Por Bill e Melinda Gates
Nacionalismo é uma palavra que temos ouvido com mais frequência atualmente. É também uma das palavras mais carregadas de sentido em nossa política do século XXI. Embora signifique coisas diferentes para pessoas diferentes (e carreguem diferentes conotações e insinuações), em sua essência, o nacionalismo é a crença de que a primeira obrigação de um país é consigo mesmo. Acho que muitos de nós concordam com essa ideia central.
Amamos nosso país. Acreditamos naquilo que ele representa. Concordamos que nossos líderes têm o dever de protegê-lo. E, por todas essas razões, consideramos nosso engajamento com as questões globais nosso dever patriótico.
Nós não estamos sozinhos. Você deve se lembrar que, nas duas vezes em que a Casa Branca ameaçou fazer cortes profundos no orçamento de ajuda externa dos EUA, algumas das vozes que protestaram com mais força vieram de membros do Congresso e de líderes militares dos EUA que argumentaram que esses investimentos são vitais para proteger os interesses americanos.
A razão pela qual países como os EUA investem em ajuda externa é que isso aumenta a estabilidade no exterior e, por consequência, a segurança em casa. O fortalecimento dos sistemas de saúde no exterior diminui a chance de um patógeno mortal como o Ebola se tornar uma epidemia global. Garantir que todos pais, em toda parte, tenham a oportunidade de criar seus filhos em segurança, educados e saudáveis, torna menos provável que eles embarquem em viagens desesperadas para buscar uma vida melhor em outros lugares.
Colocar seu país em primeiro lugar não implica uma exigência em dar as costas ao resto do mundo. O mais provável é que o oposto é verdadeiro.
Vamos defender esse ponto várias vezes nos próximos anos, porque este é um momento crucial na saúde global e um tipo de abordagem “solitária” pode causar um grande revés.
Em 2019, os governos precisarão se comprometer novamente com o financiamento do Fundo Global (Global Fund), um dos maiores esforços de saúde do mundo. E a Gavi, a Aliança Pelas Vacinas, precisará arrecadar dinheiro em 2020.
É difícil explicar o quanto esses projetos fizeram bem para o mundo. Desde 2002, quando foi criado para combater a AIDS, tuberculose e malária, o Fundo Global e seus parceiros salvaram 27 milhões de vidas. Desde 2000, A Gavi fornece vacinas para mais de 690 milhões de crianças. É como vacinar quase todas as pessoas na Europa.
Esses resultados são surpreendentes. Eles mostram o que é possível alcançar quando agimos visando a saúde e o bem-estar dos mais pobres. Também é incrivelmente custo-eficaz: os países ricos gastam apenas cerca de 0,1% de seus orçamentos em ajuda humanitária na área da saúde.
Mas me preocupo que os países ricos estejam se voltando para dentro e fiquem com uma visão tão limitada de seu próprio interesse que eles decidirão que esses esforços não valem os custos. Ou que, mesmo que todos concordem, em princípio, que a ajuda humanitária é importante, a polarização política será tão forte que os impedirão de agir.
Isso seria um desastre. Hoje, mais de 17 milhões de pessoas vivendo com HIV recebem remédios do Fundo Global. Sem ele, elas irão morrer.
Essa é uma das razões pelas quais Melinda e eu estamos sempre contando sobre as histórias de sucesso. Numa época em que polêmicas parecem dominar as manchetes todos os dias, queremos lembrar às pessoas que a vida está melhorando para milhões de pessoas nos países mais pobres do mundo graças, em parte, a investimentos inteligentes na área de saúde. Mesmo que você se preocupe apenas com o bem-estar de seus concidadãos, esses investimentos são coisas extremamente inteligentes para se fazer. O progresso beneficia a todos.
Publicado originalmente em 12 de fevereiro de 2019.
Fonte: https://www.gatesnotes.com/2019-Annual-Letter
Tradução: Fernando Moreno