Semana 12
O frango da Sadia não é feliz. Ele nem tem bico nem pode mexer suas asas.Ele fica preso amontoado junto com outros milhares, jogado em caixas pra lá e para cá.
A vaca da Milka não é feliz. Ela vê seu filhinho sequestrado no primeiro dia e morto para carne de vitela. E ela logo é estuprada para engravidar de novo.
O porco da JBS não é feliz. Ele é mais inteligente que seu cachorrinho, mas obrigado a viver em uma jaula apertado com outros até morrer com olhos e gargantas queimadas em uma câmara de gás.
O boi do McLanche feliz não é feliz. Ele foi acorrentado, arrastado, golpeado, tentou fugir do tiro na cabeça, chorou pedindo misericórdia
Isso não é um ataque às marcas, é só… o que é. É a realidade que vivemos. É o que demandamos para nosso prato, foi como construímos a indústria na interação de oferta e demanda. A produção não vai parar, nem é possível mudar tudo do dia para a noite.
O frango da Sadia, a vaca da Milka, o porco da JBS, o boi do McDonalds não são felizes. Os trabalhadores dessas empresas talvez não sejam tão felizes também, terceirizamos para eles o trabalho de escutar o desespero e ver o sangue desses animais.
Como um boi que chora e pede clemência para não morrer pode ser feliz?
Isso não é um ataque às marcas, é só transparência. E é um convite para mudarmos juntos.
Sabem o que é feliz? Um boi vivo vendo você comer um hambúrguer plant-based. Um frango poupado da degola vendo você comer um nugget de shitake. Uma vaca com seu filhinho vendo você beber leite de aveia.
A população não vai parar de comer carne tão cedo. E, vocês empresas, já estão buscando alternativas plant-based. Conforme a demanda for aumentando, mais otimizada será a produção, os custos ficarão mais baixos, mais pessoas terão acessos às alternativas sem sofrimento animal.
Vamos tratar essa indústria com a seriedade que merece. Retirem seus animais alegres de suas embalagens de produtos. Isso é bem triste, é “creepy” até. Esses animais foram enjaulados, torturados e degolados. O sangue desses animais espirrou pelas paredes do abatedouro e no rosto dos funcionários.
Mantenham cores divertidas, formas geométricas e infantis, o que quiserem. Mas retirem os animais felizes das propagandas e embalagens. Passem isso para suas linhas plant-based. Essa mudança de mentalidade só depende de vocês. É uma ação fácil e rápida, depende de 15 minutos de uma reunião.
A caixa da carne de jaca desfiada pode ter um frango feliz. A do hambúrguer de grão de bico pode ter um boi feliz. A do leite de aveia pode ter a vaca feliz. Cada leite de aveia bebido é a vida de um bezerro poupada, é uma mãe de bezerro feliz.
Esse texto não é um ataque às marcas. É só um pedido: vocês não são criminosas. Nós consumidores é que somos. Nós terceirizamos a violência para vocês e ainda demandamos preços baixos.
Ajudem-nos a ter respeito por todos os cadáveres que comemos. Não nos confundam com imagens fofinhas de animais. Eles choraram, pediram para viver, tiveram medo, frio, solidão, dor, desespero.
Não precisam mostrar os vídeos que evitamos ver. Mas não nos iludam com animais felizes. Transfiram-nos para suas linhas veganas ou plant-based. Incentivem-nos a experimentar essas novas possibilidades, a fazer uma segunda sem carne, uma quinta sem leite ou queijo animal. Criem campanhas, vocês são criativas.
Busquem sobriedade e seriedade nas embalagens e no marketing de produtos com sacrifício de animais. Não vamos parar de comê-los. Mas não é algo feliz, é só um vício cultural e mental que, aos poucos, vamos reduzir.
Se focarem no marketing feliz e divertido e colorido e inspirador nas suas linhas plant-based, sabem quem ficará feliz? Os animais. A felicidade é vegana e já passou da hora de nos darmos conta disso.
Leandro Franz é economista, escritor e wannabe vegano. Seus últimos livros são “A Pequena Princesa” (Ed. Letramento), “No Útero de Paulo, o Embrião não Nascerá” (Ed. Penalux) e “Por toda vida, Carolina” (e-book Amazon).