Matar um cão com martelada na cabeça é uma crueldade gigantesca. Mas se o cão passou a vida livre em um gramado, se jogando na lama, se divertindo ao sol, recebendo vento no rosto, o cão ao menos teve uma vida boa. Você, que pagou o sequestrador e assassino do frigorífico de cães, pode comer sua picanha de pastor alemão tranquilo, você foi violento só na martelada final.
Mas e a vida da cadela? Ela também leva a mesma martelada final. Nisso, seu sofrimento está empatado com o do cão. Antes disso, porém, passa a vida sendo engravidada à força (sabe o que é ser engravidada à força?, um animal humano levanta o rabo da cadela, enfia a mão lá dentro e…), são 7 ou 8 filhos que ela é forçada a trazer ao mundo. Aí a força acaba, seu corpo enfraquecido não consegue mais produzir leite para novos frutos dos estupros anuais, e o sequestrador dá a martelada final e come sua carne de poodle suculento.
Calma, o sofrimento ainda não terminou. A cadela sofre mais que o cão, pois todo o leite que produz para seu filho, que é sequestrado e morto dias após nascer, todo esse leite precisa ser sugado à força das tetas. Então, três vezes por dia ela é chutada para dentro de um galpão, amarrada a máquinas e tem seu leite roubado.
Enquanto o cão está passeando no pasto, ela está presa a máquinas, com as patas traseiras amarradas, e é esvaziada como um objeto qualquer enquanto se lembra do filho sequestrado. Ela chora por dias por esse filho, depois de carregá-lo no útero por quase um ano, mas isso não importa mais, a cadela labradora vai ser forçada a terá seu leite roubado por máquinas diariamente até a próxima gravidez brutalmente forçada.
O pudim leva o leite com todo o histórico da golden retriever que foi explorada por anos. A picanha só leva o sangue do pug, só o choro final que ele soltou no paredão, quando via e ouvia seus amigos labradores sendo mortos, enquanto ele esperava na fila, aguardando em desespero quando chegaria sua vez.
Ok, essas cenas estão estranhas, ninguém faz pudim com leite de cadela. Culturalmente não chegamos a esse ponto (foi sorte?). O exemplo usando cães foi para aproximar sua empatia, querido leitor vegetariano. Substitua por bois e vacas agora e releia o trecho. Perdeu um pouco o choque, né? Por quê? Qual o motivo de você não ter compaixão pelas vacas? Elas são quase tão inteligentes, carinhosas, inocentes e dóceis como seu pet.
Ficou convencido de que comer pudim é uma crueldade muito maior do que comer churrasco? Ainda não concorda que é um crime mais violento e com mais agravantes?
Vamos desenhar então… Da Infoescola [com meus comentários nos colchetes] “São tipos comuns de circunstâncias agravantes:
- reincidência – repetir ato já cometido no passado [estupro anual da vaca e roubo diário de seu leite]
- motivo fútil ou torpe – o motivo é interpretado como repugnante, idiota, sem necessidade [o pudim não é alimento, é sobremesa. Nesse caso, a picanha tem um motivo menos fútil]
- ocultação – aqui, o ponto central é o cometimento de um crime para assegurar que outro ocorra [o estupro da vaca para garantir a possibilidade de roubar seu leite, matando o filho, claro, porque o leite seria dele]
- traição ou emboscada – traição é a condução a erro; já emboscada é o ataque realizado de surpresa, impossibilitando reação [olhe no olho de uma vaca]
- meio cruel – emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel [se o boi é criado livre no pasto, como a maioria no Brasil, a crueldade mesmo vem mais no final da vida]
- covardia – cometer crime contra criança, maior de sessenta anos, enfermo ou mulher grávida” [covardia contra cães, gatos e outros seres dóceis e inocentes como qualquer outro animal não humano deveriam entrar aqui, né?]
Meu prezado leitor ainda não está convencido? Tudo bem, porque na receita do pudim ainda tem outra vítima inocente brutalmente torturada: a galinha.
A vida da galinha poedeira também é pior que a do frango. A vida da galinha poedeira é também pior que a vida da vaca. Ea vive em uma cela do tamanho de uma folha A4, tem seu corpo forçado a colocar 300 ovos por ano (naturalmente, seu corpo está preparado para colocar 1 por mês, imagina o estado da cloaca após 300 ovos, imagina a dor a cada ovo botado?), praticamente não vê a luz do sol, vive respirando sua própria urina e fezes (e se queima com ela pois não tem como ir para outro lugar), convive com galinhas mortas ao lado, não consegue nem abrir as asas nem caminhar.
O ovo do pudim deveria ser o símbolo máximo desse crime hediondo que cometemos contra animais não humanos. A visão de uma picanha mal passada, sangrando no espeto de um rodízio, é MENOS (MUUUITO MENOS!) violenta que aquele pedaço de pudim que o vegetariano pede feliz da vida de sobremesa.
Não entendo os vegetarianos que pensam o contrário. Que parte da equação de crueldade estou perdendo para me aterrorizar mais com a carne que com o leite e o ovo?
Sim, surpresa!, esse texto não é direcionado a comedores de carne, mas comedores de leite e ovo. E, principalmente, comedores de leite e ovo que acham horrível comer carne, que abominam essa violência da picanha. Comedores de leite e ovo que se importam com a crueldade imposta aos animais.
Queridos vegetarianos comedores de leite e ovo, que tal voltar a comer carne e finalmente abandonar a crueldade do pudim? Façam essa troca e vocês estarão financiando menos tortura e violência contra animais.
Somos todos viciados em carne, ovo, leite e derivados. Eu ainda sou e continuo (1 vez por mês) comendo essa crueldade. É difícil parar, concordo com vocês. Acho que em mais alguns meses consigo. Minha sugestão é que vocês também comecem abandonando as maiores crueldades, não a menor.
Mantenham um pouco de carne durante a transição, mas cortem a zero o sangue, o choro e toda uma vida de tortura e desespero que vocês financiam ao comprar um pudim.
Comam bois e frangos (daqueles criados livres) para tentar reduzir o choque na transição. Mas parem assim que possível a tortura de vacas leiteiras e galinhas poedeiras que vocês financiam. Elas agradecem.
Leandro Franz é economista, escritor e wannabe vegano. Seus últimos livros são “A Pequena Princesa” (Ed. Letramento), “No Útero de Paulo, o Embrião não Nascerá” (Ed. Penalux) e “Por toda vida, Carolina” (e-book Amazon).