de Benjamin Hilton

O aquecimento global é a maior ameaça que a humanidade enfrenta hoje?

Será que o aquecimento global pode levar ao fim da civilização?

Em todo o mundo, mais da metade dos jovens temem que, como resultado do aquecimento global, a humanidade esteja condenada1. Eles se sentem zangados, impotentes e — acima de tudo — com medo do que o futuro pode trazer2.

O aquecimento global é muito importante para muitos, não apenas por causa do sofrimento e da injustiça que já está causando, mas também porque é uma das poucas questões que tem potencial óbvio para afetar nosso mundo ao longo de muitas gerações futuras. Acreditamos que proteger as gerações futuras é uma prioridade moral fundamental e que isso deva ser uma consideração crucial ao priorizar os problemas nos quais trabalhar.

Se o aquecimento global pudesse ser capaz de levar ao fim da civilização, isso significaria que as gerações futuras poderiam nunca vir a existir – ou poderiam viver em um mundo permanentemente pior. Nesse caso, prevenir o aquecimento global e adaptar-se aos seus efeitos pode ser mais importante do que trabalhar em quase qualquer outro problema.

Mas o que a ciência diz?

O Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é, até onde sabemos, a fonte mais confiável e abrangente sobre o problema. O relatório é claro: o aquecimento global será extremamente destrutivo. Veremos enchentes, fome, incêndios e secas – e as pessoas mais pobres do mundo serão as mais afetadas3.

Mas mesmo quando tentamos levar em consideração as incógnitas desconhecidas 4nada no relatório do IPCC sugere que a civilização será destruída.

Isso não quer dizer que a sociedade não deva fazer muito mais para enfrentar o aquecimento global.

Isso porque os impactos do aquecimento global ainda serão significativos – podem desestabilizar a sociedade, destruir ecossistemas, colocar milhões na pobreza e piorar outras ameaças existenciais, como pandemias projetadasriscos de IA ou guerra nuclear. Se você deseja fazer do aquecimento global o foco de sua carreira, incluímos algumas reflexões abaixo sobre as maneiras mais eficazes de ajudar a enfrentá-lo.

Então, sim, o aquecimento global é assustador. E as pessoas estão certas em ficar com raiva porque muito pouco está sendo feito.

Mas não somos impotentes.

E estamos longe de estarmos condenados.

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RESUMO
O aquecimento global terá um impacto negativo e significativo no mundo. Seus impactos sobre as pessoas mais pobres de nossa sociedade e sobre a biodiversidade de nosso planeta são motivo de especial preocupação. Olhando para os piores cenários possíveis, pode ser um fator importante que aumenta as ameaças existenciais de outras fontes, tal como guerra entre grandes potencias, guerra nuclear ou pandemias. Mas como as piores consequências potenciais parecem passar por essas outras fontes, e esses outros riscos parecem maiores e mais negligenciados, acreditamos que a maioria dos leitores podem esperar ter um impacto maior trabalhando diretamente em um desses outros riscos.
Acreditamos que sua pegada de carbono pessoal é muito menos importante do que o que você faz em seu trabalho, e que algumas maneiras de fazer a diferença no aquecimento global provavelmente serão muito mais eficazes do que outras. Em particular, você pode usar sua carreira para ajudar a desenvolver tecnologias atuais, defender políticas que reduzam nossas emissões atuais ou ainda trabalhar pesquisa de tecnologias que possam, futuramente, remover o carbono da atmosfera.

Nossa visão geral

Recomendado
Trabalhar nessa questão parece estar entre as melhores maneiras de melhorar o futuro de longo prazo que conhecemos, mas, com tudo o mais igual, achamos que é menos urgente do que nossas áreas de maior prioridade.

Escala
Acreditamos que o trabalho para reduzir efetivamente a probabilidade dos piores resultados do aquecimento global teria um grande impacto positivo. No entanto, o aquecimento global parece centenas de vezes menos propenso a causar diretamente a extinção humana do que outros riscos que nos preocupam, tal como pandemias catastróficas. Como resultado, se o aquecimento global tiver consequências catastróficas e potencialmente duradouras para a civilização humana, isso provavelmente se dará por meio do agravamento de outros problemas, tal como levando a conflitos entre grandes potências. Esse risco indireto aproxima o aquecimento global da escala dos demais riscos de extinção, embora ainda pareça 10 vezes menos provável de que venha a causar a extinção do que uma guerra nuclear ou pandemias. Nosso palpite é que mais pessoas deveriam considerar seriamente focar nessas diretamente nestas outras questões.

Negligência
No geral, o aquecimento global é muito menos negligenciado do que outras questões que priorizamos. Os gastos atuais provavelmente ultrapassam US$ 640 bilhões por ano. O aquecimento global também recebeu altos níveis de financiamento por décadas, o que significa que muitos trabalhos de alto impacto já ocorreram. Também parece provável que, à medida que o aquecimento global piora, ainda mais atenção seja dada a ele, permitindo-nos fazer mais para combater seus piores efeitos. No entanto, provavelmente existem áreas específicas que não recebem tanta atenção quanto deveriam.

Tratabilidade
O aquecimento global parece mais tratável do que muitos outros riscos catastróficos globais. Isso ocorre porque há uma medida clara de nosso sucesso (quanto gás de efeito estufa estamos emitindo), além de muita experiência em ver o que funciona – então há evidências claras sobre como seguir em frente. Dito isto, o aquecimento global é um problema complicado de coordenação global, o que o torna mais difícil de resolver.

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Este é um dos muitos perfis que escrevemos para ajudar as pessoas a encontrar os problemas mais urgentes que podem resolver em suas carreiras. Saiba mais sobre como comparamos diferentes problemas, veja como tentamos classificá-los numericamente e veja como esse problema se compara aos outros que consideramos até agora.

Poderia o aquecimento global extremo levar diretamente à extinção da humanidade?

Vamos revisar as três maneiras mais comuns pelas quais as pessoas dizem que o aquecimento global pode causar diretamente a extinção humana: altas temperaturas, aumento da água e interrupção na produção agrícola.

Os piores cenários climáticos parecem muito ruins em termos de vidas interrompidas e perdidas. Estamos nos concentrando na extinção porque, pelas razões que discutimos aqui, acreditamos que reduzir as ameaças existenciais deve estar entre as maiores prioridades da humanidade – em parte devido à sua importância para todas as gerações futuras.

Resumindo, a maioria dos cientistas acha que é quase impossível que o aquecimento global cause diretamente a extinção da humanidade.

Nesta área em geral sombria, esta é uma boa notícia que as pessoas nem sempre se dão conta.

Dito isso, não devemos ficar despreocupados com o aquecimento global – primeiro pois ele representa, ainda assim, graves perigos, como também pensamos que o aquecimento global indiretamente aumenta o risco de extinção ao piorar outras ameaças, o que abordaremos na próxima seção.

Quão quente poderia ficar?

Quanto mais quente a Terra fica, pior podemos esperar que sejam os efeitos do aquecimento global.

Portanto, para descobrir se o aquecimento global pode causar diretamente a extinção, precisamos saber quanto esperamos que as temperaturas subam. Para descobrir isso, primeiro precisamos ter uma ideia de quanto gás de efeito estufa vamos emitir, bem como quanto de aumento de temperatura isso produzirá. Veremos cada um destes pontos agora:

Quanto gás de efeito estufa poderíamos emitir?

Sexto Relatório de Avaliação do IPCC considerou muitos cenários ilustrativos, incluindo:

  • O mundo cumprindo as metas do Acordo de Paris da COP-21, de limitar o aquecimento a 1,5°C. (SSP1-1.9)
  • O mundo tomando medidas suficientes para limitar o aquecimento a 2°C. (SSP1-2.6)
  • São feitos esforços de mitigação modestos, com emissões um pouco menores do que as políticas atuais já o fazem. (SSP2-4.5)
  • Ocorre a reversão de algumas políticas atuais, o que aumenta o aquecimento. Por exemplo, isso pode acontecer se os países estiverem competindo uns contra os outros pelo crescimento. (SSP3-7.0)
  • Ocorre uma reversão política significativa. O mundo decide usar combustíveis fósseis para causar um rápido desenvolvimento, mesmo que esses sejam mais caros que as energias renováveis. (SSP5-8.5)

As projeções do IPCC de emissões futuras até 2100, do Sexto Relatório de Avaliação.

Esses são os cenários mais prováveis. Mas e o cenário mais extremo? E se tentássemos queimar literalmente todo o combustível fóssil no solo?

O IPCC estima que existam 18.635 gigatoneladas de carbono nas reservas de combustíveis fósseis da Terra5.

Felizmente, os métodos de extração de combustíveis fósseis não permitem que você extraia todos os combustíveis fósseis em um depósito – especialmente no caso do carvão. Portanto, a questão não é quanto combustível fóssil existe, mas quanto pode ser recuperado, inclusive com tecnologia futura.

A estimativa mais alta que vimos sobre a quantidade de combustíveis fósseis recuperáveis ​​é de 2.860 gigatoneladas de carbono6.

A liberação de 3.000 gigatoneladas de carbono nos levaria a concentrações de dióxido de carbono na atmosfera de cerca de 2.000 partes por milhão (para comparação, as concentrações pré-industriais de dióxido de carbono eram de 278 partes por milhão e as atuais são de 415 partes por milhão)7.

Quanto aquecimento poderia acontecer como resultado?

O aquecimento causado pelas nossas emissões de gases de efeito estufa ocorrerá nas décadas e séculos após as emissões ocorrerem e é efetivamente causado pela quantidade total de carbono emitida.

Mas, na verdade, é difícil prever a quantidade total de aquecimento causada por alguma quantidade de gás de efeito estufa, porque existem ciclos de retroalimentação (feedback loops).

Aqui está um exemplo de um desses ciclos de retroalimentação: quando você aquece um metal o suficiente, ele brilha em vermelho. Coisas em temperaturas muito mais baixas brilham no infravermelho – é por isso que você pode ver as pessoas à noite usando câmeras infravermelhas. Quanto mais quente alguma coisa está, mais energia ela libera através desse brilho (fenômeno conhecido como radiação de corpo negro). Assim, à medida que a temperatura da Terra aumenta, ela irradia mais radiação infravermelha de volta ao espaço. Isso reduz o efeito das emissões nas temperaturas globais.

Mas também existem ciclos de retroalimentação que podem piorar as coisas, que veremos aqui. Nos piores casos, estão associados aos pontos de inflexão (tipping points), onde, uma vez que uma certa quantidade de gás de efeito estufa é liberada, ela desencadeia algum ciclo de retroalimentação que resulta em um aumento extremamente significativo e permanente da temperatura.

O efeito estufa descontrolado

Poderíamos teoricamente ver aumentos extremos de temperatura através de um efeito estufa descontrolado.

Sabemos que isso é possível porque parece ter acontecido antes: em Vênus. Logo após sua formação, Vênus pode ter sido habitável, com um grande oceano de água. Mas Vênus se formou mais perto do Sol do que a Terra, e esse leve aumento de temperatura levou à evaporação gradual de seu oceano. O vapor de água é um gás de efeito estufa, então isso levou a mais aquecimento e mais evaporação, eventualmente movendo Vênus de um mundo habitável para outro onde as temperaturas da superfície atingem 462°C (864°F), quente o suficiente para derreter o chumbo.

Felizmente, a maioria dos modelos sugere que simplesmente não é possível, mesmo em princípio, que as emissões antropogênicas de dióxido de carbono atinjam níveis altos o suficiente para desencadear um efeito estufa descontrolado em escala semelhante à de Vênus8.

E mesmo que eventualmente perdêssemos todos os oceanos para o espaço, isso levaria centenas de milhões de anos. Portanto, seria muito provável que conseguíssemos interromper o processo ou encontrar outras maneiras de sobreviver (se mais nada nos matar nesse meio tempo).

Retroalimentação pelas núvens

Um estudo descobriu que, se as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera atingirem cerca de 1.300 partes por milhão (o que infelizmente é plausível nos piores cenários), as nuvens que sombreiam grandes partes dos oceanos e refletem a luz de volta ao espaço podem se romper.

Muitos cientistas acham que o modelo envolvido nisso é simples demais para ser plausível.

No entanto, não há consenso sobre isso. Se a modelagem neste estudo estiver correta, a retroalimentação pelas nuvens causaria 8°C extras de aquecimento além dos 6–7°C esperados associados a essa quantidade de emissões. Isso nos levaria às regiões extremas dos efeitos listados abaixo.

Clatratos de metano

Clatrato de metano é uma substância formada de metano dentro de um cristal de moléculas sólidas de água – basicamente gelo com metano preso nele. Existem grandes quantidades de clatratos de metano sob o fundo do oceano.

Quando os oceanos esquentam, eles podem derreter esses clatratos, liberando mais metano na atmosfera.

Sexto Relatório de Avaliação do IPCC estima que haja o equivalente a 1.500–2.000 gigatoneladas de dióxido de carbono preso em clatratos de metano (aproximadamente o dobro do que emitimos até agora). No entanto, eles esperam que qualquer liberação de clatratos ocorra ao longo de séculos ou milênios, o que nos daria substancialmente mais tempo para nos adaptarmos a quaisquer mudanças.

Portanto, o IPCC acredita que é improvável que as emissões de clatratos causem um aquecimento substancial nos próximos séculos9.

A pesquisa sobre a liberação de clatrato de metano parece pouco desenvolvida, então há muito que ainda não sabemos – e isso contribui para nossa incerteza geral sobre o quão quente ficará.

Permafrost derretendo

Existem camadas permanentemente congeladas no Ártico e em outras regiões frias da Terra. O IPCC estima que existam de 1.460 a 1.600 gigatoneladas de dióxido de carbono (ou quantidades equivalentes de outros gases de efeito estufa) armazenados no permafrost10.

Parte desse permafrost já está derretendo, liberando gases de efeito estufa.

O descongelamento abrupto pode fazer com que até metade desses gases de efeito estufa sejam liberados imediatamente, com o restante sendo liberado gradualmente ao longo de décadas.

O relatório do IPCC diz que para cada 1ºC de aquecimento, as emissões de permafrost aumentarão em 18 gigatoneladas de dióxido de carbono, com uma variação de 5% a 95% de 3 a 42 gigatoneladas. Na extremidade superior dos modelos, poderíamos ver até 600 gigatoneladas de dióxido de carbono liberadas do permafrost, aquecendo o planeta em cerca de um grau extra (além dos 6ºC que já veríamos das emissões humanas nesses cenários).

Resumindo: qual é a faixa de possíveis aumentos de temperatura devido ao aquecimento global?

Dada a quantidade de gases de efeito estufa que emitimos, precisamos saber quais são as possíveis temperaturas que a Terra pode atingir11.

Há claramente uma mudança de temperatura mínima possível; é praticamente certo que as temperaturas vão subir12.

O Sexto Relatório de Avaliação fornece estimativas de quanto as temperaturas aumentarão sob os caminhos de emissão que já examinamos anteriormente (que variam desde o cumprimento dos termos do Acordo de Paris até um cenário extremo de queima de combustível fóssil).

Projeções do IPCC de aumentos futuros de temperatura até 2100
As projeções do IPCC de aumentos futuros de temperatura até 2100, do Sexto Relatório de Avaliação. O topo de cada barra é a estimativa mediana do IPCC, com os bigodes mostrando a faixa de confiança de 90%.

Embora essas estimativas incorporem incertezas sobre quais ciclos de retroalimentação são plausíveis (mais sobre isso abaixo), elas mostram intervalos de confiança de 90%. Ou seja, (aproximadamente) há 10% de chance de que as mudanças de temperatura em cada cenário possam ser maiores do que o topo das linhas finas ou abaixo da parte inferior das linhas finas (representando os intervalos de confiança).

Em um cenário pior do que o pior caso do IPCC, onde todos os combustíveis fósseis recuperáveis ​​são queimados, há uma chance de 1 em 6 de vermos mais de 9ºC de aquecimento até 210013. E parece que há uma probabilidade extremamente pequena, mas real, de que isso seja suficiente para causar os ciclos de retroalimentação pelas nuvens – um dos piores cenários que vimos acima.

No total, isso levaria a algo como 13°C de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais. Atingiríamos esses 13°C nos anos ou décadas após acionarmos o ponto de inflexão da retroalimentação pelas nuvens – e então poderia haver aquecimento adicional nos séculos e milênios depois disso. Esses 13°C de aquecimento seriam um desastre humanitário de escala sem precedentes.

Até onde podemos dizer, atingir 13°C é muito improvável, e tão quente quanto nossos modelos sugerem que pode ocorrer em escalas de tempo curtas às quais talvez não sejamos capazes de nos adaptar14.

Agora, veremos se esse aquecimento poderia causar diretamente a extinção humana – por meio de estresse térmico puro, aumento do nível do mar ou colapso agrícola.

O aquecimento global poderia simplesmente tornar o planeta quente demais para os humanos sobreviverem?

Nos dias mais quentes e úmidos, você caminhava para fora e imediatamente parecia que alguém tinha pressionado uma toalha quente e molhada, como às vezes acontece em aviões, sobre toda a sua cabeça. Eu uso óculos e eles embaçvaam imediatamente. Você sua instantaneamente. As pessoas simplesmente evitam sair de casa de todas as maneiras que podem. No verão, meus amigos e eu nos tornávamos pessoas noturnas como forma de vencer o calor.

John Hagner, sobre a vida em Dharan, na Arábia Saudita (um dos lugares habitados que são mais afetados pelo calor no mundo)

Se as temperaturas subirem o suficiente, se tornará muito quente para os humanos sobrevivam por mais de algumas horas – mesmo na sombra. Em locais com alta umidade, como nos trópicos, é mais difícil se refrescar pelo suor, então esse efeito seria ainda pior.

Isso pode tornar partes significativas do planeta inabitáveis ​​(pelo menos ao ar livre ou sem ar condicionado) por partes significativas do ano. Este mapa mostra o número de dias por ano em que teríamos temperaturas de superfície superiores a 35°C (95°F) em várias regiões da Terra, caso cheguemos a cerca de 7°C de aquecimento. Esta é uma boa ilustração dos tipos de áreas que podem se tornar muito quentes para os humanos sobreviverem com mais de 7°C de aquecimento15.

Se houvesse 12°C de aquecimento, a maior parte da terra onde os humanos vivem atualmente seria muito quente para os humanos sobreviverem pelo menos alguns dias por ano16. Um aumento de 13°C tornaria impossível trabalhar ao ar livre durante a maior parte do ano nos trópicos e cerca de metade do ano nas regiões atualmente temperadas.

Mas mesmo com o ciclo de retroalimentação pelas nuvens, levaria décadas para que as temperaturas globais atingissem esse nível e, embora esse pior cenário causasse sofrimento e morte extraordinários, parece muito provável que pudéssemos nos adaptar para evitar a extinção (por exemplo, construir edifícios melhores e ar condicionado generalizado, bem como ocupar melhor as áreas mais frias da Terra).

Além disso, seria difícil que isso levasse diretamente à extinção mesmo que não nos adaptássemos, visto que uma grande porção de terra no planeta permaneceria habitável, mesmo com 13°C de aquecimento. Teríamos que viver em uma área muito menor, mas a civilização sobreviveria.

O mundo poderia afundar debaixo d’água?

Sexto Relatório de Avaliação do IPCC projeta um aumento do nível do mar de cerca de um metro até 2100 se observarmos 5°C de aquecimento acima dos níveis pré-industriais – nos piores cenários, isso pode ser de até dois metros.

Projeções do IPCC de aumento do nível do mar até 2100
As projeções do IPCC de elevação do nível do mar até 2100, do Sexto Relatório de Avaliação.

Este mapa mostra as áreas que estarão abaixo da maré alta em 2100 se houver 5°C de aquecimento, considerando um cenário de pior caso, dentro do percentil 95. (Ou seja, foram propostos vários efeitos que poderiam ajudar a reduzir o aumento do nível do mar, mas esse mapa supõe que eles praticamente não ocorrerão).

Modelar o aumento do nível do mar é difícil, então há uma grande incerteza sobre o quão ruim isso pode ficar. E ao longo dos séculos, o aumento do nível do mar poderá ser muito maior. O IPCC diz que, no pior cenário de emissões que consideramos, com cerca de 6°C de aquecimento, “um aumento do nível do mar superior a 15m [em 2300] não pode ser descartado”.

Não vimos nenhuma modelagem sobre o aumento do nível do mar com 13°C de aquecimento. Como limite superior, podemos considerar o que aconteceria se as calotas polares derretessem completamente. A estimativa mais alta que vimos é que isso produziria um aumento do nível do mar de cerca de 80 metros. Cinquenta das principais cidades do mundo seriam inundadas, mas a grande maioria das terras permaneceria acima da água.

Um mapa de terra remanescente após um aumento de 80 metros no nível do mar
Terra restante após um aumento de 80 metros no nível do mar, conforme calculado por acadêmicos da UPenn. © 2017 Richard J. Weller, Claire Hoch e Chieh Huang Atlas para o Fim do Mundo.

Assim como ocorre com o estresse térmico, provavelmente seremos capazes de nos adaptar a essas mudanças, principalmente por meio da construção de novas infraestruturas, como casas ou defesas contra enchentes. E o fato de que levará séculos para que o nível do mar suba completamente significa que essa adaptação provavelmente será muito mais fácil.

Parece que um aumento de um metro no nível do mar iria, sem adaptações, deslocar cerca de meio bilhão de pessoas de suas casas. Mas com adaptações (como a construção de defesas contra inundações), o número de pessoas deslocadas seria muito menor: o IPCC estima que centenas de milhares de pessoas seriam, na realidade, deslocadas devido a um aumento de dois metros no nível do mar, muito menos do que meio bilhão.

Sabemos que adaptar é possível porque já vimos a adaptação ao rápido aumento do nível do mar antes. Tóquio está afundando no oceano e experimentou efetivamente quatro metros de aumento do nível do mar no século XX17. Esse aumento ocorreu a uma taxa de cerca de 40 milímetros por ano, o que é semelhante ao que esperaríamos com as projeções de pior caso do IPCC.

Portanto, o aumento do nível do mar causará sofrimento e perturbações substanciais à nossa sociedade, principalmente nos países em desenvolvimento. E nossa adaptação será cara — o IPCC projeta que, com 4–5°C de aquecimento, gastaremos mais de 1% de nosso PIB adaptando-nos a enchentes.

Mas, como acontece com o estresse térmico, o aumento do nível do mar não representa um risco de extinção.

O aquecimento global pode destruir a agricultura global?

Relatório Especial do IPCC sobre Mudanças Climáticas e Solo informa que centenas de milhões de pessoas adicionais provavelmente estarão em risco de passar fome até 2050 como resultado do aquecimento global.

Além de eventos extremos como furacões ou secas que interrompem a agricultura, podemos esperar que mudanças de temperatura, mudanças nas chuvas e outras mudanças relacionadas ao clima prejudiquem significativamente nossa capacidade de cultivar alimentos.

Também pode haver alguns efeitos positivos do aquecimento global na agricultura – por exemplo, seremos capazes de cultivar em áreas que atualmente são muito frias. É possível que esses efeitos sejam suficientes para mitigar completamente os efeitos negativos sobre a agricultura.

Com um aquecimento mais extremo, as temperaturas mais altas afetarão diretamente a agricultura.

Temperatura máxima média para iniciação foliar, crescimento da parte aérea, crescimento da raiz e letalidade para arroz, trigo e milho.
Temperatura máxima média para iniciação foliar, crescimento da parte aérea, crescimento da raiz e letalidade para arroz, trigo e milho. Fonte: Sanchez et al., 2013.

As reações químicas de que as plantas precisam para sobreviver (incluindo fotossíntese e respiração) não podem funcionar se as temperaturas estiverem muito altas.

Como resultado, um aquecimento de mais de 10°C provavelmente destruiria a agricultura na Índia e em regiões com climas semelhantes.

Também poderíamos ver mudanças substanciais nos níveis de precipitação que, em cenários extremos, prejudicariam significativamente a agricultura. Este mapa mostra as mudanças na precipitação até 2050 em várias regiões, em um cenário de altas emissões18.

(Em geral, as previsões sobre precipitação e outras mudanças climáticas, tal como a frequência de eventos climáticos extremos, são difíceis de fazer e variam significativamente entre os modelos – portanto, considere todos esses números com cautela!)

Mas mesmo com todas essas interrupções prováveis, ainda devemos ser capazes de nos adaptar – devido ao aumento da produtividade agrícola. Ao longo dos últimos séculos, os preços dos alimentos caíram à medida que a tecnologia tornava cada vez mais barato produzir grandes quantidades de alimentos.

Portanto, é nesse cenário de rápida melhora da produtividade que o aquecimento global irá atuar — e mesmo que as temperaturas subam muito, levará algum tempo (décadas ou talvez séculos) para que isso aconteça. Como resultado, o IPCC espera (com alta confiança) que seremos capazes de nos adaptar ao aquecimento global de forma que os riscos à segurança alimentar sejam mitigados.

Um especialista com quem falamos disse que seu melhor palpite é que um mundo 13°C mais quente levaria – por meio de secas e interrupções na agricultura – à morte de centenas de milhões de pessoas. Mas mesmo esse cenário horrível está muito longe da extinção humana ou do tipo de evento catastrófico que poderia levar diretamente a humanidade a ser incapaz de se recuperar.

Como o aquecimento global extremo afetaria a biodiversidade?

É possível que o aquecimento global leve ao colapso do ecossistema. Muitos pontos de vista éticos atribuem valor intrínseco à biodiversidade – e mesmo que você não o faça, o colapso do ecossistema pode afetar pessoas e animais não humanos de outras maneiras.

As estimativas sobre a proporção de espécies que podem ser extintas devido ao aquecimento global variam, mas, nos piores casos, os modelos preveem que até 40% das espécies podem ser “comprometidas até a extinção” até meados do século19.

Portanto, o aquecimento global extremo pode ter efeitos negativos significativos sobre a biodiversidade. E quanto à importância instrumental da biodiversidade? A redução da biodiversidade poderia exacerbar os efeitos do aquecimento extremo na agricultura? Para que isso acontecesse, teríamos que ver algo crucial para nossa cadeia alimentar ser extinto. Uma possibilidade plausível aqui é que os polinizadores – cujas populações já estão em declínio – possam ser extintos. Mas os modelos sugerem que nossa produção agrícola cairia apenas cerca de 10% se não tivéssemos polinizadores20. Kareiva e Carranza, do Cambridge Centre for the Study of Existential Risk, examinaram isso com mais detalhes e concluíram que é extremamente improvável que o colapso do ecossistema represente riscos para a existência humana21.

Existem, é claro, muitos outros benefícios para a biodiversidade, como o desenvolvimento de novos medicamentos. Mas, no geral, a perda da biodiversidade parece não causar o colapso da civilização.

Resumindo: por que o aquecimento global quase definitivamente não causará diretamente a extinção humana

Se seguirmos as políticas atuais, provavelmente veremos cerca de 2–3°C de aquecimento até 2100. Também é possível que vejamos uma reversão das atuais tentativas de reduzir as emissões. Isso pode acontecer se setores da economia que não podemos descarbonizar crescerem rapidamente, tal como se desenvolvermos novas tecnologias que usam grandes quantidades de energia, ou se algo como uma grande guerra incentivar atividades de alto carbono.

Em um cenário pior, queimaremos combustíveis fósseis, mesmo que sejam mais caros que a energia renovável. E no pior cenário, mas extremamente improvável, poderíamos queimar todos os combustíveis fósseis recuperáveis ​​e atingir 7°C de aquecimento.

Há também uma chance muito pequena de que, nesses cenários improváveis ​​em que queimamos rapidamente muito mais combustíveis fósseis do que atualmente estamos caminhando para, os pontos de inflexão da retroalimentação pelas nuvens possam ser alcançados. Isso poderia levar a algo como 13°C de aquecimento.

Embora isso fosse um desastre humanitário de proporções sem precedentes, a humanidade ainda teria terras frias o suficiente para viver, nem todas estariam submersas no oceano e ainda seríamos capazes de cultivar alimentos em muitos lugares, embora não em todos. Em outras palavras, a humanidade sobreviveria.

Mas essa conclusão leva adequadamente em conta a incerteza?

Afinal, sempre que tentamos usar o que descobrimos até agora para fazer previsões sobre o futuro, devemos estar cientes de que pode haver coisas que não sabemos que podem tornar as coisas piores do que estávamos esperando.

Vimos acima que uma fonte de incerteza são os possíveis caminhos de emissão que seguiremos no futuro. Tentamos levar isso em conta ao considerar uma ampla gama de cenários – incluindo a queima de todos os combustíveis fósseis recuperáveis.

Também vimos incerteza estrutural: isto é, incerteza em nossas previsões porque há coisas que não sabemos sobre como o sistema funciona – por exemplo, se os clatratos de metano causarão um aquecimento substancial nos próximos séculos.

O Sexto Relatório de Avaliação do IPCC, com base na avaliação de Sherwood et al. da sensibilidade climática da Terra, tenta explicar a incerteza estrutural e as incógnitas desconhecidas. Grosso modo, eles acham improvável que todas as várias linhas de evidência sejam tendenciosas em apenas uma direção – para cada consideração que poderia aumentar o aquecimento, também há considerações que poderiam diminuí-lo22.

Isso significa que devemos esperar que as incógnitas se anulem e ficarmos surpresos se apontarem em uma direção ou outra.

Existem algumas ressalvas:

  • Quanto mais altas forem nossas emissões, mais elas se afastarão dos tipos de suposições básicas que o IPCC usou para chegar a essa conclusão. Portanto, se estivermos realmente muito errados sobre a quantidade de emissões de carbono que provavelmente emitiremos, as coisas ainda poderão ficar muito ruins (mas parece improvável que estejamos muito errados sobre isso).
  • Há muito mais incerteza sobre como as outras coisas vão mudar. Por exemplo, é difícil prever como o nível do mar aumentará ou como os padrões de precipitação mudarão (embora, mesmo assim, não pensemos que essas coisas mudarão de maneira a aumentar o risco direto de extinção).

Mas, no geral, apesar de nossa falta de conhecimento sobre algumas retroalimentações relevantes, isso cria uma chance muito pequena de que a incerteza do modelo signifique que as coisas poderiam ser radicalmente piores.

Como resultado, é extremamente improvável (diríamos menos de 1 chance em 1.000.000) de vermos as mudanças de temperatura necessárias para que o aquecimento global tenha os tipos de efeitos que levariam diretamente à extinção.

Como o aquecimento global poderia causar extinção indiretamente

Argumentamos que é muito, muito improvável que o aquecimento global cause diretamente a extinção humana.

Mas o aquecimento global parece contribuir para o risco de extinção humana de outras maneiras, ao piorar as outras ameaças existenciais.

Aqui, examinaremos os fatores que comumente as pessoas apresentam para argumentar que o aquecimento global pode aumentar o risco de extinção e quão grande pensamos que realmente seja a contribuição de cada fator.

O aquecimento global provavelmente aumentará a migração, o que pode levar à instabilidade

Como vimos, as temperaturas mais altas e o aumento do nível do mar afetarão significativamente os locais onde as pessoas podem viver. E outros fatores (tal como mudanças na agricultura) afetarão onde as pessoas podem ganhar a vida, levando também a mais migração.

Segundo o Quinto Relatório de Avaliação do IPCC, uma elevação do nível do mar de meio metro (sem que os governos implementem medidas adaptativas) implicaria no deslocamento de 72 milhões de pessoas; um aumento de dois metros no nível do mar (algo como o pior cenário do IPCC) deslocaria 2,5% da população mundial. Esses números pressupõem que não agiríamos para evitar esse deslocamento – medidas como a construção de diques de proteção poderiam reduzir esses números para menos de meio milhão de pessoas.

Se houver um aquecimento mais extremo, veremos uma migração mais extrema. Com 6°C de aquecimento, áreas mais quentes e sem ar condicionado podem se tornar inabitáveis, causando potencialmente a migração de centenas de milhões de pessoas.

Afirma-se frequentemente que as populações deslocadas podem aumentar a escassez de recursos e o risco de conflito nos países para onde se mudam. O deslocamento forçado também aumenta, sem dúvida, a disseminação de doenças infecciosas e as tensões políticas em geral. Mas é muito difícil estimar o tamanho desses efeitos – e, a partir daí, estimar as implicações desses efeitos para o restante da sociedade.

Como isso poderia aumentar o risco de extinção? O principal caminho seria pelo aumento de conflitos, levando ao risco de uma guerra entre grandes potências, que nos parece ser um fator de risco significativo para a extinção.

Vamos analisar diretamente esse fator agora.

O aquecimento global aumentará os conflitos globais?

A clara capacidade do aquecimento global em criar choques econômicos, crises migratórias e escassez de recursos torna completamente plausível que haverá (como já houve23) conflitos causados ​​pelo menos parcialmente pelo aquecimento global.

Boa parte desses conflitos provavelmente serão na forma de conflito civil e em áreas que já são instáveis ​​e particularmente vulneráveis ​​ao aquecimento global (o Quinto Relatório de Avaliação do IPCC coloca foco na guerra civil na África).

Há também a possibilidade de guerras muito maiores. Se o aquecimento global afetar significativamente a sorte da Rússia, China, Índia, Paquistão, União Europeia ou EUA, isso poderá causar uma grande guerra entre potencias. Crises de migração, estresse por calor, aumento do nível do mar, mudanças na agricultura ou efeitos econômicos mais amplos nesses países podem contribuir para as chances de conflito.

Isso tudo é bastante especulativo, mas ainda achamos que vale a pena ser levado a sério.

O conflito torna mais difícil resolver os problemas de coordenação. Por exemplo, incentiva corridas armamentistas perigosas, que são ainda mais perigosas quando ocorrem entre grandes potências. Por causa disso, é plausível que o conflito – especialmente entre nações poderosas – aumente o risco existencial.

O aquecimento global pode tornar a sociedade menos estável de outras maneiras

Existem muitos outros caminhos propostos pelos quais o aquecimento global poderia tornar nossa sociedade menos estável em geral. Por exemplo:

  • A redução nas receitas fiscais devido a mudanças na economia (por exemplo, se as terras agrícolas de um país se tornarem menos produtivas) pode tornar as pessoas no poder menos capazes de agir. Isso altera as forças relativas das facções políticas, tornando mais provável mudanças de governo.
  • O aquecimento global pode prejudicar as perspectivas econômicas das pessoas, o que pode gerar desespero e violência. Esta pode ser uma das principais causas de agitação civil e guerra civil.
  • Quando o aquecimento global causa dificuldades, as populações podem (correta ou incorretamente) culpar seus governos, aumentando a instabilidade política.

Também é possível que sejamos levados a desenvolver uma tecnologia desestabilizadora que mude nosso clima, ainda que com a intenção de evitar uma catástrofe – por exemplo, a geoengenharia solar. Isso apresenta seus próprios riscos, pois será quase impossível realizar os experimentos de que precisaríamos, em escala global, para verificar a segurança dessa tecnologia. E a tecnologia para mudar o clima pode, por sua vez, levar a conflitos entre (ou dentro) dos países em questões como secas induzidas ou chuvas.

Resumindo: como o aquecimento global piora os riscos catastróficos globais

Os riscos para a humanidade (como guerra nuclear ou pandemias) não afetam apenas grupos ou países específicos; portanto, não devemos nos surpreender se muitas das soluções mais promissoras exigem cooperação global.

Felizmente, se nós tivermos a capacidade de cooperar para reduzir esses riscos, esperamos que iremos fazê-lo. Afinal, se não o fizermos, a consequência é uma catástrofe global! Mas ter realmente a capacidade de cooperar é o ponto vital.

Infelizmente, parece que o aquecimento global reduzirá nossa capacidade de cooperação.

Por exemplo, tem sido sugerido que o aumento da escassez de recursos (em particular a escassez de água) causado pelo aquecimento global pode aumentar o risco de conflito na Caxemira, sendo esse um dos pontos críticos mais importantes para o conflito entre grandes potências e mesmo para a guerra nuclear (neste caso, entre a Índia e Paquistão, embora ambos os lados tenham interesse em evitar a guerra). Não temos certeza se essa análise está certa, mas não parece impossível.

A instabilidade geral também aumenta o risco de atores individuais, como grupos terroristas, agirem unilateralmente para causar uma catástrofe. E esse tipo de dano deliberado é uma das principais maneiras pelas quais poderíamos sucumbir a um risco biológico catastrófico global.

Acreditamos que o século 21 pode ser plausivelmente o mais importante da humanidade devido ao rápido progresso tecnológico, especialmente na inteligência artificial. Se isso for verdade, vamos querer ter muito cuidado para garantir que tudo corra bem. Muitas coisas imprevisíveis acontecerão, e o aquecimento global será uma das principais causas de muitas delas. E quanto pior o aquecimento global se torna, mais imprevisíveis essas coisas serão. Isso por si só pode ser um forte motivo para dedicar sua carreira ao trabalho com o aquecimento global.

Dito isso, ainda achamos que esse risco é relativamente baixo. Se o aquecimento global representa algo como um risco de extinção de 1 em 1.000.000 por si só, nosso palpite é que sua contribuição para outros riscos existenciais é no máximo algumas ordens de magnitude maior – algo como 1 em 10.00024.

Então, sim, o aquecimento global piora outros riscos existenciais. Mas a humanidade ainda tem muito, muito mais chances de sobreviver ao aquecimento global do que de não sobreviver.

E as catástrofes globais que não são a extinção?

Mesmo que seja muito improvável que o aquecimento global cause a extinção da humanidade (direta ou indiretamente), ela ainda poderia causar uma catástrofe global em tal escala que causaria a morte de uma proporção significativa da população (digamos, mais de 10%)?

Não pensamos muito nessa possibilidade, mas as mesmas razões pelas quais pensamos que o aquecimento global não levará à extinção sugerem que ela não levará a um evento catastrófico desse tamanho. Resumindo: mesmo nos piores cenários de aquecimento, muitos humanos ainda poderão viver na terra e cultivar alimentos.

Mesmo no top 1% dos piores cenários, nosso palpite é que é extremamente improvável que as mortes prematuras devido ao aquecimento global excedam um bilhão de pessoas, e essa perda provavelmente seria gradual (por exemplo, ao longo de um século) e devido a coisas como o declínio da produtividade econômica, em vez de um colapso catastrófico de uma só vez. Isso ainda é uma quantidade imensa de morte e sofrimento, e esperamos que os líderes globais garantam que isso não acontecerá.

No entanto, problemas graduais em geral parecem mais fáceis de se adaptar, o que significa que o risco de que a humanidade nunca se recupere dos efeitos do aquecimento global catastrófico (mas não em nível de extinção imediata) parece muito baixo – menor do que, por exemplo, o risco de que a humanidade não se recupere de uma guerra nuclear total.

Novamente, a ameaça indireta do aquecimento global parece maior aqui. Por exemplo, talvez as tensões internacionais agravadas por estressores relacionados ao clima levem a tal guerra.

Em suma, acreditamos que o risco de uma catástrofe global em nível de sub-extinção que mate um bilhão ou mais de pessoas devido ao aquecimento global ainda é algo muito baixo.

De que outra forma o aquecimento global poderia afetar o futuro a longo prazo?

Mesmo que você não concorde com nosso foco nos riscos existenciais (talvez porque pense que é quase garantido que sobreviveremos nos próximos séculos), você ainda pode se perguntar de que outra forma o aquecimento global poderia afetar as gerações futuras.

O dióxido de carbono pode permanecer na atmosfera por milhares de anos, o que significa que o aquecimento pode continuar por centenas de milhares de anos depois que paramos de emitir — e esse aquecimento pode continuar a ter efeitos negativos em nossa sociedade.

Por exemplo, se tivermos um aumento do nível do mar de um metro nos próximos 100 anos, podemos esperar ver 10 metros de aumento do nível do mar nos próximos 10.000 anos.

Isso significa que, se evitarmos uma catástrofe existencial e a humanidade continuar vivendo na Terra, as gerações futuras poderão ter que lidar com os efeitos negativos do aquecimento global por muito mais tempo.

Além disso, se o aquecimento global for muito ruim, isso provavelmente significa que queimamos nossas reservas de combustível fóssil. Este não é um efeito do aquecimento global em si, mas sim um efeito de não fazermos o suficiente para evitá-lo, reduzindo o uso de combustíveis fósseis. Além de causar o aquecimento global e tudo o que isso implica, esgotar nossas reservas de combustível fóssil significaria que, se a humanidade vier a sofrer uma (diferente) catástrofe global que leve a um colapso civilizacional, poderá ser mais difícil reconstruí-la.

Isso ocorre porque os combustíveis fósseis são uma das formas de energia mais densas e acessíveis. Imagine, por exemplo, que estivéssemos em um inverno nuclear após uma guerra nuclear global e precisássemos colocar tudo de volta em funcionamento depois de perder a tecnologia e o conhecimento que acumulado nos últimos 100 anos. Seria extremamente útil, nesse caso, poder queimar temporariamente combustíveis fósseis para reconstruir a sociedade. Mas, se já os queimamos todos, não seremos capazes de fazer isso (ouça nosso podcast com Luisa Rodriguez sobre como podemos nos recuperar de um colapso civilizacional global para saber mais).

Você deve trabalhar com o aquecimento global ou com alguma outra questão global?

Existem muitos problemas globais que merecem mais atenção do que tem recebido atualmente. Isso inclui o aquecimento global, mas também outros que parecem representar um risco mais material de extinção – como pandemias catastróficas ou guerra nuclear.

Se você quer fazer a maior diferença possível em sua carreira e, como nós, acha que reduzir as ameaças existenciais é uma prioridade, em qual você deve se concentrar?

Razões para trabalhar no aquecimento global

Mesmo que não seja um risco de extinção, nossa discussão acima mostra que o aquecimento global ainda pode ser extremamente importante para o presente e o futuro da vida na Terra. Quanto pior, maior a probabilidade de reduzir a biodiversidade, deslocar pessoas ao redor do mundo, destruir os meios de subsistência das pessoas e desestabilizar a sociedade. Isso por si só é uma razão para trabalhar no problema do aquecimento global.

Mas algo ser importante não é, necessariamente, uma razão decisiva para trabalhar na questão. Nossa estrutura para comparar problemas globais sugere que você também deve considerar:

  • Quão solucionável é o aquecimento global?
  • Quão negligenciado é o trabalho no problema do aquecimento global?
  • E como isso se compara a outras questões nas quais você poderia trabalhar?

O aquecimento global parece extraordinariamente solucionável para um problema global: há uma medida clara de nosso sucesso (quanto gás de efeito estufa estamos emitindo), além de muita experiência em ver o que funciona – então há evidências claras sobre como seguir em frente.

Também há muitas oportunidades de trabalhar com o aquecimento global. Muitas pessoas entrevistadas pensam que essa é uma das questões mais importantes do século 21 e, portanto, há muitas oportunidades para trabalhar a questão no governo, nas empresas e na academia.

Isso significa que, se você conseguir chegar a uma posição de poder, poderá alavancar muitos recursos para a solução deste problema.

Como muitas pessoas pensam que o aquecimento global é importante, as maneiras mais fáceis de fazer uma grande diferença provavelmente já foram adotadas (mais sobre isso logo abaixo).

No entanto, alguns trabalhos importantes no aquecimento global parecem ser relativamente negligenciados. Não há muita pesquisa focada em como o aquecimento global interage com outros riscos catastróficos potenciais. E o trabalho com tecnologias de energia limpa também parece ter sido negligenciado em relação à sua importância para resolução desse problema, embora ainda receba muitos recursos.

Seu trabalho também pode ter efeitos colaterais positivos. Por exemplo, reduzir nossa dependência da queima de combustíveis também pode reduzir a poluição do ar, que causa milhões de mortes por ano. Trabalhar com o aquecimento global extremo pode indiretamente ajudar a promover valores positivos, como se preocupar com as gerações futuras, e é possível que encontrar formas eficazes de mitigar o aquecimento global também possa ser útil ao fornecer um modelo para futuros esforços no enfrentamento de outras ameaças globais.

Razões para não trabalhar com o aquecimento global

Não é tão negligenciado como outras questões

O aquecimento global como um todo recebe muita atenção e financiamento. Em particular, recebe muito mais atenção do que muitas outras questões globais urgentes.

O orçamento federal dos EUA incluiu cerca de US$ 23 bilhões em gastos com o aquecimento global no ano fiscal de 2021. O Reino Unido gastou cerca de £ 4 bilhões no ano financeiro de 2021–22. E várias centenas de milhões de dólares são gastos anualmente pelas fundações25Os gastos filantrópicos com aquecimento global são de US$ 5 a 10 bilhões por ano. Além disso, muitas empresas e universidades em todo o mundo trabalham em pesquisas ou tecnologias para lidar com o aquecimento global de modo geral ou projetadas especificamente para redução das emissões. A Climate Policy Initiative contabilizou mais de US$ 600 bilhões em gastos relacionados ao clima em 2020.

Em comparação, a biossegurança em geral recebe cerca de US$ 3 bilhões por ano, a prevenção de pandemias catastróficas em particular recebe cerca de US$ 1 bilhão e a redução de riscos de inteligência artificial recebe entre US$ 10 milhões e US$ 50 milhões26.

Se um problema for menos negligenciado, será mais difícil para uma pessoa adicional fazer tanta diferença trabalhando nele.

Outras ameaças existenciais parecem consideravelmente maiores

Outra consideração é que, apesar de o aquecimento global ser um problema sério, parece haver outros riscos que representam ameaças maiores à prosperidade da humanidade no longo prazo.

Os especialistas que estudam os riscos de extinção humana geralmente pensam que a guerra nuclear, grandes conflitos de poder em geral e certos avanços perigosos em aprendizado de máquina ou biotecnologia têm uma probabilidade maior de causar a extinção humana do que o aquecimento global.

Isso nos parece mais ou menos correto.

Você pode pensar que, pelas razões discutidas acima, o aquecimento global é um fator suficiente grande para contribuir para outros riscos, de modo que vale a pena priorizá-lo. Isso não seria uma visão irracional.

Mas essas outras ameaças, geralmente mais diretas à humanidade, também atuam como fatores contribuintes. Por exemplo, as pandemias podem aumentar as tensões geopolíticas e, portanto, os riscos de conflito. E alguns deles – especialmente pandemias projetadas e riscos de uma IA desalinhada – parecem ser ameaças diretas de extinção.

Portanto, se você concorda que enfrentamos ameaças existenciais substancialmente mais diretas, então, para concluir que o aquecimento global é mais importante, você precisaria pensar que o aquecimento global é um fator de risco muito maior do que outras coisas – tão maior que supera a diferença no risco direto. Achamos que provavelmente isso não é o caso.

Dito isso, existem outros fatores que determinam no que você deve trabalhar – em particular, é importante considerar sua adequação pessoal para empregos em uma certa área (e nós definitivamente conversamos com pessoas que são mais adequadas para trabalhar com o aquecimento global em vez de qualquer outro problema). Mas, em nossa experiência, parece que muitas pessoas subestimam sua capacidade de, com um pouco de treinamento, trabalhar em questões com as quais estão menos familiarizadas. As pessoas também parecem subestimar a gama de ocupações – e, portanto, os diferentes tipos de emprego em que poderiam se destacar – em diferentes áreas.

Como resultado, embora concordemos que é crucial trabalharmos para reduzir as ameaças existenciais à humanidade e concordemos que o aquecimento global aumente essas ameaças, geralmente recomendamos que as pessoas interessadas em salvaguardar o futuro da humanidade se concentrem em ameaças existenciais maiores e mais diretas, se puderem.

Mas como muitas pessoas trabalharão com aquecimento global em suas carreiras (e em termos absolutos, esperamos que mais pessoas o façam, mesmo que também esperemos que muitos de nossos leitores priorizem riscos mais diretos), gostaríamos de dizer algo sobre como fazer isso da forma mais eficaz possível.

Quais são as melhores formas de trabalhar para resolver o aquecimento global?

Muitas das abordagens populares para tratar o aquecimento global e outros problemas ambientais provavelmente não são tão úteis assim.

Por exemplo, o aumento do uso da terra pela agricultura orgânica pode significar, na verdade, no aumento das emissões em comparação com a agricultura regular. E comer alimentos produzidos localmente – uma ideia bem popular para reduzir a pegada de carbono – é muito menos importante do que os alimentos que você escolhe comer, dado que o transporte é apenas uma parte pequena das emissões provenientes dos alimentos.

O mesmo se aplica à política governamental. Governos de todo o mundo tentaram desincentivar o uso de sacolas plásticas descartáveis ​​(em favor de alternativas não descartáveis), mas isso pode, na verdade, ter acabado aumentando as emissões:

Outras coisas funcionam, mas podem ser muito caras (custando US$ 100 ou mais por tonelada de dióxido de carbono removido ou impedido de ir para a atmosfera). Por exemplo, plantar árvores parece ser eficaz, mas o crescimento lento das árvores, os riscos de coisas como incêndios florestais e o alto custo da terra podem fazer dessa uma maneira particularmente cara de reduzir os gases do efeito estufa.

Falaremos sobre ideias para reduzir as emissões que parecem mais econômicas a seguir.

Mas, em geral, queremos observar que sua pegada de carbono pessoal é em grande parte uma distração. Se você reduzir suas emissões em 50%, economizará de 2 a 10 toneladas de dióxido de carbono por ano, enquanto uma doação cuidadosamente considerada (por exemplo, para o Founders Pledge Climate Change Fund) de apenas US$ 10 poderia fazer muito mais para reduzir suas emissões.

E usar seu tempo trabalhando neste problema pode ser ainda melhor.

Algumas considerações para ajudá-lo a descobrir no que trabalhar

Algumas ideias-chave moldam o que pensamos ser mais eficaz para trabalhar com o aquecimento global.

Primeiro, as emissões na Europa e na América do Norte estão diminuindo27, mas as emissões estão aumentando em outros lugares.

Os países em desenvolvimento usam muito menos energia por pessoa e precisarão manter seu consumo de energia crescendo para elevar os padrões de vida de sua população – algo de que as pessoas nos países mais pobres precisam desesperadamente28.

Portanto, precisamos reduzir as emissões em todo o mundo, mas sem prejudicar os padrões de vida. Isso coloca algumas restrições sobre quais intervenções são mais importantes de serem realizadas.

Em segundo lugar, as soluções que requerem coordenação são difíceis de serem alcançadas. Isso é verdade tanto para indivíduos quanto para os países.

Reduzir as emissões beneficia mais a todos do que a qualquer indivíduo. Por exemplo, se os EUA se tornassem carbono neutros (net zero), todos os países se beneficiariam com a redução dos danos causados ​​pelo aquecimento global, mas os EUA obteriam apenas uma fração do benefício dessa ação (enquanto arcariam com o custo total). Portanto, você deve esperar que indivíduos e países façam menos do que seria melhor para o mundo.

Por esse motivo, focar no desenvolvimento e implantação de novas tecnologias parece ter mais chances de sucesso (e tem menos desvantagens e também enfrenta menos problemas de coordenação) do que buscar encorajar os indivíduos a reduzirem voluntariamente seu consumo de energia. Isso ocorre porque há poucos custos ao inovador e eles podem se beneficiar com a venda de suas invenções.

Isso significa que a tecnologia de baixa ou nenhuma emissão é provavelmente uma das maiores alavancas que existem.

Em terceiro lugar, os gastos com aquecimento global são gigantescos, mas podem estar sendo negligenciadas coisas importantes.

Argumentamos anteriormente que o aquecimento global parece, em geral, menos negligenciado do que outras áreas, com gastos de US$ 640 bilhões por ano.

Isso significa que, se você puder identificar subáreas importantes, mas negligenciadas, no problema do aquecimento global, ser capaz de defender mais recursos para essas áreas ou mudanças na priorização dos recursos existentes poderá ter um impacto enorme. Pequenos deslocamentos proporcionais podem movimentar grandes quantias de dinheiro.

Reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa — especialmente por meio da inovação em tecnologia verde

Acreditamos que uma das formas mais promissoras de reduzir as emissões de gases de efeito estufa é trabalhando na pesquisa e desenvolvimento de energia verde.

A energia verde tem um histórico incrível de retornos, pode ajudar a resolver problemas em mais de um país e não requer convencer outras pessoas a agirem. Por exemplo, pedir às pessoas que não dirijam exige que elas façam um sacrifício pessoal, enquanto desenvolver carros livres de emissões resolve o problema sem depender dessa escolha individual.

A energia renovável atual é frequentemente mais barata do que os combustíveis fósseis – esta pode ser uma das principais razões pelas quais as emissões estão caindo na Europa e na América do Norte.

Comparação dos preços de várias fontes de energia de 2009 a 2019
Os preços das fontes de energia renováveis, como solar e eólica, caíram abaixo dos combustíveis fósseis. Fonte: Our World In Data.

Para realmente maximizar seu impacto, concentre-se em tecnologias menos conhecidas. Por que? Você poderia impulsionar um campo que de outra forma não sairia do chão ou levaria muito tempo para fazê-lo.

Por exemplo, as emissões dos carros são apenas cerca de quatro vezes maiores do que as emissões do cimento, mas há muito mais do que quatro vezes foco nos carros elétricos. Isso significa que pode haver melhores oportunidades para mover a agulha tornando a produção de cimento mais verde. Achamos que isso significa que trabalhar na tecnologia do cimento poderia ser melhor – pode haver frutos mais fáceis de se colher (dê uma olhada também em nossa revisão de carreira da área de engenharia).

Da mesma forma, trabalhar com rochas geotérmicas quentes pode ter um impacto maior do que trabalhar com energia solar ou eólica – embora não saibamos o motivo pelo qual poucas pessoas estão investigando isso.

Também há valor na tecnologia que aumenta a eficiência energética, por exemplo, reduzindo os custos de construção de prédios com melhor isolamento. E também é importante observar as barreiras na implantação e ganho de escala das tecnologias que já foram desenvolvidas, de modo a encontrar maneiras potencialmente negligenciadas de reduzir seus custos.

Você também pode trabalhar no ativismo e liderando iniciativas de políticas públicas. Embora as emissões de cada país sejam pequenas quando contabilizadas individualmente, uma política bem-sucedida pode se disseminar por todo o mundo, ajudando a reduzir as emissões líquidas.

Infelizmente, muitas vezes já se defendeu políticas que eram ineficazes ou intratáveis.

Os economistas defendem a precificação do carbono há décadas. De uma perspectiva econômica simples, a precificação da externalidade negativa das emissões deveria produzir de forma otimizada a solução eficiente. Mas, apesar de décadas já terem passado, o preço líquido global do carbono é, na verdade, US$ 10,49 negativos por tonelada29 — ou seja, quando tudo é somado e subtraído, ainda estamos subsidiando o carbono.

Não examinamos isso em detalhes, mas parece que pode haver barreiras políticas significativas à precificação do carbono que são difíceis de superar.

Em vez disso, deveríamos nos concentrar em políticas tratáveis, ​​com um histórico de sucesso. Por exemplo, o Reino Unido eliminou quase completamente o uso de carvão para geração de energia por meio de uma combinação implementável de regulamentações e subsídios. Outros países como a Suécia e a França tiveram enorme sucesso na implantação de energia nuclear, e é possível que, com o correto ativismo, isso também possa acontecer em outros lugares.

Se você estiver interessado em ativismo político, talvez queira ler nossas análises sobre carreiras políticas e, de forma mais ampla, sobre carreiras de comunicação.

Pesquisa em tecnologia de remoção de carbono (mas não geoengenharia solar)

As tecnologias de remoção de carbono, tal como tecnologias de emissões negativas ou captura e armazenamento de carbono, parecem bastante negligenciada em comparação com a energia verde (leia uma visão geral em linguagem simples a respeito) e pode ser uma maneira crucial de reduzir os efeitos de nossas emissões no clima.

A remoção de carbono dessa maneira é uma forma de geoengenharia – intervenção deliberada no clima. A outra forma primária de geoengenharia é a geoengenharia solar (desviar deliberadamente a luz solar para longe da Terra para resfriar o planeta). A geoengenharia solar apresenta riscos potenciais para a humanidade em si, dada a escala sem precedentes da intervenção e o fato de que, uma vez em uso, a geoengenharia solar não pode ser abandonada sem efeitos desastrosos. Esses riscos podem ser maiores do que os riscos do próprio aquecimento global, deste modo, achamos que é potencialmente prejudicial trabalhar em lago que possa fazer avançar a geoengenharia solar.

A pesquisa de geoengenharia de todos os tipos é feita principalmente na academia. O Programa de Geoengenharia da Universidade de Oxford conduz pesquisas sobre os aspectos sociais, éticos e técnicos da geoengenharia.

Pesquisa sobre riscos extremos do aquecimento global

Não acreditamos que o aquecimento global seja susceptível de causar uma catástrofe por si só que colapsasse a sociedade ou matasse uma proporção substancial (>10%) da população. Mas, como argumentamos, os efeitos indiretos do aquecimento global podem contribuir para aumentar as ameaças existenciais.

Mas, como vimos acima, é difícil dizer exatamente quanto eles contribuem – e como melhor mitigar esses efeitos. Isso ocorre porque a maioria das pesquisas não se concentrou em cenários de risco extremo ou na interação entre o clima e outras ameaças existenciais.

Portanto, o aumento do investimento em algumas áreas da pesquisa climática pode ser capaz de informar melhor os formuladores de políticas, bem como o público em geral, sobre a probabilidade dos riscos extremos do aquecimento global (tanto diretos quanto indiretos), bem como descobrir estratégias para reduzir esses riscos.

A pesquisa existente sobre aquecimento global extremo ocorre principalmente na academia e é financiada por financiadores de ciência básica, como a US National Science Foundation. O Centro para o Estudo do Risco Existencial da Universidade de Cambridge e o Instituto Global de Riscos Catastróficos estão realizando pesquisas sobre aquecimento global extremo e possíveis respostas.

Para saber mais sobre esse tipo de trabalho, leia nossa análise de carreira de pesquisa acadêmica.

Perguntas-chave sobre as quais não temos certeza

É realmente difícil chegar a conclusões robustas sobre o aquecimento global, especialmente quando você está se concentrando nos piores resultados possíveis.

Como resultado, há várias questões para as quais não temos certeza sobre as respostas — e, se tivéssemos uma resposta diferente, nosso conselho poderia mudar substancialmente. Esses incluem:

  • Quão quente poderia realmente ficar? Nossa pesquisa (ou nosso raciocínio) está errada? Mais pesquisas sobre essa questão nos dariam respostas mais certas ou isso é muito difícil de conseguir?
  • Quão importantes são os ciclos de retroalimentação extras e os pontos de inflexão que geralmente não são incluídos nos modelos climáticos ou nos quais ainda não pensamos?
  • Quão grande é o aquecimento global como fator de risco indireto para a extinção humana? Por quais caminhos? Mais uma vez, mais pesquisas sobre essas questões nos dariam respostas mais certas ou é muito difícil obtê-las?
  • Quais áreas do trabalho climático (por exemplo, riscos extremos, links para outros riscos ou tipos específicos de tecnologia verde) são mais negligenciadas em relação ao seu impacto?

Saiba mais

Artigos e relatórios:

Episódios de podcast:

Agradecimentos

Muito obrigado a Goodwin Gibbins, Johannes Ackva, John Halstead e Luca Righetti por seus comentários e conversas extremamente atenciosos e úteis.

Notas e referências

1. Hickman et al., 2021Ansiedade climática em crianças e jovens e suas crenças sobre as respostas do governo às mudanças climáticas: uma pesquisa global. Hickman e outros. entrevistou 10.000 crianças e jovens (de 16 a 25 anos) em 10 países (1.000 participantes cada na Austrália, Brasil, Finlândia, França, Índia, Nigéria, Filipinas, Portugal, Reino Unido e EUA) entre 18 de maio e 7 de junho, 2021. 55,7% dos entrevistados concordaram que “a humanidade está condenada”.

2. Hickman et al., 2021. Aqui, citamos os seguintes resultados da pesquisa: 56,8% relataram ter sentido raiva, 56,0% relataram ter se sentido sem esperança, 61,8% relataram ter sentido medo e 75,5% concordaram que “o futuro é assustador”.

3. Mais especificamente, o relatório adverte que, até 2050, sem reduções drásticas de emissões, veremos grandes mudanças no planeta: furacões, tempestades, tsunamis e aumento do nível do mar ameaçarão mais de um bilhão de pessoas que vivem em áreas baixas. Muitas dessas pessoas serão forçadas a se mudar para terrenos mais altos, aumentando as chances de conflitos e crises migratórias. Até 183 milhões de pessoas adicionais ficarão subnutridas em países de baixa renda, e até 4 bilhões de pessoas sofrerão escassez crônica de água.

Esses impactos do aquecimento global são retirados da pergunta 3 do FAQ do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC: Como a mudança climática afetará a vida das crianças de hoje se nenhuma ação imediata for tomada?

Escassez crônica de água significa, aproximadamente, viver em uma região onde, por pelo menos um mês por ano, todos os anos, é necessária mais água do que se espera que esteja disponível na região.

4. Ver seção 7.5.5 do Sexto Relatório de Avaliação. Falando sobre a sensibilidade climática de equilíbrio (ECS, que é aproximadamente quanto aquecimento podemos esperar para alguma quantidade de emissões de carbono), o relatório diz: Nas ciências climáticas, muitas vezes há boas razões para considerar a representação de incerteza profunda, ou o que às vezes é chamado de incógnitas desconhecidas. Isso é natural em um campo que considera um sistema complexo e ao mesmo tempo desafiador de observar. Por exemplo, uma vez que as restrições emergentes representam uma linha de evidência relativamente nova, importantes mecanismos de retroalimentação podem ser tendenciosos na compreensão do nível do processo, os efeitos do padrão e o resfriamento do aerossol podem ser grandes e a evidência paleo inerentemente se baseia em evidências indiretas e incompletas de estados climáticos passados. certamente podem ser razões válidas para adicionar incerteza aos intervalos avaliados em linhas de evidência individuais. De fato, isso foi abordado nas Seções 7.5.1–7.5.4.

5. “Os recursos de combustíveis fósseis são 11.490 PgC para carvão, 6.780 PgC para petróleo e 365 PgC para gás natural.” (Nota 1 PgC é 1 petagrama de carbono, que é equivalente a 1 gigatonelada de carbono.) Da Fig. 5.12 do Capítulo 5 da contribuição do Grupo de Trabalho I para o Sexto Relatório de Avaliação do IPCC.

6. Esta estimativa é de Welsby et al., 2021. Outras estimativas para os recursos totais de combustíveis fósseis recuperáveis ​​incluem: 1.200 bilhões de toneladas (Ritchie & Dowlatabadi, 2017, ajustado para combustíveis fósseis sem carvão por John Halstead); 1.040 bilhões de toneladas (Mohr et al., 2015, estimativa baixa; 1.580 bilhões de toneladas (Mohr et al., melhor estimativa); e 2.500 bilhões de toneladas (Mohr et al., estimativa alta).

7. Lord et al., 2016, fig. 2.

8. “Mas poderíamos causar tal catástrofe prematuramente, por nossas atuais atividades de alteração do clima? Aqui, revisamos o que se sabe sobre a estufa descontrolada para responder a essa pergunta, descrevendo os vários limites da radiação emitida e como o clima evoluirá entre eles. A boa notícia é que quase todas as linhas de evidência nos levam a acreditar que é improvável que seja possível, mesmo em princípio, desencadear um efeito estufa descontrolado pela adição de gases de efeito estufa não condensáveis, como o dióxido de carbono, à atmosfera”. Goldblatt & Watson, 2012.

9. A discussão sobre clatratos pode ser encontrada na seção 5.4.9.1.3, p. 740, Capítulo 5 da contribuição do Grupo de Trabalho I ao Sexto Relatório de Avaliação do IPCC.

10. Caixa 5.1, p. 726, Capítulo 5 da contribuição do Grupo de Trabalho I ao Sexto Relatório de Avaliação do IPCC.

11. Esse valor (quanto as temperaturas aumentarão para uma certa quantidade de emissões) é conhecido como sensibilidade climática e existem várias definições técnicas diferentes.

12. As projeções do IPCC baseadas na suposição de que o mundo continuará com suas atuais políticas de redução de emissões sugerem que teremos cerca de 2,5 a 3,5°C de aquecimento. Isso é claramente suficiente para ter consequências humanitárias desastrosas.

13. Isso decorre das estimativas do IPCC sobre a resposta climática transitória às emissões cumulativas de CO2 (TCRE), que podem ser encontradas na seção 3.2.1 do resumo técnico da contribuição do Grupo de Trabalho I para o Sexto Relatório de Avaliação.

14. Poderíamos atingir o ponto de inflexão para a retroalimentação pelas nuvens antes de queimarmos todos os combustíveis fósseis. Há alguma chance de que, apesar de termos que lidar com 8°C de aquecimento em anos ou décadas, continuaríamos a queimar quantidades substanciais de combustíveis fósseis. Isso significa que há alguma chance de terminarmos com algo como 15°C de aquecimento até 2100. Não analisamos muito esse cenário, mas achamos que isso é extremamente improvável e que os argumentos para explicar por que 13°C de aquecimento não causará extinção também se aplicam com 15°C de aquecimento.

15. Mais precisamente, o mapa mostra o número de dias por ano com temperaturas de superfície superiores a 35°C (95°F) em várias regiões da Terra, no cenário de emissões RCP 8.5, até 2100, e com mudanças de temperatura no percentil 95 calculado usando o modelo Surrogate Model / Mixed Ensemble em Rasmussen et al. (2016) (ou seja, há 95% de chance de que neste cenário de emissões, de acordo com o modelo de Rasmussen et al., as temperaturas médias anuais sejam menores do que as necessárias para produzir o número de dias mostrado no mapa). Isso é aproximadamente equivalente a 7°C de aquecimento desde os níveis pré-industriais.

16. “O pico de estresse térmico, quantificado pela temperatura de bulbo úmido TW, é surpreendentemente semelhante em diversos climas hoje. TW nunca excede 31°CQualquer excesso de 35 °C por períodos prolongados deve induzir hipertermia em humanos e outros mamíferos, pois a dissipação do calor metabólico torna-se impossível. Embora isso nunca aconteça agora, começaria a ocorrer com o aquecimento médio global de cerca de 7°C, colocando em questão a habitabilidade de algumas regiões. Com um aquecimento de 11 a 12 °C, essas regiões se espalhariam para abranger a maioria da população humana conforme atualmente distribuída. Eventuais aquecimentos de 12°C são possíveis devido à queima de combustíveis fósseis.” Sherwood & Huber, 2010.

17. “A equipe de pesquisa avaliou quatro componentes da mudança relativa do nível do mar – mudança do nível do mar induzida pelo clima, os efeitos da remoção do peso da geleira causando elevação ou afundamento da terra, estimativas de subsidência do delta do rio e subsidência nas cidades. As medições do nível do mar foram feitas a partir de dados de satélite. A equipe então pesou seus resultados por população para mostrar sua importância para as pessoas. A análise geral utilizou o modelo Dynamic Interactive Vulnerability Assessment (DIVA), que foi concebido para compreender as necessidades de gestão costeira. Eles descobriram que altas taxas de aumento relativo do nível do mar são mais urgentes no sul, sudeste e leste da Ásia, já que a área tem muitos deltas e planícies de inundação costeiras, megacidades costeiras em crescimento e mais de 70% da população costeira do mundo. Eles também descobriram que ao longo do século 20,ScienceDaily, 2021.

18. Este mapa assume o cenário de emissões RCP 8.5. (Mais detalhes sobre a metodologia).

19. Thomas et al., 2004 fornece estimativas particularmente pessimistas: “Explorando três abordagens nas quais a probabilidade estimada de extinção mostra uma relação de lei de potência com o tamanho da distribuição geográfica, prevemos, com base em cenários de aquecimento climático de faixa intermediária para 2050, que 15 –37% das espécies em nossa amostra de regiões e taxa estarão ‘comprometidas com a extinção’.”
Não sabemos exatamente o que significa “comprometido com a extinção” – nas taxas atuais, pode levar centenas de anos para que essas extinções ocorram.

20. Aizen et al., 2009 dizem: “A redução direta esperada na produção agrícola total na ausência de polinização animal variou de 3 a 8%, com impactos menores na diversidade da produção agrícola.” No entanto, como apontado por Hannah Ritchie aqui, nossa dependência de polinizadores está crescendo, então isso pode ser mais de 10% agora.

21. Kareiva & Carranza, 2018 :Um limite frequentemente mencionado como uma preocupação para o destino da civilização global é a biodiversidade (Ehrlich & Ehrlich, 2012), com o limite de segurança proposto sendo uma perda superior a 0,001% ao ano (Rockström et al., 2009). Há poucas evidências de que essa perda anual específica de 0,001% seja um limite – e é difícil imaginar quaisquer dados que permitam identificar onde estava o limite (Brook et al., 2013; Lenton & Williams, 2013). Uma pergunta melhor é se alguém pode imaginar algum cenário pelo qual a perda de muitas espécies leva ao colapso de sociedades e desastres ambientais, mesmo que não se possa saber o número absoluto de extinções que seriam necessárias para criar essa distopia. Embora existam dados que relacionam as reduções locais na riqueza de espécies com a função alterada do ecossistema, esses resultados não apontam para riscos existenciais substanciais. Os dados são experimentos de pequena escala em que a produtividade da planta ou a retenção de nutrientes é reduzida à medida que o número de espécies diminui localmente (Vellend, 2017), ou são observações locais de aumento da variabilidade no rendimento da pesca quando a diversidade do estoque é perdida (Schindler et al., 2010). Esses não são riscos existenciais. Para tornar a ligação ainda mais tênue, há poucas evidências de que a biodiversidade esteja diminuindo em escalas locais (Vellend et al 2017; Vellend et al., 2013). A biodiversidade planetária total pode estar em declínio, mas a biodiversidade local e regional geralmente permanece a mesma porque as espécies de outros lugares substituem as perdas locais, embora homogeneizando o mundo no processo. Embora a maioria dos cientistas conservacionistas provavelmente vacile com essa conclusão, há um ceticismo crescente em relação à força das evidências que ligam as tendências na perda de biodiversidade a um risco existencial para os seres humanos (Maier, 2012; Vellend, 2014). Obviamente, se toda a biodiversidade desaparecesse, a civilização acabaria – mas ninguém está prevendo a perda de todas as espécies. Parece plausível que a perda de 90% das espécies do mundo também possa ser apocalíptica, mas ninguém está prevendo esse grau de perda de biodiversidade também. Trágica, mas plausível é a possibilidade de nosso planeta sofrer uma perda de até metade de suas espécies. Se a biodiversidade global fosse reduzida à metade, mas ao mesmo tempo localmente o número de espécies permanecesse relativamente estável, qual seria o mecanismo para um cenário de fim da civilização ou mesmo fim da prosperidade humana? Extinções e perda de biodiversidade são perdas éticas e espirituais, mas talvez não um risco existencial.

22. “Avaliamos evidências relevantes para a sensibilidade do clima de equilíbrio da Terra por duplicação do CO2 atmosférico, caracterizado por uma sensibilidade efetiva S. Essa evidência inclui a compreensão do processo de retroalimentação, o registro climático histórico e o registro paleoclimático. Um valor S inferior a 2 K é difícil de conciliar com qualquer uma das três linhas de evidência. A quantidade de resfriamento durante o Último Máximo Glacial fornece forte evidência contra valores de S maiores que 4,5 K. Outras linhas de evidência combinadas também mostram que isso é relativamente improvável. Usamos uma abordagem bayesiana para produzir uma função de densidade de probabilidade (PDF) para S dadas todas as evidências, incluindo testes de robustez para incertezas difíceis de quantificar e diferentes antecedentes. A faixa de 66% é 2,6–3,9 K para nosso cálculo de linha de base e permanece entre 2,3–4,5 K nos testes de robustez; os intervalos correspondentes de 5 a 95% são 2,3 a 4,7 K, limitados por 2,0 a 5,7 K (embora esses intervalos de alta confiança devam ser considerados com mais cautela). Isso indica uma restrição mais forte em S do que relatada em avaliações anteriores, elevando a extremidade inferior da faixa. Esse estreitamento ocorre porque as três linhas de evidência concordam e são consideradas amplamente independentes e devido à maior confiança na compreensão dos processos de retroalimentação e na combinação de evidências”. Sherwood et al., 2020. CarbonBrief tem um bom resumo da pesquisa, escrito pelos autores.

23. O Sexto Relatório de Avaliação diz: “Em contextos intraestaduais, a mudança climática tem sido associada tanto ao início de conflitos, particularmente na forma de agitação civil ou motins em ambientes urbanos (alta concordância, média evidência). {Ide, 2020, evidências multimétodos para quando e como os desastres relacionados ao clima contribuem para o risco de conflito armado}, bem como com mudanças na duração e gravidade dos conflitos existentes (Koubi, 2019) A mudança climática é conceituada como um dos muitos fatores que interagem para aumentar as tensões (Boas 42 e Rothe, 2016) através de diversos mecanismos causais (Mach et al., 2019);(Ide et al., 2020) e como parte do nexo 43 paz-vulnerabilidade e desenvolvimento (Barnett 2019) (Abrahams, 2020); (Buhaug e von Uexkull, 44 2021).”

24. Como você deve pensar sobre os fatores de risco indiretos? Uma heurística é que é mais importante trabalhar com fatores de risco indiretos quando eles parecem estar piorando muito mais problemas diretos de uma só vez e de maneiras diferentes. Por analogia, imagine que você está em uma empresa e muitos de seus fluxos de receita estão falhando por razões aparentemente diferentes. Poderia ser a cultura da sua empresa tornando as coisas menos propensas a funcionar sem problemas? Pode ser mais eficiente abordar isso em vez dos muitos problemas de receita diferentes, mesmo que seja upstream e, portanto, menos direto. Mas esse não parece ser o caso do aquecimento global e dos riscos diretos de extinção – não há muitas maneiras diferentes de a humanidade se extinguir, pelo menos até onde sabemos. Portanto, é menos importante reduzir os problemas de upstream que podem piorá-los do que tentar corrigi-los diretamente. Isso significa que, se você está principalmente preocupado sobre como o aquecimento global pode aumentar a chance de uma pandemia global catastrófica, parece sensato focar diretamente em como prevenir pandemias globais catastróficas, ou talvez na interseção das duas questões, em vez de focar principalmente em das Alterações Climáticas.

25. “Com base nesses relatórios e em uma conversa não oficial, estimamos que os gastos filantrópicos anuais típicos na mitigação do aquecimento global nos EUA provavelmente estejam na faixa de algumas centenas de milhões de dólares”. Open Philanthropy: Mudança Climática Antropogênica (2013).

26. Segundo Toby Ord em O Precipício (2020), p. 312.

27. Isso é verdade mesmo quando contabilizamos as emissões ‘importadas’ de outros lugares. Por exemplo, se alguma manufatura é terceirizada pelo Reino Unido para a Índia, as emissões dessa manufatura são consideradas parte das emissões do Reino Unido e não da Índia.

28. “Até o momento, a maior parte da atenção se concentrou na avaliação da relação entre baixos níveis de desenvolvimento e uso de energia (WBGU, 2003, Guruswamy, 2011, Kaygusuz, 2011, Bhattacharyya, 2012, Karekezi et al., 2012, Sovacool, 2012). No entanto, embora a pobreza ainda seja um problema grave e persistente, nas últimas décadas muitos países têm experimentado avanços relevantes em termos de desenvolvimento. Entre 1990 e 2014, a parcela de pessoas que partiu para países menos desenvolvidos (com IDH < 0,55) diminuiu de 60% para 12%, enquanto a parcela de pessoas que viviam em países desenvolvidos (com IDH > 0,8) aumentou de 11% em 1990 para 18% em 2014 (PNUD, 2015). Além disso, em 2014, mais de 50% da população mundial vivia em países com IDH > 0,7 (em comparação com 24% em 1990) (PNUD, 2015). Espera-se que essas tendências continuem no futuro, traduzindo-se em maiores requisitos de energia para sustentar os melhores padrões de vida”. Arto et al., 2016, que detalha os requisitos de energia necessários para o desenvolvimento.

29. “Estender o cálculo para todo o mundo dá um preço efetivo do carbono negativo de US$ 10,49/tCO2. As emissões globais de CO2 de energia em 2018 foram de 33,1 bilhões de toneladas métricas, enquanto o valor total de todas as políticas de precificação de carbono é de US$ 79,6 bilhões. E os subsídios globais aos combustíveis fósseis chegaram a US$ 426,7 bilhões”. De Cunliff, 2019.


Publicado originalmente em Maio de 2022 aqui.

Tradução: Fernando Moreno

Obs.: ao longo dessa tradução optamos por usar, na maioria dos casos, a expressão “aquecimento global” ao invés de “mudanças climáticas”, por dois motivos: seu uso mais corrente em língua portuguesa e por ser uma maneira mais clara de se referir à mudança climática atual, e não as mudanças ocorridas no passado.