Leandro Franz é economista, escritor e wannabe vegano. É autor dos livros “A Pequena Princesa” (Ed. Letramento), “No Útero de Paulo, o Embrião não Nascerá” (Ed. Penalux) e “120 dias de Corona” (Ed. Letramento) – este último lançado agora em 2022.

Bradesco, Kafka e o serial killer de gatos

O Bradesco lançou na semana passada (final de 2021) uma campanha de sustentabilidade com algumas dicas. Além de baixar o aplicativo do banco para calcular a pegada de carbono, sugeria que os clientes participassem da famosa campanha “Segunda sem Carne”. Com isso, um dia a menos por semana, ajudariam no combate ao aquecimento global reduzindo sua pegada de carbono. O banco não pediu para ninguém virar vegano, não citou nada sobre sofrimento animal. Era apenas uma ideia que os clientes não comessem carne na segunda-feira. Uma campanha já conhecida globalmente. Mas, no mesmo dia, representantes da pecuária protestaram nas redes sociais afirmando ser absurda aquela recomendação. O que era para ser uma simples campanha de conscientização virou uma amostra da força da pecuária na sociedade brasileira. É um dos setores mais representativos do PIB, nem um banco tradicional como o Bradesco conseguiu segurar a bronca. Os assassinatos e a crueldade com animais vão continuar. Os gritos vão continuar. E precisamos abrir os olhos e ouvidos. No livro de Murakami, Kafka à beira-mar, a única maneira de Nakata impedir que Johnnie mate sua amiga felina Mimi é ele matando antes o serial killer. Na vida real, a única maneira é com campanhas de conscientização tanto dos consumidores como da indústria. A indústria da carne não precisa se assustar, apenas se adaptar aos novos tempos, fazer uma transição da produção para proteínas vegetais (que muitas já estão fazendo), tudo isso é possível. A procura por alimentos “plant based” tem aumentado, a população está começando a enxergar, a indústria também precisa acelerar o passo na transição. Daqui a 20 ou 30 anos, vão se envergonhar de lutar contra, então, para que esperar mais? A indústria pode caminhar junto com a demanda da população, mas também impulsioná-la com alimentos cada vez mais sustentáveis e sem crueldade com animais.

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