Altruísmo Empolgante

Os críticos do altruísmo eficaz se preocupam com o fato de estarmos tentando escolher causas com base em cálculos sobre como ajudar o mundo o máximo possível, e não com base nas causas que nos animam. Eles se preocupam, portanto, que não nos tornemos totalmente envolvidos ou comprometidos com as causas que escolhemos. ( Mais sobre isso aqui )

Eu penso que essas pessoas interpretam mal o altruísmo eficaz. Eu acho que eles imaginam que nós temos paixões por algumas causas pessoais e que estaríamos tentando submergir nossas paixões a serviço da racionalidade. Esse não é o caso. Pelo contrário, o altruísmo eficaz é aquilo pelo qual estamos apaixonados. Ficamos empolgados com a ideia de aproveitar ao máximo nossos recursos e assim ajudar aos outros o máximo possível.

Este post tem por foco minha própria atitude em relação ao altruísmo eficaz, embora eu acredite que o que será dito seja amplamente compartilhado por muitos outros no movimento.

Em poucas palavras: tentar maximizar o bem que realizo com minhas horas e meu dinheiro é um desafio intelectualmente envolvente. Faz minha vida parecer mais significativa e mais importante. É uma maneira de tentar ter impacto e significado para além da minha vida diária. Em outras palavras, isso atende ao tipo de necessidades não materiais que muitas pessoas têm.

O altruísmo eficaz não prioriza o intelecto sobre a emoção

Quando considero quais causas em particular acho interessantes, não consigo responder à pergunta “Quão empolgado estou com essa causa?” sem fazer perguntas como “Quão importante é essa causa?” e “Essa causa já está lotada de outros financiadores?” Ao longo da minha vida, minha empolgação ao trabalhar em um problema esteve diretamente relacionada ao quão “negligenciado” o problema parecia ser (relativamente à sua importância). Eu tinha dificuldade em manter o interesse em uma causa se achasse que poderia fazer mais bem ao mundo mudando para uma outra causa.

Não estou aqui descrevendo como eu “deveria” pensar ou “tentar” pensar. Estou descrevendo o que me empolga. As causas que considero que são mais “sub-investidas” e o processo geral de encontrá-las é o que me faz sair da cama de manhã animado para ir trabalhar. Foi essa empolgação que motivou os pioneiros que começaram a GiveWell e acredito que eu não conseguiria ser tão motivado ou colocar tanto esforço em qualquer outro projeto.

Altruísmo Eficaz não é sobre sacrifício

Fico sempre um pouco desanimado quando vejo pessoas ligadas ao altruísmo eficaz sendo caracterizadas como “altruístas” ou “sacrifícadas”. Falando por mim e por Elie: não nos consideramos extraordinariamente “altruístas” e não houve nenhum sacrifício envolvido em criar a GiveWell. Comparado a quando trabalhávamos no setor financeiro, achamos nosso trabalho atual mais interessante, mais empolgante, mais motivador e melhor para conhecer pessoas com as quais temos fortes conexões, o que facilmente compensa os menores salários que não afetaram em muito nosso estilo de vida. Não posso falar por pessoas como Jason Trigg ou Julia Wise e Jeff Kaufman , mas o post mais recente de Julia Wise nos faz crer que ela vê o altruísmo como uma fonte de alegria, não como algo pelo qual sua alegria é trocada.

Para quem estiver tentado a me responder: “Eu simplesmente não acredito que as pessoas possam ficar empolgadas com algo assim”, eu responderia que há uma gama muito ampla de coisas pelas quais as pessoas ficam empolgadas, muitas das quais parecem estranhas para quem está de fora. Isso vale para interesses casuais (observação de pássaros, coleção de selos, determinados esportes) e também interesses mais sérios, incluindo uma ampla variedade de valores e práticas religiosas e espirituais. Alguns vêem o altruísmo eficaz mais como um hobby enquanto outros o vêem como um valor religioso ou espiritual (ou implícito em seus valores religiosos ou espirituais); independente do caso, essas pessoas estão envolvidas na prática muito comum de ter um interesse que vai além da vida cotidiana e suas necessidades imediatas. Não há absolutamente nada de incomum em se importar muito com tais interesses; desistir de algumas coisas tangíveis por causa de tais interesses; e usar das capacidades intelectuais e de raciocínio na busca de tais interesses.

Às vezes, os atletas falam sobre “dar 110% de si” ou “darem o máximo de si em campo” — eles não ficarão satisfeitos com seus esforços se sentirem que não fizeram tudo que podiam. Sinto-me de forma similar quanto a seleção estratégica de causas. Se eu deixasse passar a oportunidade de fazer o bem porque tal oportunidade não apela aos meus interesses pessoais pré-existentes ou porque ela envolve muito raciocínio abstrato, eu sentiria como se tivesse falhado em “dar o meu máximo”.

Note que isso não significa que estou disposto a desistir de tudo o que valorizo e desfruto pelo altruísmo eficaz — não estou. Mas quando estou envolvido em atividades orientadas ao altruísmo, quero estar totalmente engajado.

Eu espero que o movimento do altruísmo eficaz cresça

Até agora, fiquei um pouco surpreso com quão poucas pessoas parecem compartilhar meu interesse no altruísmo eficaz. Muitas pessoas querem ajudar aos demais e muitas aplicam grande parte de seu intelecto e de sua paixão ao fazê-lo, mas poucas parecem estar se fazendo a pergunta: “Em que problema devo trabalhar para ter o maior impacto positivo possível?”

Mas meu palpite é que mais pessoas farão essa pergunta com o passar do tempo. Acredito que haja tendências bastante robustas em cada uma das seguintes áreas:

  • O mundo está se tornando mais rico. Muitos de nós são capazes de satisfazer com tranquilidade nossas próprias necessidades materiais.
  • O mundo está se tornando mais desigual. As diferenças entre os privilegiados e os desfavorecidos estão atingindo níveis que parecem nos compelir a ação.
  • O mundo está melhorando em sua capacidade de transmitir informações. Mais do que nunca, temos as ferramentas para saber quão privilegiados somos, para saber quais ações estão disponíveis para serem tomadas, para classificar as informações disponíveis e para tomar decisões bem informadas. Também temos as ferramentas para transferir nossos recursos pelo mundo com alta eficiência e precisão.

Hoje, qualquer pessoa com cem reais de que podem dispor podem aprender o quanto são relativamente afortunados , aprender sobre suas muitas opções para fazer a diferença e assim agir de modo realmente significativo e impactante. Em tal mundo, espero que um número crescente de pessoas faça a pergunta: “Como posso aproveitar ao máximo esta oportunidade?” E espero que elas o façam não a partir de um sentimento de culpa e obrigação, mas de um sentimento de auto-realização e empolgação.

Escrito por Holden Karnofsky para o Blog da GiveWell

Traduzido por Fernando Moreno.

Traduzido de: https://blog.givewell.org/2013/08/20/excited-altruism/

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