Mensurando a pobreza

Definir o que é pobreza ou que faz uma pessoa pobre não é tão simples como parece. A pobreza é um conceito multidimensional, incorporando uma série de fatores diferentes que impactam a vida dos pobres.

Para os acadêmicos que estudam o assunto, existem duas maneiras principais de pensar a pobreza: uma chamada de pobreza absoluta, que compara a renda com a quantia necessária para atender às necessidades pessoais básicas, como alimentação, vestuário e abrigo; e a pobreza relativa, quando uma pessoa não consegue atingir um nível mínimo dos padrões de vida, em comparação com outros na mesma época e lugar.

Vamos começar explicando rapidamente o que é a pobreza relativa: como destaca o pensador Amartya Sen1, ela inclui a forma como um indivíduo deve apresentar-se para ser aceito em sociedade – a roupa que veste, a aparência que tem – fenômeno que Sen qualifica de “vergonha social”. Pobreza seria assim passar pelo constrangimento de não atingir aquele status mínimo esperado dentro de seu grupo e ter assim afetada sua autoestima. Por isso, a definição de pobreza, ao menos a relativa, varia de um país para outro, ou de uma sociedade para outra. Isso pode ser interessante também para governos de países ricos que ainda assim desejam fazer algo para ajudar sua população não tão rica. Por exemplo, a Finlândia não tem pobres conforme métricas absolutas, mas o governo considera uma métrica de pobreza relativa: é pobre aquele que ganha abaixo de 60% da média do país. Nessa métrica, quase 13% dos finlandeses são pobres.

Agora, quando queremos comparar os países, costumamos usar métricas de pobreza absoluta: a métrica mais usada é a do Banco Mundial, que opta por usar uma métrica de dinheiro, e considera que a pessoa vive em pobreza extrema quando ela tem, em média, menos de 2 dólares e 15 centavos para gastar, por dia, com ela própria.2

Vale algumas observações sobre esse dado: primeiro que, geralmente, o dado coletado neste tipo de pesquisa é a renda familiar. Divide-se a renda familiar pelo número de pessoas na família. Uma família de 4 pessoas que ganhe menos de 8,60 dólares (2,15 por pessoa) estaria em pobreza extrema.

Ademais, essa é uma métrica que já está relativizada pelo que os economistas chamam de paridade de poder de compra (em inglês, purchasing power parity). Essa é uma métrica que busca anular as diferenças de preços de um país para o outro, variações na cotação do câmbio etc, comparando no lugar da renda das pessoas em dinheiro o que seria uma mesma cesta de produtos. Sabemos que 2 dólares compram mais coisas no Brasil ou na Angola do que nos Estados Unidos, mas não é o caso aqui com essa métrica, pois ela está comparando uma mesma cesta de produtos. Ou seja, estamos comparando produtos que você compra com dois dólares nos Estados Unidos com os mesmos produtos que você compra no Brasil, França ou Quênia. Sendo assim, estamos falando de um nível muito grave de pobreza.

E quantas são as pessoas vivendo em extrema pobreza no mundo por essa métrica? O Banco Mundial estima que são cerca de 650 milhões de pessoas – aproximadamente uma em cada doze pessoas. 2

Agora, mesmo aqui há espaço para debate. Afinal, a falta de recursos econômicos tem consequências diretas em muitos outros aspectos da vida, incluindo segurança alimentar e acesso a serviços de saúde e água. Uma métrica alternativa proposta seria a do MPI, Multidimensional Poverty Index. O MPI foi desenvolvido pela Oxford Poverty & Human Development Initiative e pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas e se propõe avaliar 10 critérios:

  • Nutrição
  • Mortalidade Infantil
  • Anos de estudo
  • Frequência escolar
  • Combustível para cozinhar
  • Saneamento
  • Água Potável
  • Eletricidade
  • Pavimentação
  • Rendimento

Segundo o MPI, uma pessoa sem acesso a um terço ou mais destes indicadores é considerada pobre e atualmente essa classificação se enquadra em 15% da população mundial, num total de 1,2 bilhões de pessoas (dados de 2022).

A pobreza na ótica do Altruísmo Eficaz

A falta de recursos econômicos tem consequência direta sobre muitos aspectos das vidas das pessoas, incluindo o acesso a educação e cuidado médico. Pobreza e saúde precária também comprometem seriamente o bem-estar de milhões de pessoas. É por isso que a pobreza econômica e a carga global de doença são áreas de foco primordiais para o altruísmo eficaz.

Como resultado da crescente desigualdade global, o custo de prevenir a morte é muito menor em países de baixa renda. Por exemplo, a GiveWell estima o custo por vida de uma criança salva, por meio de uma distribuição de redes mosqueteiras financiada pela Against Malaria Foundation, em cerca de 3.500 US$ (Give Well 2016). Em contraste, o Serviço Nacional de Saúde Britânico considera custo-efetivo gastar 25.000 US$-37.000 EUR para cada ano de vida saudável salva (Rigby 2014). Isso quer dizer que doações que trabalham na pobreza global e na saúde global podem ser muito custo-efetivas. A desigualdade global também afeta o impacto das transferências monetárias: dada a extensão da desigualdade global, um dólar para uma pessoa vivendo em pobreza extrema vale 66 vezes o que vale para o americano médio. (Weyl 2014).

Alguns se preocupam que empregar o auxílio para lidar com estas questões seja problemático. O altruísmo eficaz tem buscado tratar de várias destas preocupações, incluindo preocupações sobre efetividade do auxílio auxílio e paternalismo.

Tradução: Luan Rafael Marques

Revisão: Fernando Moreno

Fontes:

1. Amartya Sen e as mil facetas da pobreza. Banco Interamericano de Desenvolvimento. 2001.

2. Poverty. Our World In Data. Joe Hasell, Max Roser, Esteban Ortiz-Ospina e Pablo Arriagada. 2022.

Conteúdo traduzido e parcialmente adaptado de: https://concepts.effectivealtruism.org/concepts/global-poverty/ e https://80000horas.com.br/como-saber-se-alguem-e-pobre/