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O que é altruísmo eficaz?
O altruísmo eficaz é um projeto que busca encontrar as melhores maneiras de ajudar outras pessoas e as colocar em prática.
É tanto uma área de pesquisa, que procura identificar os problemas mais prementes do mundo e as melhores soluções para eles, quanto uma comunidade prática, que procura usar essas descobertas para fazer o bem.
Este projeto é importante porque, ao passo muitas tentativas de fazer o bem falham, outras são extremamente bem-sucedidas. Por exemplo, algumas organizações filantrópicas ajudam 100 ou até 1.000 vezes mais pessoas do que outras, com a mesma quantidade de recursos.
Isso significa que, se pensarmos com cuidado sobre as melhores maneiras de ajudar, podemos fazer muito mais para enfrentar os maiores problemas do mundo.
O Altruísmo Eficaz foi elaborado por professores da Universidade de Oxford, mas já se espalhou para todo o mundo e está sendo aplicado por dezenas de milhares de pessoas em mais de 70 países.1
Pessoas inspiradas pelo Altruísmo Eficaz trabalham em projetos que variam do financiamento da distribuição de 200 milhões de mosquiteiros contra a malária até a pesquisa acadêmica sobre o futuro da IA e campanhas políticas para evitar a próxima pandemia.
Elas não estão unidas por uma solução particular para os problemas do mundo, mas por uma forma de pensar. Elas tentam encontrar formas de ajudar que sejam extraordinariamente boas, de modo que certa quantidade de esforço faça uma diferença extraordinária. Aqui estão alguns exemplos do que elas fizeram até agora, seguidos dos valores que as unem.
Quais são alguns exemplos do altruísmo eficaz na prática?
Evitar a próxima pandemia
Por que esta questão?
As pessoas no altruísmo eficaz tipicamente tentam identificar causas de grande escala, tratáveis e que são injustamente negligenciadas2, a fim de encontrar aquelas nas quais uma pessoa a mais possa ter o maior impacto. Um assunto que parece atender a esses critérios é a prevenção de pandemias.
Os pesquisadores do altruísmo eficaz defendem, desde 2014, que, dado o histórico de quase ocorrências, havia uma boa chance de que uma grande pandemia pudesse ocorrer ainda no nosso tempo de vida.
Mas, preparar-se para a próxima pandemia era, e ainda é, algo muito subfinanciado com relação a outras questões globais. Por exemplo, nos Estados Unidos essa iniciativa recebeu cerca de US$ 8 bilhões de investimento por ano, em comparação com cerca de US$ 280 bilhões por ano gastos no combate ao terrorismo numa década.3
É claro que evitar ataques terroristas é importante. Mas a escala desse problema parece ser menor. Por exemplo, apenas focando no número de mortes, nos últimos 50 anos, cerca de 500.000 pessoas foram mortas pelo terrorismo. Mas mais de 21 milhões de pessoas morreram apenas de covid-194, ou considere os 40 milhões mortos por HIV/AIDS.5
E uma futura pandemia poderia ser muito pior do que a de covid-19: não há como excluir o risco de uma doença futura mais infecciosa que a variante ômicron e tão mortal quanto a varíola. (Veja mais sobre a comparação na nota de rodapé 4.)
No altruísmo eficaz, quando se identifica um problema desprezado, a comunidade procura as soluções que têm uma chance fazer uma grande diferença e que são negligenciadas por outras pessoas que trabalham nesse problema, o que nos leva a…
Alguns exemplos do que tem sido feito
Em 2016, a Open Philanthropy – uma fundação inspirada no altruísmo eficaz – se tornou o maior financiador do Johns Hopkins Center for Health Security, que é um dos grupos que fazem pesquisas para identificar as melhores respostas políticas para pandemias, e foi um grupo importante na resposta à covid-19.6
Quando surgiu a covid-19, membros da comunidade fundaram a 1DaySooner, uma empresa sem fins lucrativos para defender os Testes de Desafios Humanos (mais conhecidos no Brasil como “Estudos de infecção humana controlada – EIHC”). Nesse tipo de teste de vacina, voluntários saudáveis são deliberadamente infectados com a doença, o que permite uma testagem quase instantânea da vacina. Como uma das únicas defensoras dessa intervenção, a 1DaySooner registrou mais de 30.000 voluntários7 e desempenhou um papel importante para iniciar o primeiro teste de desafio humano para a covid-19 no mundo. Esse modelo poderá ser replicado quando enfrentarmos a próxima pandemia.
Membros da comunidade do altruísmo eficaz ajudaram a criar o Programa Apollo de Biodefesa, uma proposta de muitos milhões de dólares destinada a evitar a próxima pandemia.
Fornecer provisões médicas básicas em países pobres
Por que esta questão?
É comum dizer que a caridade começa em casa, mas no altruísmo eficaz, a caridade começa onde mais podemos ajudar. E isso normalmente significa focar nas pessoas que são mais negligenciadas pelo sistema atual: em geral, aquelas que estão mais distantes.
Principalmente nos países mais pobres, mais de 700 milhões de pessoas vivem com menos de US$ 1,90 por dia.8
Por outro lado, um estadunidense perto da linha da pobreza vive com 20 vezes mais do que isso, e o estadunidense com ensino superior em média vive com 107 vezes mais do que isso. Isso os coloca entre os 1,3% das pessoas com maior renda, em termos globais.9 (Esses valores foram ajustados considerando que o dinheiro rende mais em países mais pobres).
A desigualdade global é extrema. Por isso, a transferência de recursos para as pessoas mais pobres no mundo pode fazer um bem enorme. Em países mais ricos como os Estados Unidos e o Reino Unido, em geral, os governos estão mais dispostos a gastar mais de US$ 1 milhão para salvar uma vida.10 Isso é muito válido, mas nos países mais pobres do mundo, o custo para salvar uma vida é muito mais baixo.
A GiveWell é uma organização que faz pesquisas aprofundadas para encontrar os projetos de saúde e desenvolvimento mais embasados em evidências e positivos em termos de custo-efetividade. Ela descobriu que, embora muitas intervenções de auxílio não funcionem, outras, como o fornecimento de mosquiteiros tratados com inseticidas, podem salvar a vida de uma criança gastando, em média, US$ 5.500. Isso é 180 vezes menos. 11
Essas intervenções médicas básicas são tão baratas e eficazes que mesmo os mais maiores céticos quanto ao auxílio concordam que elas são válidas.
Alguns exemplos do que tem sido feito
Mais de 110.000 doadores individuais têm usado as pesquisas da GiveWell’s para contribuir com mais de US$ 1 bilhão de dólares para as organizações recomendadas, apoiando organizações como a Against Malaria Foundation (Fundação Contra a Malária), que já distribuiu mais de 200 milhões de mosquiteiros tratados com inseticida. De forma coletiva, estima-se que esses esforços tenham salvado mais de 159.000 vidas12.
Além da caridade, é possível ajudar as pessoas mais pobres do mundo por meio dos negócios. A Wave é uma empresa de tecnologia fundada por membros da comunidade de altruísmo eficaz, que permite que as pessoas transfiram dinheiro para diversos países africanos de maneira mais rápida e muitas vezes mais barata do que por meio dos serviços comumente usados. É especialmente útil para migrantes que enviam dinheiro para suas famílias nos seus países de origem, e tem sido usada por mais de 800.000 pessoas em países como Quênia, Uganda e Senegal. Apenas no Senegal, a Wave ajudou seus usuários a economizar centenas de milhares de dólares em taxas de transferência: cerca de 1% do PIB do país.13
Ajudar a criar a área de pesquisa do alinhamento da IA
Por que esta questão?
As pessoas no altruísmo eficaz frequentemente acabam focando em questões que parecem contraintuitivas, obscuras ou exageradas. Mas isso ocorre porque é mais impactante trabalhar em questões que são negligenciadas pelos outros (todas as outras coisas sendo iguais), e essas questões serão (quase por definição) questões não convencionais. Um exemplo é o problema do alinhamento da IA.
A inteligência artificial (IA) está progredindo rapidamente. Os principais sistemas de IA agora são capazes de participar de uma conversa limitada, resolver problemas matemáticos a nível universitário, explicar piadas, gerar imagens extremamente realistas a partir de textos e fazer uma codificação básica14. Nada disso era possível dez anos atrás.
O maior objetivo dos principais laboratórios de IA é desenvolver uma IA que seja tão boa ou melhor do que os seres humanos em todas as tarefas. É extremamente difícil prever o futuro da tecnologia, mas vários debates e pesquisas de especialistas sugerem que é mais provável que essa proeza seja alcançada neste século do que não seja alcançada. E, de acordo com modelos econômicos paradigmáticos, quando a IA comum puder atingir o nível de desempenho dos humanos, o progresso tecnológico pode se acelerar enormemente.
O resultado disso seria uma transformação enorme, talvez de significado igual ou maior do que a revolução industrial nos anos 1800. Se tratada adequadamente, essa transformação pode trazer abundância e prosperidade para todos. Se tratada de maneira insatisfatória, pode resultar em concentração extrema de poder nas mãos de uma elite minúscula.
No pior caso, podemos perder o controle dos próprios sistemas de IA. Incapazes de governar seres com uma capacidade muito maior do que a nossa, nos veríamos com tanto controle sobre o nosso futuro quanto os chimpanzés têm sobre os deles.
Isso significa que este assunto poderia não apenas ter um impacto enorme nas gerações presentes, mas também nas gerações futuras. Isso o torna especialmente urgente, a partir da perspectiva do longotermismo (N.R.: também chamado de longoprazismo – definição em português aqui) uma escola de pensamento que sustenta que melhorar o futuro a longo prazo é uma prioridade moral fundamental de nosso tempo.
A maneira como podemos garantir que os sistemas de IA continuem a promover os valores humanos, mesmo que se tornem iguais (ou superiores) aos humanos na sua capacidades, denomina-se problema do alinhamento da IA, e resolvê-lo exige avanços na ciência da computação.
Apesar da sua possível importância histórica, apenas poucas centenas de pesquisadores trabalham neste problema, em comparação com as dezenas de milhares que trabalham para tornar os sistemas de IA mais poderosos.15
É difícil resumir o argumento em alguns parágrafos, então se você quiser explorar mais, recomendamos começar por aqui, aqui e aqui.
Alguns exemplos do que tem sido feito
Uma prioridade é simplesmente contar a mais pessoas sobre o assunto. O livro Superinteligência foi publicado em 2014, defendendo a importância do alinhamento da IA, e se tornou um campeão de vendas do New York Times.
Outra prioridade é construir uma área de pesquisa focada neste problema. Por exemplo, o pioneiro da IA, Stuart Russell, e outros inspirados pelo altruísmo eficaz, fundaram o The Center for Human-Compatible AI na Universidade da Califórnia em Berkeley. Esse instituto de pesquisa busca desenvovler um novo paradigma de desenvolvimento de IA, no qual o ato de promover os valores humanos seja central.
Outros centros ajudaram a iniciar equipes focadas no alinhamento da IA em grandes laboratórios de IA tais como a DeepMind e a OpenAI, e descrever pautas de pesquisa para o alinhamento da IA, em obras como Concrete Problems in AI Safety.
Acabar com as fazendas industriais
Por que esta questão?
As pessoas no altruísmo eficaz tentam ampliar seu círculo de preocupação, não apenas para aqueles que vivem em países distantes ou gerações futuras, mas também para os animais não humanos.
Quase 10 bilhões de animais nos EUA vivem e morrem em fazendas industriais a cada ano16, normalmente sem conseguirem se movimentar durante toda sua vida, ou são castrados sem anestesia.
Muitas pessoas concordam que não devemos fazer os animais sofrerem desnecessariamente; entretanto, a maior parte da nossa atenção é destinada a abrigos de animais de estimação. Ainda assim, nos Estados Unidos, cerca de 1.400 vezes mais animais passam por fazendas industriais do que abrigos de animais de estimação.17
Apesar disso, os abrigos de animais de estimação recebem cerca de US$ 5 bilhões por ano nos Estados Unidos, em comparação com apenas US$ 97 milhões para defesa para acabar com as fazendas industriais.18
Alguns exemplos do que tem sido feito
Uma estratégia é a defesa. A Open Wing Alliance, que recebe um financiamento significativo de financiadores inspirados pelo altruísmo eficaz, desenvolveu uma campanha para incentivar grandes empresas a se comprometerem a parar de comprar ovos de galinhas engaioladas. Até o momento, conseguiram mais de 2.200 compromissos, o que significa que mais de 100 milhões de aves foram poupadas das gaiolas19.
Outra estratégia é criar proteínas alternativas que, se forem mais baratas e saborosas do que a carne de fazendas industriais, podem fazer essa demanda desaparecer, acabando com as fazendas industriais. O Good Food Institute está trabalhando para dar um pontapé inicial nessa indústria, ajudando a criar empresas como a Dao Foods na China e a Good Catch nos EUA, encorajando os grandes negócios a entrar nessa indústria (incluindo a JBS, a maior empresa de carne do mundo) e garantindo dezenas de milhões de dólares de investimento governamental20.
A Open Philanthropy foi uma investidora pioneira da Impossible Foods, que criou o Hambúrguer Impossível: um hamburger totalmente vegano que tem sabor de carne e atualmente é vendido no Burger King.
Melhorar a tomada de decisão
Por que esta questão?
As pessoas que querem fazer o bem em geral preferem lidar com esse problema diretamente, pois é mais motivador ver os efeitos tangíveis das suas ações. Mas o que realmente importa é que o mundo se torne um lugar melhor, não que se faça com as próprias mãos. Então, as pessoas que aplicam o altruísmo eficaz muitas vezes tentam ajudar indiretamente, capacitando a outras pessoas.
Um exemplo disso é a melhoria da tomada de decisão. Ou seja: se os atores-chave — como políticos, líderes de empresas privadas e do terceiro setor ou doadores para organismos de financiamento — tomassem melhores decisões, a sociedade poderia estar em uma situação melhor para lidar com uma grande quantidade de problemas globais futuros, seja lá quais eles acabarem sendo.
Assim, se pudermos encontrar maneiras novas e negligenciadas de melhorar a tomada de decisão de atores importantes, isso pode ser uma forma de provocar um grande impacto. E parece que existem algumas soluções promissoras que poderiam alcançar isso.
Alguns exemplos do que tem sido feito
Muitos problemas globais são exacerbados por falta de informações confiáveis. A Metaculus é uma organização sem fins lucrativos que identifica assuntos importantes, tais como a possibilidade de a Rússia invadir a Ucrânia, agrega as previsões feitas por centenas de previsores e as pesa com base na sua precisão anterior. Em meados de janeiro de 2022, a Metaculus apontou que havia uma probabilidade de 47% de a Rússia invadir a Ucrânia, que passou para 80% pouco antes da invasão no dia 24 de fevereiro21, época em que muitos comentaristas, jornalistas e especialistas diziam que isso não ocorreria de forma alguma.
O Global Priorities Institute na Universidade de Oxford faz pesquisas fundamentais na interseção da filosofia e da economia para saber como os tomadores de decisões cruciais podem identificar os problemas mais prementes do mundo. Ele ajudou a criar uma nova área acadêmica de pesquisa de prioridades globais, criou uma pauta de pesquisa, publicou dezenas de artigos e ajudou a inspirar pesquisas relevantes em Harvard, na Universidade de Nova York (NYU), na Universidade do Texas em Austin, em Yale, Princeton, entre outras.
Que princípios unem o altruísmo eficaz?
O altruísmo eficaz não é definido pelos projetos acima, e o seu foco pode facilmente mudar. O que define o altruísmo eficaz são os valores que sustentam sua busca pela melhor maneira de ajudar os outros:
- Priorização: nossa intuição a respeito de fazer o bem normalmente não leva em consideração a escala dos resultados: ajudar 100 pessoas em geral nos deixa tão satisfeitos quanto ajudar 1.000. Mas, como algumas formas de fazer o bem também alcançam dramaticamente mais do que outras formas, é essencial tentar usar os números para pesar de um modo aproximado como diferentes ações podem ajudar. O objetivo é encontrar as melhores maneiras de ajudar, em vez de trabalhar para fazer uma diferença qualquer.
- Altruísmo imparcial: acreditamos que todas as pessoas têm o mesmo valor. É claro que é justo ter uma preocupação especial pela nossa própria família, amigos e nação. Mas, ao tentar fazer o maior bem possível, buscamos atribuir um peso igual aos interesses de todas as pessoas, independentemente de onde ou quando elas vivam. Isso significa focar nos grupos que são mais negligenciados, o que normalmente significa focar naqueles que não têm tanto poder para proteger seus próprios interesses.
- Busca aberta da verdade: em vez de começar pelo compromisso com uma causa, comunidade ou abordagem, é importante pensar em diversas maneiras diferentes de ajudar e tentar encontrar as melhores. Isso significa investirmos um tempo substancial em fazer deliberações e reflexões sobre as nossas próprias crenças, estarmos sempre abertos e curiosos por novas evidências e argumentos e estarmos prontos para mudar nossos pontos de vista muito radicalmente.
- Espírito colaborativo: é possível alcançar mais trabalhando juntos e para fazer isso de maneira eficaz é necessário atingir altos padrões de honestidade, integridade e compaixão. Altruísmo eficaz não significa apoiar o raciocínio de que “os fins justificam os meios”, mas em ser um bom cidadão, enquanto se trabalha ambiciosamente em direção a um mundo melhor.
Esses princípios não são absolutos e estão sujeitos à revisão, mas achamos que são importantes e subvalorizados pela sociedade em geral. Qualquer pessoa que aplique esses princípios ao tentar encontrar melhores modos de ajudar os outros está participando do altruísmo eficaz. Isso é verdade não importa quanto tempo ou dinheiro a pessoa queira doar ou em qual questão ela escolha focar.
O altruísmo eficaz pode ser comparado ao método científico. A ciência é o uso da razão e das evidências em busca da verdade, mesmo se os resultados forem pouco intuitivos ou mesmo contrários ao que diz a tradição. O altruísmo eficaz é o uso da razão e das evidências em busca das melhores maneiras de fazer o bem.
O método científico baseia-se em ideias simples (p. ex., que devemos testar nossas crenças), mas leva a uma imagem radicalmente diferente do mundo (p. ex.: a mecânica quântica). Da mesma forma, o altruísmo eficaz baseia-se em ideias simples (que devemos tratar as pessoas igualmente e que é melhor ajudar mais pessoas do que menos), mas também leva a uma imagem não convencional e sempre em evolução do fazer o bem.
Como você pode tomar uma atitude?
As pessoas interessadas no altruísmo eficaz em geral tentam aplicar as ideias em suas vidas da seguinte forma:
- Escolhendo carreiras que ajudem a enfrentar problemas prementes, ou encontrando maneiras de usar suas habilidades atuais para contribuir para a resolução desses problemas, p. ex., usando os conselhos do 80.000 Horas (N.R.: trata-se da tradução feita pela comunidade do Altruísmo Eficaz Brasil do Projeto original, o 80,000 Hours),
- Doando para organizações cuidadosamente escolhidas, p. ex., usando as pesquisas da GiveWell ou da Giving What We Can.
- Ajudando a construir comunidades que enfrentam esses problemas prementes.
Veja uma lista mais longa de maneiras de como agir.
É possível aplicar o altruísmo eficaz independentemente de quanto você queira focar em fazer o bem, e em qualquer área da sua vida; o importante é que, não importa o quanto você queira doar, seus esforços sejam movidos pelos quatro valores acima e que você tente tornar seus esforços o mais eficazes possível.
Normalmente, isso envolve tentar identificar problemas globais que sejam grandes e negligenciados, as soluções mais eficazes para esses problemas e maneiras como você pode contribuir para essas soluções, com qualquer tempo ou dinheiro que esteja disposto a doar.
Fazendo isso e pensando com cuidado, você pode descobrir que é possível ter muito mais impacto com esses recursos. Realmente é possível salvar a vida de centenas de pessoas ao longo da sua carreira. E juntando-se a outras pessoas na comunidade, você pode ter um papel na resolução das questões mais importantes que a civilização encara na atualidade.
Perguntas Frequentes
Quem criou este site e por quê?
Este site foi criado pelo Centre for Effective Altruism (CEA), uma organização filantrópica dedicada a construir e fomentar a comunidade do altruísmo eficaz. O CEA criou este site para ajudar a explicar e difundir as ideias do altruísmo eficaz.
Qual é a definição de altruísmo eficaz?
O altruísmo eficaz é um projeto que busca encontrar os melhores modos de ajudar os outros e colocá-los em prática.
Podemos, grosso modo, decompor o projeto do altruísmo eficaz em uma área de pesquisa que busca identificar as maneiras mais eficazes de ajudar outras pessoas e uma comunidade prática de pessoas que buscam usar os resultados dessa pesquisa para tornar o mundo melhor.
Uma pessoa pratica o altruísmo eficaz se participa de um ou outro desses dois projetos, isto é, se tenta encontrar maneiras mais eficazes de ajudar, ou destina alguns dos seus recursos às formas mais eficazes de ajudar descobertas até o momento.
O altruísmo eficaz, definido dessa forma, nada diz sobre o quanto uma pessoa deve doar. O importante é que ela use o tempo e o dinheiro que queira doar da maneira mais eficaz possível.
“Da maneira mais eficaz possível” significa tentar cumprir os quatro valores do altruísmo eficaz cobertos acima: (i) priorização – tentar pesar a escala dos efeitos de suas ações; (ii) altruísmo imparcial – tentar tratar os outros de forma igualitária; (iii) busca pela verdade – buscar constantemente novas evidências e argumentos; (iv) espírito colaborativo – agir com altos padrões de honestidade e amistosidade e assumir uma perspectiva comunitária.
O que se quer dizer por “ajudar os outros” ou “fazer o bem” dentro do altruísmo eficaz? Veja a próxima seção das perguntas frequentes.
Para obter uma definição mais precisa de altruísmo eficaz, leia o artigo A Definição de Altruísmo Eficaz.
O que se quer dizer por “fazer o bem” ou “ajudar os outros” no altruísmo eficaz?
O significado de “fazer o bem” é tema de grande debate e pesquisa dentro da comunidade, e essa comunidade inclui pessoas que têm pontos de vista morais muito diferentes.
Apesar disso, normalmente, no altruísmo eficaz, “fazer o bem” é entendido cautelosamente como algo que signfica permitir que mais pessoas tenham vidas que sejam saudáveis, felizes, plenas; de acordo com seus desejos; e livres de sofrimento evitável; ter vidas com um maior bem-estar.
O altruísmo eficaz tem esse foco porque aumentar o bem-estar é um objetivo que é importante para muitas pessoas. Isso não quer dizer que o importante seja apenas aumentar o bem-estar e, na prática, as pessoas no altruísmo eficaz têm muitos outros valores.
Uma vez que o que importa moralmente é muito incerto, as pessoas envolvidas no altruísmo eficaz buscam respeitar outros valores de ampla aceitação na sua busca por fazer o bem. O altruísmo eficaz não se trata do raciocínio de que “os fins justificam os meios”, mas de ser um bom cidadão, enquanto se trabalha ambiciosamente em direção a um mundo melhor.
Leia mais sobre como o 80.000 Horas – uma organização sem fins lucrativos que faz parte da comunidade – define “fazer o bem”, clicando aqui.
Para obter uma definição mais precisa sobre fazer o bem no altruísmo eficaz, veja A Definição de Altruísmo Eficaz, do filósofo e cofundador do Altruísmo Eficaz, William MacAskill.
Como começou o altruísmo eficaz?
O altruísmo eficaz foi formado quando diversas comunidades em todo o mundo se reuniram, incluindo a Giving What We Can e o Future of Humanity Institute em Oxford, a comunidade da racionalidade na Área da Baía de São Francisco e a GiveWell (na época em Nova York).
O termo “altruísmo eficaz” foi cunhado em 2011, em Oxford, como parte do nome do Centre for Effective Altruism (que hospeda este site [N.T.: o site original deste artigo]), mas pegou como um termo para descrever um movimento mais amplo.
Algumas das inspirações intelectuais do altruísmo eficaz são a medicina e a política baseadas em evidências, o utilitarismo aplicado e pesquisas sobre heurísticas e vieses no raciocínio humano.
Aqui está uma palestra sobre a história intelectual do altruísmo eficaz de Toby Ord e uma história do termo “altruísmo eficaz”.
Que recursos inspiraram as pessoas a se envolverem com o altruísmo eficaz no passado?
Alguns exemplos de recursos que têm inspirado as pessoas a se envolverem com o altruísmo eficaz (mas não necessariamente representam sua forma atual) incluem:
- Doing Good Better, livro de Will MacAskill (N.R: leia a tradução em português da Introdução.)
- Guia de carreiras do 80.000 Horas, de Benjamin Todd
- O Precipício, de Toby Ord (N.R: leia a tradução em português da Introdução e do Capítulo 2.)
- Taking Charity Seriously, de Toby Ord
- Our top charities, da GiveWell
- Rationality: A-Z, de Eliezer Yudkowsky
- Doing Good – A conversation with William MacAskill, de Sam Harris
- O porquê e o como do altruísmo eficaz TED de Peter Singer (legendas em português).
- A Criança se Afogando e o Círculo em Expansão de Peter Singer
- Sobre Importar-se, de Nate Soares
- The most important century, de Holden Karnofsky
- 500 milhões, mas nem mais um, de Jai Dhyani (N.R.: Texto em formato de animação, legendado em português.)
- An introduction to effective altruism, de Ajeya Cotra
- Libertação Animal, de Peter Singer
- Effective altruism: an introduction, podcast do 80.000 Horas
Por que o altruísmo eficaz é importante?
Resumindo:
- Um monte de pessoas querem fazer o bem.
- Algumas formas de fazer o bem alcançam muito mais do que outras (com a mesma quantidade de recursos).
- Essas diferenças não são amplamente conhecidas ou aplicadas.
Isso significa que, ao procurar por maneiras mais eficazes de fazer o bem, e torná-las amplamente conhecidas e aplicá-las, as pessoas interessadas em fazer o bem podem fazer muito mais para lidar com os problemas mais prementes do mundo.
Além do mais, isso pode ser atingido mesmo se a quantidade de recursos destinados a fazer o bem não aumentar.
O que as pessoas interessadas no altruísmo eficaz fazem na prática?
As pessoas interessadas no altruísmo eficaz trabalham em uma grande variedade de assuntos e projetos.
Por exemplo, Benjamin Todd estimou a seguinte distribuição de financiamento entre os assuntos em 2019:
Área de causa | US$ milhões por ano em 2019 | % |
Saúde Global | 185 | 44% |
Bem-estar de animais da pecuária | 55 | 13% |
Biossegurança | 41 | 10% |
Riscos potenciais da IA | 40 | 10% |
Políticas dos EUA de curto prazo | 32 | 8% |
Altruísmo Eficaz/ Racionalidade/ Priorização de Causas | 26 | 6% |
Pesquisa científica | 22 | 5% |
Outros riscos catastróficos globais (incluindo riscos climáticos extremos) | 11 | 3% |
Outros investimentos longotermistas | 1,8 | 0% |
Outros trabalhos curtotermistas (p. ex, mudanças climáticas de curto prazo, saúde mental) | 2 | 0% |
Total | 416 | 100% |
Em termos de como elas contribuem, muitas escolhem empregos com o objetivo de lidar com problemas prementes. Esses empregos abrangem todos os setores, incluindo instituições sem fins lucrativos e com fins lucrativos que procuram lidar com esses problemas, pesquisa acadêmica ou posições no governo ou em políticas.
Mais de 5.000 pessoas fazem o juramento de doar, por meio da Giving What We Can, 10% ou mais das suas rendas para organizações que acreditam serem a mais eficazes, e mais de 100.000 pessoas fizeram pelo menos uma doação com base nas recomendações da GiveWell.
Um mal-entendido comum é que o altruísmo eficaz se refere apenas a doação de dinheiro para organizações de saúde global ou a “ganhar para doar”. Mas os membros da comunidade apoiam muitas causas além da saúde global, apenas uma minoria está priorizando o ganhar para doar e o altruísmo eficaz se trata tanto de como usar seu tempo de forma eficaz quanto de como usar o seu dinheiro. Na verdade, a organização 80.000 Horas defende que, para muitas pessoas, suas decisões de carreira são mais importantes do que as decisões sobre aonde doar. Leia mais em “Mal-entendidos sobre o altruísmo eficaz”.
Veja exemplos de pessoas que praticam o altruísmo eficaz na próxima pergunta.
Quais são alguns exemplos de pessoas envolvidas com o altruísmo eficaz?
Veja alguns exemplos de:
- Pessoas que mudaram suas carreiras após conhecer o 80.000 Horas.
- Pessoas que fizeram o juramento da Giving What We Can.
O altruísmo eficaz diz que devo tornar “fazer o bem” o meu único foco na vida?
Não, o quanto focar em fazer o bem é uma decisão pessoal.
O altruísmo eficaz se trata de como usar os recursos que você quer destinar a fazer o bem da forma mais eficaz possível, não de quanto você deve focar em ajudar os outros em primeiro lugar.
O altruísmo eficaz normalmente inspira as pessoas a tornarem o fazer o bem um foco maior, porque percebem que é possível fazer mais bem do que elas pensavam.
Mas, para a maioria das pessoas na comunidade, fazer o bem é apenas um objetivo importante entre diversos objetivos morais e pessoais. Da mesma forma, enquanto alguns na comunidade doam 50% ou mais das suas rendas para a caridade, outros doam apenas 1%.
Sua decisão se baseará em parte nas suas opiniões morais e nas suas circunstâncias de vida. Muitos simplesmente não podem ter como foco principal em suas vidas ajudar os outros.
Mesmo se você quiser tornar o fazer o bem um foco principal da sua vida, fazer disso o seu único foco com frequência é contraproducente. Primeiramente porque o que importa moralmente é altamente incerto, e focar em um objetivo moral mal-definido excluindo todos os outros pode facilmente fazer mal. Segundo, ter um único objetivo não é bom para o psicológico da maioria das pessoas, o que provocar esgotamento, reduzindo seu impacto no longo prazo.
Porque as pessoas no altruísmo eficaz não focam em assuntos mais convencionais?
Uma consideração-chave para em qual o assunto devemos focar é como a sociedade aloca recursos atualmente. Se um problema importante já é amplamente reconhecido, então é provável que muitas pessoas já estejam tentando resolvê-lo. Isso significa que será mais difícil que algumas pessoas a mais que decidirem trabalhar nessa mesma questão tenham um impacto muito grande. Tudo o mais constante, é possível fazer um bem muito maior em uma área que não esteja obtendo a atenção que merece.
Uma maneira de pensar sobre isso é em termos de um “portfólio mundial”: qual seria a alocação de recursos ideal para todas as causas sociais? E qual é o ponto mais distante dessa alocação ideal?
É por isso que os assuntos que as pessoas no altruísmo eficaz priorizam podem parecer surpreendentes ou tacanhos. Elas focam sua atenção em assuntos que estão mais longe de obter a atenção de que precisam.
Isso significa que os assuntos nos quais a comunidade foca mudarão ao longo do tempo. Se mais pessoas se interessarem pelo altruísmo eficaz, então os assuntos que são foco hoje não serão mais negligenciados, e a comunidade mudará ou expandirá o seu escopo.
Onde as organizações inspiradas pelo altruísmo eficaz conseguem o seu financiamento?
Algumas organizações na comunidade são apoiadas por um grande número de doadores individuais eficazes. Por exemplo, mais de 110.000 doadores individuais usaram a pesquisa da GiveWell para contribuir com mais de US$ 1 bilhão para suas organizações filantrópicas recomendadas. Outras — incluindo o Centre for Effective Altruism, que produziu este site — são apoiadas em grande parte por organizações de concessão de financiamento inspiradas pelo altruísmo eficaz, como a Open Philanthropy. Concessões e doações podem variar muito em tamanho; o denominador comum entre eles é que esses doadores se preocupam profundamente em fazer o máximo possível de bem com suas doações.
Veja mais perguntas comuns sobre o altruísmo eficaz.
E depois?
Se você estiver interessado em descobrir como fazer um bem maior, compilamos as listas a seguir de alguns dos melhores recursos sobre o altruísmo eficaz:
Receba uma introdução ao altruísmo eficaz na sua caixa de e-mails (em inglês)
Assine aqui e enviaremos a você alguns e-mails sobre as ideias mais importantes do altruísmo eficaz, além de uma atualização mensal sobre as últimas pesquisas e projetos-chave na comunidade.
Notas
1. Você pode ver a distribuição global dos grupos de AE no Fórum sobre Altruísmo Eficaz, que lista grupos em mais de 70 países.
2. Quanto menos negligenciado é um assunto, mais terão sido adotadas as melhores oportunidades, e mais difícil será para uma outra pessoa exercer um impacto.
Na verdade, temos bons motivos para acreditar que os retornos sobre o investimento em um assunto sejam basicamente logarítmicos.
Os retornos logarítmicos implicam que se 10 vezes mais recursos tiverem sido investidos em uma causa se comparada a outra, então recursos extras atingirão cerca de 10% mais progresso.
Se os dois assuntos são igualmente importantes, e uma outra pessoa trabalha no mais negligenciado, teremos dez vezes mais impacto.
3. De 2010 a 2019, o Financiamento Federal Norte-Americano para Segurança da Saúde recebeu cerca de US$141 bilhões. Avaliamos que 55% disso foi gasto no que poderia evitar futuras pandemias. Por exemplo, 4% foi gasto enfrentando a contínua epidemia de ebola, que forneceu infraestrutura para outras possíveis pandemias. Entretanto, 17% foi gasto em ameaças de radiação química e nuclear de uma forma improvável de afetar a disseminação de pandemias futuras.
141 bilhões * 0,55 = 79 bilhões
Ao longo de um período de dez anos, temos US$8 bilhões por ano.
Federal funding for health security in FY2019 Watson, Crystal et al., Health security 16.5 (2018): páginas 281-303. Link arquivado, acesso em: 5 mar. 2020.
A Open Philanthropy também identificou outras fundações e filantropos que trabalhavam nesse assunto antes da pandemia da Covid, os quais acreditamos totalizar US$100 milhões em financiamento.
Crawford, diretor do projeto Costs of War, calcula que os Estados Unidos gastaram US$5,8 trilhões em contraterrorismo em 2001-2022.
5,8 trilhões / 20 anos = US$290 bilhões por ano.
United States budgetary costs of Post-9/11 wars Crawford, Neta C., Watson Institute for International & Public Affairs, Brown University, 2021. Link arquivado, acesso em: 26 jul. 2022.
4. As mortes por terrorismo entre 1970 e 2020 somaram aproximadamente 456.000. Dados obtidos da Global Terrorism Database 2020, acesso em: 11 ago. 2022.
Observe que Our World in Data relata que “O Global Terrorism Database é a base de dados mais abrangente atualmente disponível sobre ataques terroristas e que os dados recentes estão completos. Entretanto, com base nas nossas análises, entendemos que esses dados de longo prazo estejam incompletos (exceto para os Estados Unidos e Europa). Portanto, não recomendamos este conjunto de dados para inferir as tendências no longo prazo sobre a prevalência do terrorismo global.”
Isso significa que a fonte acima é provavelmente uma contagem aquém das mortes terroristas confirmadas (2010-2020) desde 1970. O número de mortes total seria ainda apenas de 1,2 milhões; muito menor do que o número de mortes pela pandemia.
Deaths from COVID-19:
O The Economist estimou um excedente acumulado de mortes por COVID-19 em 21,47 milhões até junho de 2022, e esse número ainda está aumentando.
Pode-se ver este dado e seu modelo no Our World in Data (página arquivada, recuperada em 28 jul. 2022).
Entendemos essa como a melhor estimativa atual do total de mortes por COVID-19. O número de mortes confirmadas é mais baixo, cerca de 6 milhões, mas ultrapassa o número de mortes provocadas indiretamente ou que não foram relatadas. A metodologia do The Economist compara o número excedente de mortes com a média periódica, para estimar no total quantas outras pessoas morreram e ajustar as subnotificações.
As mortes provocadas tanto pela pandemia quanto por terrorismo têm uma cauda pesada, portanto, as taxas de morte anteriores normalmente subestimarão a magnitude do risco.
Por exemplo, é possível que os terroristas lancem uma arma nuclear em uma grande cidade, o que poderia matar mais de 1 milhão de pessoas. Isso não aconteceu nos últimos cinquenta anos, mas teria sido a principal causa da taxa de mortalidade se tivesse ocorrido. Da mesma forma, poderia ter ocorrido uma pandemia muito pior do que a COVID-19 ou a HIV/AIDS nos últimos 50 anos.
A questão chave então é se o registro histórico é uma subestimação do risco de terrorismo ou de pandemia (ou seja, se as mortes por terrorismo têm uma cauda mais pesada do que as mortes por pandemia).
Parece plausível que o pior cenário da pandemia seja pior do que o do terrorismo. Não há nada que possa excluir o surgimento de uma pandemia mais infecciosa do que a COVID-19, mas com uma taxa de fatalidade de 10-50%, ou pior. E parece ter ocorrido outros quase-acidentes no registro histórico.
Então, o problema de eventos com falta de cauda na amostra pode ter sido pior para a pandemia do que para o terrorismo. Na verdade, a maneira mais plausível para o terrorismo matar mais de 1 milhão de pessoas é, provavelmente, por meio de uma pandemia.
Dado que o terrorismo recebe aprox. 100 vezes mais financiamento do que a prevenção a pandemias, enquanto parece que, historicamente, a pandemia tenha provocado 10 a 100 vezes mais mortes, as correções deveriam ser bem mais pesadas em favor do terrorismo para que a alocação de recursos atual pareça mais equilibrada.
A análise acima foi feita em termos de número de mortes, pois essa é uma métrica importante, mas relativamente bem mensurável. As mortes tanto por pandemia quanto por terrorismo também produzem custos indiretos importantes, e uma comparação ampla precisaria considerar a escala relativa de cada uma delas.
5. “40,1 milhões [33,6 milhões a 48,6milhões] de pessoas morreram de doenças relacionadas à AIDS desde o início da epidemia.” Global HIV & AIDS statistics — Fact sheet UNAIDS, 2022. Link arquivado, acesso em: 11 ago. 2022.
6. A Open Philanthropy é uma fundação inspirada no altruísmo eficaz. Inicialmente, fundou-se o Johns Hopkins Centre for Health Security (CHS) em 2016. A esse, seguiram-se diversas outras grandes dotações, inclusive uma de US$16 milhões em 2017 e outra de US$19,5 milhões em 2019.
7. 38.659 voluntários, desde 7 de julho de 2022. 1Day Sooner
8. Antes da COVID-19, o número de pessoas que viviam com US$1,90 ou menos por dia havia sido reduzido para 689 milhões em 2017. Entretanto, estimativas atuais apontam para o primeiro aumento nas taxas de extrema pobreza desde 1998, o que levou a uma estimativa de 731 milhões de pessoas que hoje vivem com menos de US$1,90 por dia.
UN SDG 1 – End poverty in all its forms. UN Statistics, 2022. Link arquivado, acesso em: 26 jul. 2022.
Essas estimativas foram ajustadas considerando que o dinheiro rende mais em países pobres (paridade do poder de compra). São muitas as complicações dessas estimativas, mas fica claro que centenas de milhares de pessoas vivem próximo ao nível de renda de subsistência. Veja “Como se pode conhecer com precisão a distribuição global de renda?” se quiser aprender mais sobre isso.
9. A linha da pobreza para uma pessoa nos EUA é ter uma renda anual de US$13.590.
13,590 / 365 = US$37,23 por dia.
Isso é 20 vezes mais do que a linha da pobreza internacional de US$1,90, que é ajustada conforme a paridade do poder de compra.
De acordo com o Censo de 2019, trabalhadores em tempo integral com idades entre 25 e 65 anos e nível universitário ou mais ganham em média US$74.000 por anos.
US$74.000 / 365 = US$202,7 por dia
US$202 / 1,9 = 107 vezes.
De acordo com o SmartAsset, uma pessoa com renda de US$74.000 antes dos impostos que viva em Nova York, recebe cerca de US$53.000 após deduzidos os impostos.
De acordo com os cálculos do Giving What We Can, uma renda de US$53.000 após a dedução dos impostos coloca a pessoa entre as 1,3% pessoas com as maiores rendas mundialmente.
10.O National Institute for Health and Care Excellence do Reino Unido recomenda um gasto de £30.000 por ano de vida ajustado pela qualidade (QALY) ganho, onde a intervenção é confiável.
“Acima de uma taxa incremental custo-eficácia (ICER) mais plausível de £30.000 por QALY ganho, os órgãos de aconselhamento precisam oferecer uma defesa muito mais forte para apoiar uma intervenção como o uso eficaz dos recursos na NHS” Methods for the development of NICE public health guidance. National Institute for Health and Care Excellence do Reino Unido, Set. 2012. Link arquivado, acesso em: 28 jul. 2022.
Na saúde global, é comum ouvir dizer que salvar uma vida equivale a 30 QALYs. Fonte: World Bank (Box 1.1)
Isso leva a um custo para salvar uma vida de 30 x £30.000 = £900.000 = $1,1 milhão.
Nos EUA, diferentes agências globais estimam “o valor da vida”, e usam esses números para priorizar projetos de investimentos. Em 2020, a Federal Emergency Management Agency estimou o valor de uma vida em US$7,5 millhões. Esta estimativa tem flutuado com base no contexto. Por exemplo, em 2014, o US Department of Transport estimou o valor da vida entre US$5,2 milhões e US$13,0 milhões.
11. A estimativa da GiveWell” do custo para salvar uma vida tem variado ao longo do tempo (dependendo das suas pesquisas, e das oportunidades disponíveis), mas tem ficado entre US$2.500 e US$7.500. Em 2021, a GiveWell estimou que US$5.500 gastos em distribuição de mosquiteiros tratados com inseticida salvarão uma vida em média.
Você pode ver as estimativas mais atualizadas na análise custo-eficaz total: How We Produce Impact Estimates GiveWell, July 2022. Link arquivado, acesso em: 28 jul. 2022.
12. “Mais de 110.000 doadores confiaram na GiveWell para investir suas doações. Juntos, eles doaram mais de US$1 bilhão às organizações que recomendamos. Essas doações salvarão mais de 150.000 vidas e fornecerão auxílio pecuniário de mais de US$175 milhões para os pobres no mundo.” About GiveWell, GiveWell, Jul. 2022. Link arquivado, acesso em: 28 jul. 2022.
13. “Quando a Wave foi lançada no Senegal, nossa média de transferência tinha um custo de 3 a 5 vezes mais se fosse feita por meio dos maiores sistemas de transferência monetária da época. Multiplicado por nossos milhões de usuários ativos ao mês, isso alcança uma economia de mais de US$200 milhões por ano, … cerca de 1% do PIB do Senegal.»
Working at Wave is an extremely effective way to improve the world. Ben Kuhn, o jul. 2021. Link arquivado, acesso em: 26 jul. 2022.
14.Conversa: “Nosso melhor modelo integral Meena atingiu a … pontuação SSA (Média de Sensibilidade e Especificidade) de 72%… nossa pontuação SSA de 72% não está longe dos 86% alcançados por pessoas comuns.” Towards a Conversational Agent that Can Chat About…Anything. Adiwardana et. al., Google, 28 jan. 2020. Link arquivado, acesso em: 28 jul. 2022.
Matemática: Os gráficos no artigo anexo mostram que as respostas corretas do Minerva do Google estão acima de 50% dos “problemas de competições de matemática no ensino médio”. Outros modelos estado-da-arte alcançavam uma precisão de menos de 10%.
Minerva: Solving Quantitative Reasoning Problems with Language Models. Dyer et. al, Google, 30 Jjun. 2022. Link arquivado, acesso em: 28 jul. 2022.
Piadas: O AI PaLM do Google pode oferecer explicações sobre piadas nunca contadas antes, inclusive de piadas que não estejam disponíveis na internet. Por exemplo:
“Piada: Você viu que o Google acaba de contratar uma baleia falante para a equipe de TPU? Ela mostra a eles como se comunicar entre dois pods diferentes!
Explicação: TPUs são tipos de chips de computador que o Google usa para aprendizagem profunda. Um pod é um grupo de TPUs. Um pod também é um grupo de baleias. A piada é que as baleias podem se comunicar entre dois grupos de baleias, mas o falante está interpretando que a baleia pode se comunicar entre dois grupos de TPUs.”
Pathways Language Model (PaLM): Scaling to 540 Billion Parameters for Breakthrough Performance. Narang et. al., Google, 4 abril 2022. Link arquivado
Imagens: Imagens que exemplificam a OpenAI’s Dall-E 2 podem ser vistas aqui.
Codificação: A Seção 3.1 no artigo de pesquisa de Equipe de Vendas em‘A Conversational Paradigm for Program Synthesis‘ sobre CodeGen, suas ferramenta de IA transformando instruções humanas em códigos, descreve que o CodeGen alcança 75% da pontuação do HumanEval. Isso significa que ele resolve 75% dos desafios de programação descritos com linguagem humana comum no conjunto HumanEval.
15. É difícil estimar o número de pesquisadores focados em determinado assunto pois é difícil definir, pra início de conversa, o trabalho de muitos pesquisadores em múltiplos assuntos, e é difícil conhecer as limitações para ser um pesquisador”. Assim, esses números devem ser entendidos como uma estimativa para um fator de três ou mais, e podem estar fora de uma ordem de magnitude, dependendo de algumas interpretações da questão.
Em 2020, 87.000 autores publicaram pesquisas de IA no arXiv. O Relatório Mundial de Talentos de IA 2020 sobre as estimativas de Elementos de IA tem ainda mais pessoas do que o trabalho de desenvolvimento global em IA, contando com 155.000 pessoas registradas nas mídias sociais como trabalhadores em pesquisa ou engenharia de IA. Entretanto, entendemos que algumas pessoas que trabalhem em engenharia de IA não estejam alocadas na engenharia de novos avanços em IA. Pegamos a menor estimativa de 87.000 e a reduzimos à metade, chegando a uma estimativa de 40.000.
Em 2021, a Gavin Leech estimou que 270 a 830 pessoas FTE trabalhavam em Segurança de IA. Entretanto, o topo deste intervalo de estimativa baseia-se no que pensamos ser uma noção muito ampla do que constitui a pesquisa em alinhamento de IA, e uma grande parte da soma foi direcionada para agregar tempo de muitos pesquisadores que destinam uma pequena fração do seu tempo à pesquisa de segurança, enquanto nosso objetivo é quantificar o número de pesquisadores focados em segurança de IA.
A AI Watch tentou contar o número de pesquisadores em IA, e encontrou 160 pesquisadores notórios em Segurança de IA. Isso inclui muitas pessoas que não publicaram sobre segurança de IA em mais de uma no, embora para os 87.000 estimados acima, todos publicaram no ano passado. Por outro lado, os limites para ser um pesquisador notável podem ser muito mais altos do que publicar na arXiv.
Nossa estimativa final é que 300 pesquisadores estejam focados em segurança de IA.
16. Em 2018, 9,56 bilhões de animais de fazenda foram abatidos para produção de carne nos EUA. Esse número já deve ter aumentado desde então. Isso inclui 9,16 bilhões de galinhas, 237 milhões de perus, 125 milhões de porcos, 34 milhões de gado e 2 milhões de ovelhas. Fonte: visualizada em Nosso Mundo em Dados, usando dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
17. Em 2021, aproximadamente 6,5 milhões de animais passaram por abrigos de animais nos EUA. Em 2011, este número era de 7,2 milhões. Assumindo-se que houve uma redução constante, isso significa que, em 2018, aproximadamente 6,7 milhões de animais passaram por abrigos.
9,56 bilhões/ 6,7 milhões = 1427 vezes o número de animais em pecuária industrial.
Estatísticas de Animais de estimação. American Society for the Prevention of Cruelty to Animals, 2021. Link arquivado, acesso em: agosto de 2021.
18. Gastos com abrigos de animais:
Andrew Rowan calculou em US$5 bilhões os financiamentos nas 3000 principais organizações de abrigo de animais dos EUA em 2018, publicado neste artigo “Cat Demographics & Impact on Wildlife in the USA, the UK, Australia and New Zealand: Facts and Values” Rowan et. al. (2020), Journal of Applied Animal Ethics Research, pages 7–37.
Andrew Rowan confirmou os dados por trás desses cálculos em correspondência conosco.
Financiamento para defesa de animais de fazenda:
Pesquisas da Open Philanthropy publicadas aqui mostram os seguintes financiamentos para grupos de defensa de animais e fazenda em 2018:
– US$32,3 milhões para grupos Formalizados no EUA (PETA, PCRM, HSUS, ALDF, ASPCA)
– US$32,6 milhões para grupos novos e grandes nos EUA (CIWF, WAP, RSPCA, HSI)
– US$32,2 milhões para todos os outros grupos nos EUA
32,3 + 32,6 + 32,2 = US$97,1 milhões
19. 106,5 milhões de galinhas estão atualmente em locais livres de gaiolas apenas nos EUA, desde maio de 2022, conforme relatado pelo Panorama de Mercados de Ovos da USDA, comparado com 17 milhões em 2016. Acreditamos que outras 100 milhões já estão livres de gaiolas na Europa como resultado do trabalho da Open Wing Alliance, embora esse número seja mais difícil de atribuir aos europeus.
Além disso, defensores garantiram compromissos corporativos que, se implantados, devem alcançar mais de 500 milhões de galinhas em breve.
20. Após se engajar com a GFI, o governo dos EUA anunciou uma concessão de US$10 milhões para a criação de um centro de excelência em agricultura celular na Universidade Tufts. A National Food Strategy, entidade independente do Reino Unido, recomendou o investimento de £125 milhões em pesquisa e inovação sobre proteínas alternativas. Fonte: GFI Year in Review 2021 (página 3)
21. A linha do tempo completa dessas previsões pode ser encontrada no Metaculus.
Esta obra é licenciada pela Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0
Publicado originalmente em 20 de março de 2020 aqui.
Autor: EA Handbook
Tradução: Sátia Marini
Revisão: Leo Arruda, Fernando Moreno e Luan Marques