Como as pessoas se matam varia enormemente dependendo de quais meios estão mais facilmente disponíveis. Nos Estados Unidos, o suicídio por arma de fogo se destaca. Em Hong Kong, onde a maioria das pessoas vive em prédios altos, saltar deles é mais comum. E em alguns países da Ásia e África com muitas comunidades agrícolas pobres, o principal meio é bebendo pesticidas.
Há uma boa chance de você nunca ter ouvido falar desse problema antes. E, no entanto, das 800 mil pessoas que se matam globalmente a cada ano, 20% morrem de auto-envenenamento por pesticidas. Pesquisas sugerem que a maioria das pessoas que tentam se matar com pesticidas reflete a decisão por menos de 30 minutos e que menos de 10% daqueles que não morrem pela primeira vez tentarão novamente.
Infelizmente, a taxa de mortalidade por ingestão de pesticidas é de 40% a 70%.
Ter produtos químicos tão perigosos perto das casas das pessoas é, portanto, um enorme problema de saúde pública, não só para as vítimas diretas, mas também para os parceiros e as crianças que deixam para trás.
Felizmente, pesquisadores como a Dra. Leah Utyasheva descobriram uma maneira muito barata de reduzir significativamente as taxas de suicídio de pesticidas.
Em 2016, Leah co-fundou a primeira organização focada neste problema — O Centro de Prevenção ao Suicídio por Pesticidas(The Centre for Pesticide Suicide Prevention) — que recentemente recebeu uma doação de incubação da GiveWell. Ela é especialista em direitos humanos e especialista em reforma legais, tendo participado na elaboração de diversas formulações de lei que dizem respeito à promoção dos direitos humanos, igualdade de gênero e legislação contra a discriminação em vários países da Europa e do Canadá.
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Índice
Alguns destaques da entrevista:
No Sri Lanka, a taxa de suicídio aumentou dramaticamente após a introdução de pesticidas altamente perigosos na agricultura — como resultado da revolução verde na década de 1960. A taxa de suicídio aumentou de cinco por 100.000 pessoas para 24 por 100.000 pessoas em 1976, e atingiu um pico de 57 incidentes para 100.000 pessoas em 1995.
Então, este é um aumento impressionante nas taxas de suicídio. E você pode ver uma correlação direta com o aumento no uso de pesticidas. Então, quando meu colega, o Prof. Michael Eddleston e o controlador de pesticidas naquela época perceberam essa tendência, eles pensaram que “qual tipo de intervenção poderia ajudar?”. Assim, de 1984 a 2011, muitos pesticidas foram proibidos no Sri Lanka. Em 1994, os inseticidas mais tóxicos Parathion e Metil Parathion foram banidos. Infelizmente, ainda morriam muitas pessoas por outros pesticidas altamente perigosos que começaram a ser usados como substitutos.
Quando cinco outros pesticidas altamente perigosos foram banidos, o rápido aumento do suicídio parou., Infelizmente outro pesticida, Endosulfan, muito tóxico, foi substituído como meio de suicídio. No entanto, quando esse também foi banido em 98, e outros pesticidas de classe dois foram banidos em 2008 a 2011, a taxa de suicídio no Sri Lanka caiu significativamente. Assim, de 57 instâncias para uma população de 100.000 em 95, caiu agora para 17. E esta é uma redução de 70% na taxa de suicídio. Então, este é um sucesso muito significativo, e esta é a maior diminuição da taxa de suicídio já vista.
Redução de danos
A estratégia que estamos empregando pode ser definida como de redução ou minimização de danos. Então, o que isso significa é que, em vez de tentar dizer às pessoas, “não cometa suicídio”, que também é, é claro, uma declaração justa, queremos reduzir o dano quando as pessoas ainda seguem em frente e tentam se matar.
Uma estratégia de minimização de danos foi desenvolvida por William Haddon, chefe da autoridade de administração de tráfego dos EUA, que observou na década de 60 que os acidentes de trânsito nos Estados Unidos aumentaram assim como a fatalidade desses acidentes. O que ele sugeriu foi uma abordagem radicalmente nova do problema. Ele propôs que, em vez de dizer às pessoas que parem de sofrer acidentes e se tornem melhores motoristas, “aceitemos que os acidentes de trânsito ocorrem, mas vamos minimizar os danos deles”. O interior de um carro era uma armadilha da morte anteriormente — ele decidiu redesenhar o interior do carro. Desse modo, quando o acidente de trânsito acontecesse, não seria mortal para uma pessoa.
Ele projetou o volante para que não furasse a pessoa, mas que simplesmente colapse e não cause muito dano ao motorista. E o mesmo aconteceu com o capô do carro, que se tornou flexível, sendo que antes ele cortaria o motorista ao meio. Esta é a abordagem de minimização de danos que também estamos defendendo.
Custo eficácia
Eu vejo que salvar alguém do suicídio é muito similar a salvar alguém de uma doença ou de um acidente de trânsito, por exemplo. Eu não acho que isso é diferente — estamos prevenindo danos à saúde e à vida de um ser humano. E o fato de que muitas pessoas decidem não se matar se forem impedidas de se suicidar é muito importante. Estas são apenas pessoas vulneráveis, que, no momento da crise suicida, têm essa substância horrível junto a elas. É por isso que essa substância horrível deve ser removida de sua proximidade. Algumas pessoas nessa situação tomariam álcool, mas algumas pessoas que talvez tenham muitos outros estresses no momento da crise decidem buscar os meios mais drásticos.
Então, acho que isso não é diferente de qualquer outra intervenção que salva vidas e melhora a saúde. Por exemplo, salvar alguém ou ajudar alguém no caso de uma doença não transmissível levará anos e anos. Melhores hábitos, mais exercícios, menos álcool etc. Nossa ação é extremamente custo-eficaz, porque você apenas remove a substância e a pessoa pode viverá uma vida saudável para sempre, não tentando o suicídio de novo.
Esse texto é um resumo traduzido de:
https://80000hours.org/2018/03/leah-utyasheva-pesticide-suicide-prevention/