A Segurança nuclear é um dos maiores problemas do mundo. Veja a lista dos demais problemas aqui.

A segurança nuclear é um tópico que não envolve apenas componentes e estruturas, mas também pessoas e organizações. De interesse para a grande maioria dos governos globais, o tema acaba sendo obscuro para a sociedade, que não possuí acesso à informações de forma transparente.

1.Resumo

Nota: Até que este perfil seja atualizado, nossa melhor fonte de informação sobre este problema é esta entrevista em profundidade: Daniel Ellsberg sobre a criação de máquinas do dia do juízo final nuclear, a insanidade institucional que as mantém e um plano prático para desmontá-las.

As armas nucleares que encontram-se hoje ativas têm o potencial de matar centenas de milhões de pessoas diretamente e bilhões devido aos seus efeitos subsequentes na agricultura. Elas apresentam alguma medida de risco (ainda desconhecido) de extinção humana pelo potencial de um “inverno nuclear” e de um colapso social do qual podemos nunca nos recuperar. Há muitos exemplos na história de momentos em que os EUA ou a Rússia chegaram perto de usar suas armas nucleares, acidentalmente ou deliberadamente.

Segurança nuclear já constitui um importante tópico de interesse para os governos, tornando mais difícil ter um algum impacto sobre esse problema (em comparação com o que provavelmente ocorreria sem seu envolvimento).

A maioria das oportunidades para influenciar o problema das armas nucleares parece ser trabalhando nos estabelecimentos militares ou na política externa e pela pesquisa em centros de estudos (think tanks) que oferecem aos primeiros ideias sobre como diminuir o risco de conflito nuclear. Algumas abordagens menos convencionais poderiam envolver um trabalho independentemente, visando melhorar as relações entre as pessoas que vivem em países que são potências nucleares ou tentando melhorar a resiliência de nosso suprimento de alimentos no caso de um sério colapso agrícola.

2.Nossa visão geral sobre Segurança Nuclear

Às vezes recomendado
Esse é um problema urgente para se trabalhar, mas você pode ter um impacto ainda maior trabalhando em outra coisa.

Escala?
segurança nuclear
A guerra nuclear teria impactos devastadores.1
Negligência?
segurança nuclear
1 a 10 bilhões de dólares são gastos anualmente neste problema (valores ajustados pela qualidade do gasto).2
Capacidade de
Resolução?
segurança nuclear
Há algumas maneiras possíveis de progredir neste problema, com significativa controvérsia.3

Profundidade do perfil: Exploratório

Autor do perfil: Peter McIntyre

Última atualização: 12 de Abril de 2016

Este é um dos muitos perfis que escrevemos para ajudar as pessoas a encontrar os problemas mais urgentes que podem resolver com suas carreiras. Saiba mais sobre como comparamos diferentes problemas, veja como tentamos classificá-los numericamente e veja como esse problema se compara aos outros que consideramos até agora.

3.O que é esse problema e o quanto ele importa?

3.1Em que nossa análise está baseada?

3.2.O que é esse problema e quais são os argumentos para trabalhar nele?

Apesar das reduções nos arsenais de armas nucleares após a Guerra Fria, ainda existem cerca de 16.000 armas nucleares no mundo, com os Estados Unidos e a Rússia na posse de mais de 95% delas. Essas armas têm o potencial de causar sofrimento e destruição em uma escala sem precedentes. Um relatório de 1979 do Escritório de Avaliação de Tecnologia dos EUA estimou que, em uma guerra nuclear total entre os EUA e a Rússia, 35-77% da população dos EUA (105-230 milhões de pessoas) e 20-40% da população russa ( 28-56 milhões de pessoas) morreriam nos primeiros 30 dias do ataque.4

O problema da segurança nuclear, explicado pela Física em 3 minutos

Embora os efeitos iniciais de tais bombas nucleares fossem horríveis, os efeitos posteriores poderiam ser piores. Uma guerra nuclear poderia causar um inverno nuclear – uma liberação de fuligem na atmosfera, bloqueando a energia térmica do Sol e baixando as temperaturas, regional e globalmente, por vários anos, abrindo novos buracos na camada de ozônio que protege a Terra da radiação prejudicial, reduzindo precipitação global em cerca de 10%, desencadeando falhas nas colheitas e resultando em escassez generalizada de alimentos. No entanto, ainda há controvérsias sobre se os efeitos de um inverno nuclear seriam apenas ruins ou uma completa catástrofe e quantas armas nucleares teriam que ser detonadas para que efeitos climáticos de longa duração fossem acionados.5

Ademais, um ataque nuclear é acompanhado de um pulso eletromagnético (EMP – Electromagnetic Pulse) que poderia destruir uma grande fração da infraestrutura baseada em tecnologias eletrônicas de um país, com um relatório recente estimando que até 90% da população dos EUA poderia morrer de fome, doenças e colapso social nos 12 meses seguintes ao ataque.6

Embora o risco de guerra troca nuclear tão catastrófica seja razoavelmente baixo, porque nenhum dos lados desejaria tal resultado, ainda há alguma possibilidade de:

  1. Escalada de um conflito tradicional (por exemplo, a independência de Taiwan), sem querer, levando a uma guerra nuclear;
  2. Um dos lados acreditar, incorretamente, que está sendo atacado devido a um erro técnico e então “retaliar”;
  3. Um líder altamente irresponsável sendo eleito em uma potência nuclear ou um colapso na “cadeia de comando” de autorização do uso de armamento nuclear.

A Chatham House compilou 16 exemplos de “quase acidentes” nucleares ao longo da história, os quais incluem exemplos de cada um desses riscos.7

Acredita-se que a guerra nuclear cria algum risco de extinção humana. Uma pesquisa com acadêmicos da Global Catastrophic Risk Conference, da Universidade de Oxford, estimou uma chance de 1% de extinção humana no século XXI por conta de guerras nucleares.8

3.3.Quais são os principais argumentos contra o trabalho?

Essa área já recebe muita atenção de governos, militares, centros de pesquisa (think tanks), organizações internacionais (como as Nações Unidas) e organizações sem fins lucrativos (como o Fundo Ploughshares). É quase universalmente reconhecido como um risco que precisa ser reduzido. Como resultado, é provavelmente menos negligenciado do que outros problemas.

Como esse risco é dominado por decisões nos níveis mais altos da política externa e das forças armadas é difícil para a maioria das pessoas ter uma influência sobre o problema sem dedicar sua carreira à construção de expertise e credibilidade.

Devido à natureza da dissuasão nuclear e ao conflito entre os países, existe o risco de efeitos não intencionais. Por exemplo, os países que mantêm uma postura agressiva na qual eles dizem que usarão armas nucleares se atacados podem tornar o mundo mais seguro, desencorajando outros países a ameaçá-los, mesmo indiretamente.

Se alguém está preocupado com o futuro da humanidade a longo prazo, a chance de uma guerra nuclear que resulte em completa extinção humana parece baixa. Luke Oman estima que a probabilidade “da população humana global chegar a zero, (resultante do cenário de 150 Tg de fuligem), estaria na faixa de 1 em 10.000 a 1 em 100.000, conforme análise feita em nosso trabalho de 2007”.9 Dito isto, achamos que essa estimativa é muito baixa, já que não leva em consideração potenciais fraquezas em seus modelos ou o risco de que um colapso social cause uma redução permanente na capacidade da humanidade em alcançar seu potencial (o que não deixa de ser um risco existencial, mesmo que ainda existam pessoas sobreviventes).10

3.4.Principais pontos que você precisa refletir sobre Segurança Nuclear

  • Destruição mutuamente assegurada – Uma guerra nuclear destruiria quase completamente os dois países que travassem uma guerra nuclear. Você precisa decidir se isso é suficientemente confiável para evitar a guerra nuclear. Achamos que é um bom impedimento, mas não suficiente para eliminar completamente o risco.
  • Importância dos riscos existenciais – Esse problema tem uma escala particularmente grande se você valoriza a mitigação de um desastre que impediria a existência de todas as gerações futuras. Achamos que isso é realmente muito importante.
  • Conforto com a incerteza – Não é possível ter fortes evidências de que as intervenções para resolver este problema serão bem-sucedidas, portanto, você precisa estar confortável com uma grande chance de não ter qualquer influência.
  • Probabilidade de recuperação do colapso – Se houvesse uma catástrofe nuclear e o consequente colapso social, qual seria a probabilidade de nos recuperarmos, voltando ao nosso estado atual? Achamos que isso não está claro, ainda que acreditemos que a recuperação é mais provável do que a não recuperação.

4.O que você pode fazer com relação a esse problema?

4.1.Quais abordagens existem para resolver esse problema?

Há uma gama de opções possíveis para reduzir o risco de conflito nuclear, nenhuma das quais investigamos detalhadamente:

  • Trabalhar na melhoria das relações externas entre as principais potências nucleares (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China) e desincentivar que outros países alcancem o status de potência nuclear;
  • Convencer políticos ou eleitores desses países a priorizarem, acima de outras preocupações, a prevenção de uma guerra;
  • Assegurar que o monitoramento dos primeiros ataques e a comunicação entre as potências nucleares sejam suficientemente bons para evitar que um falso alarme se transforme em uma guerra em grande escala;
  • Garantir que os materiais nucleares sejam protegidos com segurança e não possam ser usados por agentes desonestos;
  • Impedir o desenvolvimento de defesa antimísseis balísticos nos EUA, na esperança de tornar mais provável as reduções mútuas de armas EUA-Rússia e EUA-China;
  • Trabalhar na melhoria das relações externas em outros pontos de conflito com armas nucleares, tal como a Índia e o Paquistão, Irã e Israel e a Coreia do Norte;
  • Encolher os estoques nucleares;
  • Melhorar a resiliência e recuperação civil diante de um ataque de pulso eletromagnético (EMP – Electromagnetic Pulse);
  • Evitar a proliferação nuclear.

A maioria dessas oportunidades só está disponível dentro da política externa, inteligência e forças militares de potências nucleares.

Algumas ações, como o ativismo pacifista, o aumento da cooperação entre as potências nucleares ou pesquisas relativas a política externa, podem ser conduzidas de forma independente por meio de grupos de pesquisa (think tanks) e acadêmicos.

O Open Philantropy Project, em sua investigação superficial do tema, concluiu que “as maiores lacunas potenciais neste espaço parecem ser o trabalho na política de armas nucleares fora dos EUA e ativismo nos Estados Unidos, sendo a primeira lacuna maior, mas mais difícil de ser influenciada por um filantropo baseado nos EUA”

4.2.Quais conjuntos de habilidades e recursos são mais necessários?

  • Especialização técnica em política de armas nucleares;
  • Expertise em diplomacia, política externa e minimização do risco de guerra;
  • Influência sobre atitudes públicas com relação a determinados temas

O conjunto de habilidades acima se fazem mais necessárias nos países com estoques de armas nucleares (ou potenciais), como EUA, Rússia, Paquistão, Índia, Israel, Irã e Coreia do Norte.

4.3.Quem está trabalhando nesse problema?

A área é foco significativo da ação de governos, agências de segurança, filantropos e organizações intergovernamentais.

Quando consideradas as agências governamentais das potências nucleares que são dedicadas à política externa, diplomacia, inteligência e militares, uma fração de todo seu trabalho é voltado a assegurar que a guerra nuclear não ocorra. Embora seja difícil saber exatamente quanto, é provável que isso envolva bilhões de dólares em cada país.

O orçamento dos EUA para armas nucleares está confortavelmente na casa das dezenas de bilhões.11 Alguma fração significativa disso é presumivelmente dedicada ao controle e segurança destas armas, assim como à detecção precisa de eventuais ataques aos EUA. Colocando em perspectiva, contudo, o Departamento de Estado dos Estados Unidos tem um orçamento de 66 bilhões de dólares, enquanto os militares gastam mais de meio trilhão de dólares a cada ano.12

Saindo do governo, um relatório de 2012 estimou que o financiamento de fundações voltadas ao trabalho em segurança nuclear, entre 2010 e 2012, foi de cerca de 31 milhões de dólares por ano.13 A esse valor podemos também somar a Nuclear Threat Initiative, que não é financiada por fundações, e cujo orçamento de 2015 foi de cerca de 17 a 18 milhões de dólares.14

Além disso, algumas organizações intergovernamentais dedicam recursos substanciais às questões de segurança nuclear. Por exemplo, em 2016, a Agência Internacional de Energia Atômica tinha em mãos um orçamento de 361 milhões de euros.15

4.4.O que você pode concretamente fazer para ajudar?

Opções menos promissoras que, no entanto, achamos que vale a pena serem mencionadas incluem:

  • Trabalhar para melhorar a resiliência da oferta de alimentos em resposta a perturbações climáticas dramáticas (Tal como desenvolvido pela ALLFED).
  • Melhorar, nas principais potências nucleares, as atitudes das pessoas em relação umas às outras, especialmente a compreensão mútua e o respeito entre as elites políticas.

Uma ação de menor impacto sugerida pelo Future of Life Institute é desinvestir das empresas que apoiam o desenvolvimento de armas nucleares, ou encorajar outros a fazê-lo. Não sabemos quanto efeito isso pode ter na opinião pública.

5.Saiba mais sobre Segurança Nuclear

6.Notas e referências

1. O risco de uma guerra nuclear significativa nos próximos 200 anos é de 2 a 20%; tal guerra reduziria o potencial futuro da humanidade em 30%, aqui computados o risco de extinção, “valores piores” (as pessoas podem ter uma tendência menor a cooperar futuramente após um evento destes, por exemplo), novos conflitos e falhas na recuperação; com um grande esforço no problema, esse risco poderia ser reduzido em cerca de 30%. Esta estimativa é altamente incerta.

2. Os recursos dedicados a prevenir o risco de uma guerra nuclear global, inclusive computado os orçamentos governamentais, provavelmente são da ordem de 10 bilhões de dólares por ano ou mais. No entanto, estamos rebaixando esse valor para algo entre 1 a 10 bilhões por ano, conforme nossos ajustes de qualidade, porque grande parte desses gastos não está focada em reduzir o risco de uso de armas nucleares em geral, mas em proteger apenas um país específico ou dar a um país uma vantagem sobre o outro. Muito também é gasto em medidas anti-proliferação não relacionadas aos cenários mais danosos em que centenas de ogivas viriam a ser usadas. Também é notável que os gastos de atores não-governamentais representam apenas uma pequena fração disso. Sendo assim, devem existir melhores oportunidades no emprego de recursos e talentos nestas organizações.

3. Há algumas maneiras possíveis de progredir, com significativa controvérsia. Isso ocorre porque efeitos não intencionais tornam difícil dizer quais políticas realmente reduzirão os riscos.

4. “As mortes resultantes estariam muito além de qualquer precedente. Cálculos feitos pelo Executivo americano estimam uma taxa de mortalidade entre 35% a 77% de sua população (isto é, de 70 milhões a 160 milhões de mortos) e mortes soviéticas entre 20% a 40%.…] ”“ Esses cálculos refletem apenas as mortes nos primeiros 30 dias. Outros milhões seriam feridos e muitos acabariam morrendo por falta de cuidados médicos adequados. Além disso, milhões de pessoas podem morrer de fome ou congelar durante o inverno seguinte, mas não é possível estimar quantas”. Escritório de Avaliação Tecnológica 1979, página 8.Arquivado

5. Fonte Arquivado

6. Fonte Arquivado

7. Fonte Arquivado

8. Fonte Arquivado

9. Fonte Arquivado

10. “Risco existencial – Um em que um resultado adverso aniquilaria a vida inteligente originária da Terra ou reduziria, permanente e drasticamente, seu potencial”.FonteArquivado

11. Fonte Arquivado

12. Fonte Arquivado

13. Fonte Arquivado

14. Fonte Arquivado

15. Fonte Arquivado

7.Material em português

O homem que quer salvar a humanidade de um inverno nuclear – Precisamos de um plano B para alimentar a humanidade, não importa o que aconteça. Essa é a missão da ALLFED.

Marcelo Gleiser – Holocausto Nuclear – Nesse vídeo o professor Marcelo Gleiser explica como seria um Holocausto Nuclear.