O desenvolvimento das tecnologias de informação levou a uma maior disponibilidade de informações (muitas vezes não confiáveis) e facilitaram enormemente sua disseminação. Mais que isso: tornaram também mais fácil manifestar a insatisfação e aos insatisfeitos se coordenarem através de redes sociais.
A sociedade em rede é um termo já tornado clássico na sociologia. A sociedade em rede, se caracterizaria pela “mudança na sua forma de organização social, possibilitada pelo surgimento das tecnologias de informação num período de coincidência temporal com uma necessidade de mudança econômica(a globalização das trocas e movimentos financeiros) e social(a procura de afirmação das liberdades e valores de escolha individual e iniciada com os movimentos estudantis de Maio de 68)”. (Fonte).
No livro “The Revolt of The Public and the Crisis of Authority in the New Millennium”, se comenta sobre uma mudança na relação entre a expressão da vontade popular com o Estado. Graças a maior conectividade a população estaria mais disposta a expressar insatisfações e agora teria melhores meios para fazê-lo.
Seu autor, Martin Gurri, sugere que os governos necessitarão ser o mais transparente possível para com os cidadãos, e deverão dirigir-se aos seus governados como colaboradores mais que como “subordinados”.
Aqui cabe um parêntese nosso: há, é claro, sempre a possibilidade de se optar por governar com mão-de-ferro, caso o consenso democrático passe a perder força diante do risco populista ou da eventual admiração pelo boom econômico apresentado pelas ditaduras de partido único. Contudo, as recentes dificuldades que a China tem sofrido com Hong Kong podem estar demonstrando o esgotamento deste tipo de resposta numa sociedade altamente conectada. Esse tipo de resposta também levaria a perda da capacidade de coordenação da sociedade do modo mais eficiente possível, inclusive no combate a pandemias e catástrofes similares, como detalhadamente argumentamos em nosso texto sobre “Ditaduras e Pandemias”.
Numa análise mais sociológica, podemos estar vendo o fim definitivo da “sociedade de massas”, dado que é cada vez mais fácil a grupos dentro da população se conhecerem, organizarem, e atuarem politicamente de modo coordenado, com menor necessidade de intermédio das instituições tradicionais, como partidos e sindicatos.
Acreditamos ser possível que a formação de lideranças hoje seja mais e mais independente de seus canais convencionais. Líderes podem se formar ou se fortalecer a despeito da mídia tradicional e de maior ou menor apoio partidário. Inclusive vemos isto nas lideranças populistas que justamente se aproveitam de vácuos no espaço de representação tradicional.
Autores: Caio Freire e Fernando Moreno