A vida econômica dos pobres

“The Economic Lives of the Poor” (ou “A Vida Econômica dos Pobres) é um artigo de 2007 dos ganhadores do Nobel de 2019[1] Abhijit Banerjee e Esther Duflo. Ele descreve os resultados de pesquisas domiciliares de pobres (que ganham menos de US$2,16 por dia de acordo com a PPC em dólares de 1993) e extremamente pobres (menos que US$1,08 por dia de acordo com a PPC em dólares de 1993) realizadas na Costa do Marfim, Guatemala, Índia, Indonésia, México, Nicarágua, Paquistão, Panamá, Papua Nova Guiné, Peru, África do Sul, Tanzânia e Timor Leste. A seguir temos um resumo desse artigo que destaca as afirmações mais importantes e surpreendentes. Eu me foco na parte descritiva do artigo e omito a segunda parte, que investiga alguns quebra-cabeças econômicos concomitantes.

Arranjos de moradia

Famílias extensas são comuns entre os extremamente pobres, com uma moradia em média abrigando entre sete e oito moradores. A população tende a ser jovem, sendo que as pessoas com mais de 51 anos representam apenas um quarto (25%) das pessoas entre 21 e 50 anos. (Nos EUA a razão é de 60% ao invés de 25%).

Gastos

Alimentação e outras aquisições para consumo

Gastos com comida normalmente representam entre metade e três quartos do orçamento. Gastos com álcool e tabaco variam de entre cerca de 1 por cento a cerca de 8 por cento. A média das residências extremamente pobres em Udaipur gasta 10 por cento do seu orçamento em festivais, mas o gasto com cinema, teatros e shows é menos de 1 por cento.

Propriedade de bens

Propriedade de terra entre os extremamente pobres varia de 4 por centro no México a 99 por cento em Udaipur. Contudo, os lotes em questão costumam ser pequenos — menos que três hectares — e de baixa qualidade.

“Em Udaipur, onde temos dados detalhados de bens, a maioria das residências extremamente pobres têm uma cama, mesmo que estreita e improvisada, mas somente cerca de 10 por cento têm uma cadeira ou um banquinho e 5 por cento têm uma mesa. […] Nenhuma tem telefone.”

Saúde e bem-estar

Em uma pesquisa conduzida com uma amostra de pessoas da Índia, os 10% mais pobres consumiam 1400 calorias por dia, em média. Sessenta e cinco por cento dos adultos em Udaipur têm um IMC que os classifica como abaixo do peso e 55 por cento são anêmicos.

Entre 11 e 46 por cento (dependendo do país) dos extremamente pobres relataram que estiveram de cama por pelo menos um dia no último mês.

“Por mais que os pobres certamente se sintam pobres, seus níveis auto relatados de felicidade ou níveis auto relatados de saúde não são particularmente baixos (Banerjee, Duflo & Deaton, 2004). Por outro lado, eles de fato relatam estarem sob muito estresse, tanto financeiro quanto psicológico.”

Investimento em educação

Gastos com educação são geralmente bastante baixos porque escolas primárias costumam ser gratuitas. Em 12 dos 13 países examinados, pelo menos 50 por cento das crianças extremamente pobres (idades de 7 a 12 anos) estavam na escola.

Ganhos

Trabalhos por dia, autoemprego na agricultura e empreendedorismo de pequena escala fora da agricultura são todos comuns. Na verdade, muitos pobres têm múltiplas ocupações (possivelmente uma forma de reduzir riscos).

“Surpreendentemente, quase 10 por cento do tempo médio residencial [pesquisa em Bengala Ocidental] é gasto em conseguir combustível, seja para uso em casa ou para vender.”

Mercados

Crédito

De 11 a 93 por cento (dependendo do país) das residências rurais e extremamente pobres têm dívidas excepcionais. O crédito é normalmente de fontes informais o os juros são geralmente acima de 3 por cento ao mês. Os juros altos refletem altos custos fixos e não altos riscos de inadimplência.

Poupança

Contas de poupança são geralmente incomuns. Nestes casos, o microcrédito pode servir como uma espécie de substituto com o benefício de haver alguém que imponha a economia externamente (isto é, o credor demanda que se pague de volta, o que pode ser mais fácil que se forçar a economizar).

Seguro

Menos que 6 por cento dos extremamente pobres possuem plano de saúde. A princípio, membros da comunidade podem informalmente cobrir uns aos outros contra uma variedade de riscos, mas isso funciona melhor para riscos idiossincráticos e não para, por exemplo, uma seca que afete a vila inteira.

Terra

Apesar da posse da terra ser relativamente comum, registros de posse não são tanto. Isso dificulta a venda ou hipoteca. Muitas vezes os pobres trabalham em terra que pertence a outros, o que reduz os incentivos para o máximo de esforço.

Infraestrutura

“A disponibilidade de infraestrutura física para os pobres como eletricidade, água encanada e mesmo saneamento básico (como acesso a uma latrina) varia enormemente entre os países. Na nossa amostra de 13 países, o número de residências rurais pobres com acesso à água encanada varia de nenhuma em Udaipur a 13 por cento na Guatemala. O acesso à eletricidade varia de 1,3 por cento na Tanzânia a 99 por cento no México. A disponibilidade de latrinas varia de nenhuma em Udaipur a 100 por cento na Nicarágua. Diferentes tipos de infraestrutura nem sempre aparecem juntas.”

A qualidade das instalações de saúde para os pobres tende a ser baixa, com funcionários em uma amostragem ausentes 35 por cento do tempo. Em um certo estudo amostral um painel de especialistas descobriu que, em média, o tratamento sugerido pelo prestador de saúde era mais provável que causasse mal do que bem. A mortalidade infantil entre os extremamente pobres no meio rural varia de 3,4 por cento na Indonésia a 16,7 por cento no Paquistão.

Instalações educacionais simplesmente estão faltando. Descobriu-se que professores em uma amostra estavam ausentes 19 por cento do tempo. Uma pesquisa nacional na Índia descobriu que 22 por cento das crianças da sexta a oitava série não sabiam ler um texto da segunda série, e que 65,5 por cento das crianças entre 7 e 14 não sabiam fazer divisões.

[1] Sim, sim, todo mundo sabe que Prêmio em Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel do Sveriges Riksbank é um Nobel falso.

Texto original aqui: https://ea.greaterwrong.com/posts/mcfiP8E5TLKf7ADQ8/the-economic-lives-of-the-poor#fnref-PraNAh3Ti7R3pynMf-2

Tradução de Bruno Gabellini.

Revisão por Fernando Moreno.

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