando em média cerca de 60.500 reais anuais após impostos, e sem filhos, está entre os 5% mais ricos do mundo!]
Descubra quão rico você é usando esta calculadora rápida.
Esses números são aproximados, mas ainda assim, se você está lendo isso, é bem provável que você esteja naquele pico à direita do gráfico (e talvez até mesmo bem fora do gráfico), enquanto quase todos no mundo estão no pedaço plano embaixo que você dificilmente pode ver.
Não há motivo para ficar envergonhado com esse fato, mas isso enfatiza o quanto é importante pensar em como você pode usar sua boa condição para ajudar os outros. Num mundo mais igual, poderíamos simplesmente nos concentrar em ajudar as pessoas ao nosso redor e fazer nossas próprias vidas correrem bem. Mas acontece que temos uma oportunidade incrível de ajudar outras pessoas com pouco custo para nós mesmos — e seria uma tremenda pena desperdiçá-la.
1.5. Tome uma atitude agora mesmo
Muitos de nós na equipe do 80.000 Horas fomos tão persuadidos por esses argumentos que fizemos um juramento de doar pelo menos 10% de nossa renda para as instituições de caridade mais eficazes do mundo, durante toda a vida.
Nós fizemos isso através de uma organização chamada Giving What We Can, da qual somos parceiros.13
A Giving What We Can permite que você faça um juramento público de doar 10% de sua renda para as instituições que você acredita serem as mais eficazes.
Você pode fazer esse juramento em apenas alguns minutos. É provável que seja a coisa mais relevante que você pode fazer de imediato para fazer mais bem com sua vida.
O juramento não tem força jurídica, você pode escolher para onde vai o dinheiro e, se você é um estudante, só se compromete a doar 1% até depois da graduação. Você se juntará a mais de 9.000 pessoas que, coletivamente, juraram doar mais de 3 bilhões de dólares.
O juramento não é para todo o mundo. Recomendaríamos cautela se estiver planejando ter um impacto principalmente pelo seu trabalho (especialmente se isso pode envolver um trabalho com um salário mais baixo, como numa instituição de caridade), se você tem dívidas consideráveis ou problemas financeiros, ou se você não tem certeza se irá manter o compromisso.
E se você ainda não está pronto, A Giving What We Can permite que você faça um juramento experimental de doar mesmo 1% da sua renda por qualquer período que escolher, para ver o que acontece antes de fazer qualquer compromisso a longo prazo.
2. E se você não quiser doar dinheiro? Como ajudar por meio do ativismo político eficaz
Assim como calhamos de ser ricos em virtude do local em que nascemos, também calhamos de ter influência política pela mesma razão.
Países ricos têm um impacto desproporcional sobre temáticas como comércio global, migração, mudanças climáticas e política tecnológica, e geralmente são ao menos em parte democráticos. Assim, caso você prefira fazer algo diferente de doar dinheiro, considere defender políticas importantes.
Inicialmente, éramos céticos de que uma pessoa pudesse ter influência real por meio de ativismo político, mas quando nos aprofundamos nos números, mudamos de ideia.
Vamos dar o exemplo mais simples: votar em eleições. Vários estudos usaram modelos estatísticos para estimar as chances de um único voto determinar a eleição presidencial dos EUA. Como o sistema eleitoral americano é determinado no nível estadual, se você vive em um estado que favorece fortemente um candidato, a sua chance de decidir o resultado é efetivamente nula. Mas se você vive em um estado disputado, as suas chances aumentam para algo entre 1 em 10 milhões e 1 em um milhão. Isso é bem mais alto do que suas chances de ganhar na loteria.
Lembre-se, o governo federal dos EUA é muito, muito grande. Vamos imaginar que um candidato queira gastar 0,2% a mais do PIB em ajuda externa. Isso seria cerca de US$ 187 bilhões de ajuda externa extra ao longo de seu mandato de quatro anos.14 Um milionésimo disso são US$ 187.000. Logo, se leva uma hora para você votar, poderia ser a hora mais importante — a com o maior valor esperado — que você passará nesse ano. (Os números são semelhantes em outros países ricos; países menores têm menos em jogo, mas cada voto conta mais. Leia mais sobre essas estimativas.)
Usamos o exemplo do voto porque é quantificável, mas esperamos que a ideia básica — uma chance muito baixa de alterar algo muito grande — se aplique a outras formas de defesa política (bem escolhida), como fazer petição ao seu congressista, conseguir votos para o candidato certo ou ir a uma reunião na câmara municipal. Achamos que isso se aplica ainda mais se você tiver o cuidado de focar nas temáticas mais importantes e mais negligenciadas.
3. Ser um “multiplicador” para ajudar outras pessoas a ser mais eficazes
Suponha que você não tenha nenhum dinheiro ou poder, e não sinta que consegue contribuir trabalhando num problema importante. E então?
Uma opção é tentar mudar isso. Falamos de como investir em si mesmo — não importa o emprego que você tenha — em um artigo distinto.
Além disso, você pode conhecer uma pessoa que tem, sim, algum dinheiro, poder ou habilidade. Então, você pode fazer a diferença ajudando-a a atingir mais coisas.
Por exemplo, se você pudesse fazer com que uma outra pessoa doasse 10% de sua renda para a caridade, isso teria tanto impacto quanto fazer isso você mesmo.
Esses são dois exemplos de ser um multiplicador. Mobilizando outras pessoas, muitas vezes é possível fazer mais do que você poderia através dos seus próprios esforços apenas.
Alguns modos de ser um multiplicador incluem:
Difundir conhecimento sobre soluções eficazes para problemas globais negligenciados Para quaisquer problemas globais que você ache mais prementes e negligenciados, você pode encontrar modos de compartilhá-los com outras pessoas. Isso não se trata de pregar, ou se esforçar para convencer as pessoas. Apenas compartilhe com as pessoas que você acha que acharão o assunto interessante; você provavelmente conhece algumas que achariam. (Mas tome cuidado para não desanimar as pessoas sem querer.) Isso também não se trata somente de conscientizar os outros sobre um problema. Tente identificar atitudes concretas que as pessoas podem tomar que possam ajudar (como trabalhar num emprego específico) e difunda conhecimento sobre elas. Muitas pessoas se interessam por contribuir se há uma oportunidade que realmente seja eficaz.Você pode fazer isso falando sobre os problemas com os seus amigos, compartilhando recursos com eles, postando links e ideias nas mídias sociais ou simplesmente liderando ao ser um exemplo. Você também pode ajudar de modo mais indireto, tentando adotar valores importantes — com a compaixão pelos outros, incluindo animais e gerações futuras; ou tendo uma mentalidade aberta, honesta e científica com relação a novas evidências. |
Encontrar uma pessoa que esteja tendo um grande impacto e ajudá-la a aumentá-lo Por exemplo, Ben cofundou o SecureBio com Kevin Esvelt. Na opinião de Ben, Kevin projetou a pauta mais abrangente para reduzir radicalmente as chances de pandemias futuras. Direcionando a estratégia e operações do SecureBio, Ben possibilitou a Ken fazer mais pesquisas, e assim também contribui para a prevenção de pandemias. (Para mais informações sobre ajudar outras pessoas que já estão tendo um grande impacto, veja a nossa análise de carreira sobre ser um assistente de alto impacto.) |
Informar as pessoas sobre oportunidades de alto impacto Suponha que você tenha encontrado um emprego de alto impacto, mas não tem certeza se se adéqua às suas habilidades. Se você puder informar uma pessoa sobre o emprego, e ela o conseguir, isso faz tanto bem quanto aceitá-lo você mesmo — e, de fato, mais bem se ela for mais adequada a ele do que você.15 |
Organizar eventos e grupos para ajudar os outros a descobrir sobre temáticas e ideias importantes Se você se interessa pelo altruísmo eficaz, então poderia ajudar a organizar um grupo local de altruísmo eficaz ou liderar um grupo no trabalho. Muitas vezes é possível conseguir que várias outras pessoas se interessem por ter um grande impacto, fazendo várias vezes mais bem do que você poderia fazer por si só. |
Angariação de fundos Muitas vezes, é possível angariar mais para a caridade pela angariação de fundos do que o que você poderia doar por conta própria. Um exemplo fácil é “doar a sua festa“. Ou, se você trabalha numa empresa com um programa de doação combinada, você poderia ser capaz de estimular outros funcionários a usá-lo. |
Você pode também ler mais sobre voluntariado eficaz.
O que importa é que mais bem seja feito, não que você o faça com as suas próprias mãos.
Isso nos lembra uma velha história (provavelmente fictícia) sobre uma vez que o presidente John F. Kennedy visitou a NASA. Ao encontrar um faxineiro, Kennedy lhe perguntou o que ele estava fazendo. O faxineiro respondeu: “Bem, senhor presidente, estou ajudando a colocar um homem na Lua”.
4. Conclusão: qualquer pessoa pode fazer a diferença
Então, boas notícias: você não precisa pular de um avião para fazer o bem. De fato, há maneiras muito mais fáceis (e seguras) de ter um impacto que são muito mais eficazes.
Devido às nossas posições afortunadas no mundo, há muito que podemos fazer para fazer a diferença sem sacrifícios significativos, quaisquer que sejam os trabalhos que tenhamos.
Aqui estão alguns modos cruciais de ter um grande impacto positivo sem mudar de emprego:
- doar 10% da sua renda para instituições de caridade eficazes,
- usar sua influência política, por exemplo, votando e
- ajudar outras pessoa a ter um impacto.
Talvez você queira considerar fazer o juramento dos 10% agora mesmo.
Ou tire um momento para considerar que outra forma você pode causar um grande impacto com pouco sacrifício.
E se você quiser fazer a diferença diretamente através da sua carreira? Se você pode conseguir tanto com apenas 10% da sua renda, então poderia ser enorme o que você pode conseguir com todo o seu emprego durante décadas. Isso é o que vamos cobrir nos próximos três artigos.
Leia em seguida
Parte 4: Quer fazer o bem? Veja aqui como escolher uma área para na qual focar. Ou veja uma visão geral do guia de carreiras inteiro.
Leia também, em português:
Veja o seguinte vídeo animado legendado em português explicando a GiveDirectly
Mitos sobre filantropia e Ajuda ao Desenvolvimento
Ganhar para doar pode levar a mudanças sistêmicas
Como permitir que o Altruísmo seja seu guia? – comentários sobre o vídeo de Matthieu Ricard
O Propósito da Vida não é a Felicidade: É a Utilidade
Notas e Referências
1. Dos 174 pacientes com lesões de gravidade variável, 94% eram paraquedistas de caridade de primeira viagem. A taxa de lesões em paraquedistas de caridade foi de 11%, a um custo médio de £ 3.751 por vítima. Sessenta e três por cento das vítimas que eram paraquedistas de caridade necessitaram de internação hospitalar, representando uma taxa de lesões graves de 7%, a um custo médio de £ 5.781 por paciente. O valor arrecadado por pessoa para a caridade foi de £ 30. Cada libra arrecadada para a caridade custou ao NHS £ 13,75 em troca.
Fonte: “Parachuting for charity: is it worth the money? A 5-year audit of parachute injuries in Tayside and the cost to the NHS.” CT, Lee, P, Williams and WA, Hadden. (1999).
Link arquivado, recuperado em abril de 2017.
Os paraquedistas nos disseram que a segurança melhorou significativamente desde a década de 1990; então, pode não ser uma ideia tão ruim hoje em dia. No entanto, ainda é um exemplo de fazer o bem de modo ineficaz que foi seguido por mais de 1.000 pessoas, e achamos que você provavelmente pode fazer muito melhor do que o paraquedismo atual.
2. Esse gráfico só mostra correlação, não causação — mais detalhes sobre causação.
3.
A GiveDirectly não coleta rotineiramente dados sobre os níveis absolutos de pobreza (isto é, recursos e consumo médios) de agregados familiares inscritos no seu programa. Resultados preliminares do estudo de equilíbrio geral da GiveDirectly indicam que agregados familiares na área segmentada para esse estudo (no Quênia) são muito pobres. Resultados finais desse estudo em julho de 2018 descobriram que o consumo médio per capita por dia na população inteira das aldeias de controle era de US$ 0,79.
Agregados familiares no grupo de controle em Haushofer e Shapiro 2013 tinham um nível de consumo médio mensal não durável de US$ 157,40 USD PPP (Tabela 1, p. 49). Em nosso modelo de custo-efetividade [de 2018], usamos esse valor para estimar aproximadamente o consumo anual basilar per capita em US$ 286 (USD nominal; veja aqui para mais detalhes). Isso se traduz para uma taxa de consumo diário de aproximadamente US$ 0,78 (USD nominal).
Fonte: GiveDirectly – versão de novembro de 2020. Link arquivado, recuperado em 12 de fevereiro de 2023.
Para converter US$ 2,87 por dia para um valor de “paridade do poder de compra“, usamos o registro do Banco Mundial da taxa de câmbio nominal de KES para USD de 2018 para converter isso para 29.073,1 xelins quenianos.
Em seguida, usamos os fatores de conversão PPP do Banco Mundial para 2018, que indica que 42,55 KES compram o equivalente a US$ 1 nos EUA. Isso sugere um nível de consumo efetivo de US$ 683,27 naquele ano.
Em seguida, ajustamos esse valor à inflação usando o Índice de Preços ao Consumidor dos EUA de 2018 a janeiro de 2023, chegando a um valor de US$ 810 – US$ 825, dependendo de quais meses utilizamos.
Isso equivale a US$ 2,25, ajustados à PPP, por dia.
Esse valor é, obviamente, impreciso. É difícil comparar o poder de compra de pessoas que vivem em diferentes países e circunstâncias. Discutimos alguns dos problemas aqui. Há razões pelas quais pode ser muito baixo e muito alto. No entanto, ficaríamos surpresos se estivéssemos errados por um fator de cinco ou mais. Além disso, todas as estimativas oficiais que vimos sobre a renda do bilhão de pessoas mais pobres concordam que elas são cerca de 10 vezes mais pobres do que quase todos os que vivem em um país rico e cerca de 100 vezes mais pobres do que alguém que vive com um salário de classe média alta em um país rico.
4. Fonte: Carnevale, Anthony P., Ban Cheah, and Emma Wenzinger. “The college payoff: More education doesn’t mean more earnings.” (2021). Link.
O detentor de um diploma de bacharel ganha, na mediana, US$ 2,8 milhões durante a vida inteira, o que se traduz num ganho médio anual de cerca de US$ 70.000.
O artigo foi lançado em 2021, mas os salários aumentaram desde então. Em janeiro de 2021, os salários médios por hora nos EUA eram de US$ 29,92 e eram de US$ 33,03 em janeiro de 2023. Isso representa um crescimento de 10%, o que sugere que o graduado universitário agora ganha US$ 77.000, em média. Isso é provavelmente uma superestimativa, porque os rendimentos dos graduados universitários têm crescido mais rapidamente do que os rendimentos médios.
Fonte: FRED Economic Data, “Average Hourly Earnings of All Employees: Total Private (CES0500000003)”, recuperado em 5 de fevereiro de 2017.
Esse crescimento corresponde grosso modo ao que esperaríamos pela inflação, que foi de cerca de 10% no período, e os salários tendem a se defasar com relação à inflação em períodos em que ela é alta como 2021-23.
Se você está tentando prever o que ganhará no longo prazo, também deve levar em consideração o aumento futuro dos salários, mas estamos ignorando isso.
Para calcular a renda pós-impostos, inserimos US$ 77.000 na calculadora de imposto de renda on-line da Smart Asset para alguém que mora na Califórnia, e saiu em US$ 54.000 pós-impostos. Isso inclui imposto de renda federal, FICA e imposto estadual, com uma alíquota efetiva de 29%. A Califórnia geralmente tem impostos mais altos; então essa estimativa é uma subestimativa. (À altura de 1 de março de 2023.)
Se você optar por ter um filho, também precisará sustentá-lo por mais de 18 anos. Isso reduziria sua renda efetiva em cerca de 25% durante esse período. Explicamos isso na nota 8 deste capítulo do guia.
5. Se a relação entre renda e bem-estar é logarítmica, dobrar a renda de alguém aumenta seu bem-estar em um valor constante. Isso significa que se alguém tem uma renda de US$ 54.500 e outro tem uma renda de US$ 800, você precisa aumentar a renda da primeira pessoa em US$ 54.500 para aumentar seu bem-estar tanto quanto você aumentaria se aumentasse a renda da segunda pessoa em US$ 800. US$ 54.500/US$ 800 = 68. Explicamos por que achamos que a relação é logarítmica (ou talvez ainda mais fraca) em nossa revisão de evidências sobre renda e felicidade.
Além disso, há evidências empíricas de benefícios significativos. A GiveDirectly teve estudos controlados randomizados realizados em seus programas por acadêmicos, e há uma literatura mais ampla mostrando os benefícios das transferências monetárias – veja aqui e aqui.
6. Isso são US$ 55.000 em renda individual, não renda familiar.
7. Este é o estudo que citamos: Aknin, Lara, Christopher P. Barrington-Leigh, Elizabeth W. Dunn, John F. Helliwell, Robert Biswas-Diener, Imelda Kemeza, Paul Nyende, Claire Ashton-James, Michael I. Norton (2010). “Prosocial Spending and Well-Being: Cross-Cultural Evidence for a Psychological Universal.”. Documento de Trabalho da Harvard Business School 11-038. Link.
Embora haja algumas evidências de que parte da razão para a correlação é que as pessoas mais felizes doam mais. Veja: Boenigk, S. & Mayr, ML J Happiness Stud (2016) 17: 1825. doi: 10.1007/s10902-015-9672-2. Link.
Para uma revisão mais abrangente da questão, consulte Giving without sacrifice, de Andreas Mogensen, Giving What We Can Research, link arquivado, recuperado em 6 de abril de 2017.
Uma metanálise de 2018 descobriu que há uma ligação causal entre a bondade e o bem-estar. Foram incluídos 27 estudos experimentais na revisão, com um tamanho amostral total de 4.045 pessoas.
Esses 27 estudos, alguns dos quais incluíam múltiplas condições de controle e medidas dependentes, geraram 52 tamanhos do efeito. A modelagem multinível revelou que o efeito geral da bondade sobre o bem-estar do ator é de pequeno para médio (δ = 0,28). O efeito não foi moderado pelo sexo, idade, tipo de participante, intervenção, condição de controle ou medida de resultado. Não houve indicação de viés de publicação.
8. A Open Philanthropy — o maior financiador do 80.000 Horas — teve origem na GiveWell, e as duas têm em comum parte da liderança; para mais informações, veja aqui.
9. A estimativa da GiveWell do custo para salvar uma vida através das instituições de caridades mais bem classificadas por ela variou ao longo do tempo entre US$ 1.000 e US$ 10.000, e tipicamente está em cerca de US$ 3.000 – US$ 5.000.
À altura de janeiro de 2023, você pode encontrar as estimativas mais recentes da GiveWell sobre o custo de salvar uma vida na sua página sobre impacto. Você também pode ver os seus modelos completos de custo-efetividade mais recentes.
A GiveWell também relatou quão positivas em termos de custo-efetividade ela acha que essas instituições de caridade são em comparação com a GiveDirectly, considerando uma gama mais ampla de efeitos (por exemplo, melhorias na educação e na renda), e normalmente estima que são cerca de 10 vezes mais eficazes.
10% de US$ 77.000 são US$ 7.700, o que é suficiente para evitar pelo menos uma morte por ano.
Claro, há muito mais a dizer sobre o valor dessas doações quando tentamos considerar todos os efeitos possíveis. Você pode ler mais sobre o problema filosófico do desconhecimento (cluelessness, também traduzido como falta de noção). Em geral, encorajamos você considerar quais problemas globais você considera mais urgentes, considerando todas as coisas (adotamos uma perspectiva de longo prazo) e encontrar as melhores organizações trabalhando para resolver esses problemas. Leia mais sobre como escolher uma instituição de caridade.
10.
Os 10% mais ricos da população global atualmente detêm 52% da renda global [PPP].
Fonte: Chancel, L., Picketty, T., Saez, E., Zucman, G., et al. “World Inequality Report 2022”, World Inequality Lab https://wir2022.wid.world/
Logo, se os 10% mais ricos derem 10%, isso são 5% da renda mundial. A renda mundial em 2021 era de cerca de US$ 96,5 trilhões, de modo que isso são cerca de US$ trilhões doados.
Fonte: Banco Mundial, recuperado em 1 de março de 2023.
11. A linha de pobreza do Banco Mundial é de US$ 2,15 por pessoa por dia, em USD de 2017, ajustados à PPP. A lacuna da pobreza em US$ 2,15 por dia (USD de 2017, ajustados ao PPP) em 2019 era 2,6%, segundo o Banco Mundial. Isso significa que as pessoas abaixo da linha de pobreza vivem com US$ 2,10 por dia, em média. A proporção do efetivo da pobreza em US$ 2,15 por dia (USD de 2017, ajustados à PPP) — isto é, a proporção da população mundial abaixo da linha de pobreza extrema — era de 8,4% em 2019, segundo o Banco Mundial. A população global em 2019 era de 7,74 bilhões, segundo o Banco Mundial, o que significa que 650 milhões de pessoas estavam na pobreza extrema em 2019.
Isso significa que custaria somente US$ 36 milhões por dia para elevar todos na pobreza extrema para acima da linha de pobreza. Isso são US$ 13 bilhões por ano. Isso provavelmente é uma subestimativa, pois transferir todo esse dinheiro para as pessoas na pobreza elevaria os preços, teria custos logísticos substanciais, etc. Digamos que esteja errado por um fator de 10, e custaria cerca de US$ 130 bilhões por ano.
As despesas com pesquisa e desenvolvimento como porcentagem do PIB foram de cerca de 2,6% em 2020.
Fonte: Banco Mundial, dados de 2020, Link, recuperados em março de 2023.
Supondo que essa proporção tenha permanecido aproximadamente constante, se o PIB mundial for de cerca de US$ 96,5 trilhões anualmente (ver nota de rodapé 10), custaria cerca de US$ 2,5 trilhões por ano para dobrar a Pesquisa & Desenvolvimento global.
Globalmente, estima-se que 244 milhões de crianças e jovens estão fora da escola. Se supusermos que custaria US$ 1.000 por ano para fornecer educação a uma única criança por um ano, o custo total da educação básica universal seria de US$ 244 bilhões anualmente. Como referencial, as escolas nos EUA gastam cerca de US$ 13.000 por pessoa por ano.
Fonte: UNESCO, Link arquivado, recuperado em 18 de fevereiro de 2023.
Em 2012, todas as doações para as artes nos EUA totalizaram US$ 13 bilhões por ano. Então, vamos alocar dez vezes isso — 130 bilhões de dólares — para o financiamento do renascimento nas artes.
Fonte: Link arquivado, recuperado em 6 de abril de 2017.
Segundo a Wikipédia, estima-se que ir a Marte custará US$ 500 bilhões. Embora ela sugira que isso é provavelmente uma subestimativa, também não teríamos que pagar por tudo em um ano; então vamos com esse valor para nossos propósitos.
Somar todos os itens acima com US$ 1 trilhão destinados a mitigar as mudanças climáticas nos leva a pouco menos de US$ 4,5 trilhões anualmente, o que significa que ainda teríamos quase US$ 500 bilhões de sobra. Então, embora todos esses números sejam muito imprecisos (e os orçamentos muitas vezes explodam), não duvidamos da ideia básica de que seria uma enorme quantidade de recursos para os problemas mais urgentes.
Se tantos recursos fossem de repente efetivamente doados para a caridade, levaria tempo para a economia se adaptar, líderes corruptos poderiam tentar extraí-los de seus cidadãos e poderia haver outros efeitos imprevisíveis — certamente não seria fácil usá-los efetivamente. No entanto, esses números pelo menos mostram que há potencial para enormes ganhos de doações de caridade maiores e mais eficazes.
12. Para uma discussão detalhada sobre as origens e a precisão desse gráfico, consulte nossa postagem Com que precisão alguém conhece a distribuição global de renda?
Resumindo, os dados para os percentis de 1 a 79 foram retirados do PovcalNet: a ferramenta on-line para medição da pobreza desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento do Banco Mundial. Para uma ferramenta atualizada similar, veja a Plataforma da Pobreza e Desigualdade do Banco Mundial. Observe que isso é de fato uma medida de consumo, que acompanha de perto a renda e é a maneira-padrão de rastrear a riqueza das pessoas em direção à parte inferior da distribuição. Os dados dos percentis de renda de 80 a 99 foram fornecidos por Branko Milanović em correspondência privada.
13. A Giving What We Can, como o 80.000 Horas, é um projeto do grupo Effective Ventures: o termo abrangente para a Effective Ventures Foundation e a Effective Ventures Foundation USA, Inc., que são duas entidades legais separadas que trabalham em conjunto.
14. De acordo com o Banco Mundial, o PIB dos EUA foi de cerca de US$ 23,3 trilhões em 2021; 0,2% disso são US$ 47 bilhões (dados recuperados em abril de 2017). Ao longo de um mandato de quatro anos, isso são US$ 187 bilhões.
15. Se isso realmente faz mais bem depende dos contrafactuais: o que exatamente a outra pessoa teria feito em outro cenário, ou que você faria em outro cenário, e o que aconteceria a todas as outras pessoas cujas carreiras seriam afetadas (por exemplo, a pessoa que você substituirá no emprego em que você for trabalhar). Leia mais sobre como contrafactuais alteram a nossa visão sobre o que faz bem em nossa série avançada.
NOTA: esta é uma tradução do Guia de Carreiras do 80,000 Hours, tendo maio de 2023 como última atualização. Ela pode não corresponder à versão mais atualizada, que pode ser acessada em: https://80000hours.org/career-guide/anyone-make-a-difference/