Caridade com milhas, imposto de renda e usando o ribon
A melhor coisa que faço com minhas milhas é doar cestas básicas.
Ainda lembro a época em que as pessoas checavam compulsivamente sites de viagens até conseguir uma promoção para Fernando de Noronha por 10000 milhas (mesmo que fosse no inverno do ano seguinte); meu sonho era conseguir um desses cartões de crédito especiais para acumular mais pontos. Mas o dólar alto impede o proletariado de viajar — e, claro, estamos no meio duma pandemia. Outro problema é a inflação do programa: quando você ganha ou compra milhas, aumenta a base monetária do programa de fidelidade, sem aumentar a oferta de serviços — o que leva a um aumento dos preços (em milhas). Quanto mais acumulamos milhas, menos elas valem em relação às passagens, então menos elas são usadas, e mais se acumulam…
Pessoalmente, resolvi o problema trocando milhas por doações. Por exemplo, uma cesta básica para uma família, por um mês, doada pela Amigos do Bem, custa 2780 pontos no Multiplus (programa de fidelidade da Latam); considerando a cotação de R$20–25 por 1000 milhas no Maxmilhas, o meu “custo” presente dessa doação é de menos de R$70. Uma cesta básica custa R$360 no Alagoas — R$520 no Rio. Escolhi esse exemplo porque é fácil de medir seu valor — mas há outras intervenções, como consultas médicas e cursos. O mesmo funciona para o Smiles (da Gol) e o Livelo (do Banco do Brasil) — que inclusive permite doar para ações para mitigar os efeitos da pandemia.
[Claro, um altruísta eficaz-raiz pode considerar vender as milhas e depois doar o dinheiro para a Against Malaria Foundation (AMF); mas eu tento evitar custos de transação]
Além disso, uma vez por ano, tenho a sensação agradável de tirar 6% do imposto de renda devido ao Leão e doá-lo para a Saúde Criança, através do site do Funcriança da Prefeitura de Porto Alegre. O Alysson tem um vídeo explicando melhor como.
Por último, uma ideia interessante, que não entendo como ainda não foi copiada, é a do app Ribon; quando preciso relaxar alguns segundos, ao invés de ver uma foto de comida no Instagram, o Ribon me mostra uma notícia positiva (“Pesquisadores criam máscara biodegradável”) e, com o patrocínio de uma empresa, converte isso em doações (cujo destino posso escolher). Com esse esquema, já doaram mais de 50 mil dólares a caridades da The Life You Can Save.
[Meu projeto secreto é fazer um app semelhante, mas de “sinal trocado”, mostrando notícias terríveis que ninguém olha, como a página de eventos atuais da wikipedia — olha, Ebola voltou ao Congo (RDC)! Só não encontrei nenhuma empresa que queira associar a imagem a isso; talvez tente fabricantes de armas, frigorífico, cigarros…]
Não é exatamente o mesmo que Ganhar para Doar, mas são maneiras simples de otimizar meu impacto — de fazer algo de que me orgulhe, sem muito esforço ou custo. O tipo de coisa que compensa aqueles dias em que não se faz nada que valha a pena lembrar.
Autor: RAP
Revisão: Fernando Moreno