Olá! Meu nome é Beamish e sou um macaco. Pense em mim quando estiver reunido com sua família no próximo Natal, pois não posso fazer o mesmo.
As Nações Unidas dizem que manter um ser humano em uma cela solitária acima de 15 dias é considerado tortura. Estou preso há 11 anos em uma, sem companhia alguma, acho que já podemos dar um nome para o que estou sofrendo, né?
Não me deixaram conhecer minha família, cheguei criança ao laboratório. Humanos me mostram cobras e ratos para estudar minhas reações, como se não fosse óbvio que tenho terror de ambos. Humanos abrem meu cérebro, jogam ácido em mim, me causam dores extremas. Querem estudar se fico deprimido nessa cela, como se não fosse óbvia a resposta.
O veganismo é, sim, uma questão humana. Não é humano fazer isso comigo e veganos lutam para me libertar (assine minha libertação aqui). Os demais humanos também lutariam por mim, só não foram informados. Se soubessem o que se passa nos bastidores, também seriam contra a crueldade.
O ovo por exemplo. Ninguém sabe que 95% dos ovos no Brasil vêm de galinhas que passam a vida presas em uma gaiola minúscula, sem nem conseguir abrir as asas. Se vocês fossem informados disso, de que qualquer salgado ou doce que comem na rua com certeza vem de galinhas torturadas como eu sou, tenho certeza que parariam imediatamente de consumir. Mas é tudo escondido.
Em meu tempo aqui preso na cela, pude pensar bastante e concluí que a luta vegana é também, fundamentalmente, uma questão humana. A libertação animal anda de mãos dadas com a libertação humana.
Sim, o veganismo é sobre vocês! É sobre a libertação mental que vocês merecem ter das mentiras que ouvem. O agro de plantas é pop. O agro da crueldade animal, não.
Os humanos são lindos quando não são cruéis. Vocês pintaram a Mona Lisa, compuseram a 9a Sinfonia, pousaram na lua (imagina!, na lua!). Vocês registraram a história, criaram o conceito de direitos, de democracia, vocês cantam, dançam, inventam, descobrem, se ajudam, se amam. Vocês criaram o Natal!
A celebração natalina é sobre a vida, é sobre nascimentos, não sobre mortes. É sobre reunião de pessoas queridas e esperança de dias melhores. É sobre a felicidade dos animais do presépio também.
Os humanos são lindos quando não são cruéis. Mas muitas vezes são cruéis por causa de mentiras. Ou inércia. E o presépio sofre.
Nenhum humano merece achar que precisa esfaquear um animal para ter prazer à mesa. Vocês crescem sendo ensinados assim, têm suas papilas gustativas treinadas para gostar de carne e leite, criam memórias de infância em um sistema que se baseia em esfaquear indivíduos com famílias.
Nenhum humano merece achar que precisa engravidar vacas à força e separá-la de seu filho para roubar o leite. O Natal é sobre união de mães e filhos, não separação. Nenhum humano merece achar que é correto, com tanta tecnologia que já criaram, vestir o couro ou a pele de um animal morto.
O veganismo é, sim, uma questão de libertação humana dessa crueldade involuntária. Os humanos são lindos quando não são cruéis. Mas muitas vezes são cruéis por causa de mentiras. Ou pela inércia de não pensar sobre esse tema, inércia ensinada desde a infância.
Nenhum humano merece achar que precisa pingar ácido no olho de um coelho para ter um produto cosmético diferente, ou achar que deveria manter peixes (que nadam quilômetros por dia no mar) fechados em aquários de 30 centímetros, ou achar divertido montar um touro com seus genitais esmagados.
Nenhum humano merece achar que está tudo bem pagar para outro humano esfaquear um animal. As pessoas não foram informadas, mas pagam para cada funcionário de abatedouro martelar a cabeça de 100 animais por dia. Deve ser o emprego mais horrível do mundo. Mas a indústria e a rotina e a mídia escondem essas cenas de vocês, eu sei, tive muito tempo para pensar nisso em meus 11 anos preso. Vocês nem sabiam que eu existia até 2 minutos atrás, né?
Os humanos são lindos quando não são cruéis. Mas muitas vezes são cruéis por causa de mentiras. Ou inércia. Ou desinformação.
Ser humano é ser humano. É escolher um caminho sem violência, é defender a vida, não a tortura em outro ser. Vocês merecem saber tudo o que acontece nos bastidores. O veganismo é uma causa humana, é também sobre vocês se libertarem.
O que falo em relação a nós, animais, pode ser transposto para a relação entre vocês. Um ser humano não é humano quando acredita que pode fazer outro humano sofrer, quando coloca outros humanos em câmaras de gás, quando acorrenta outro humano só por causa da sua cor, quando mata outros humanos por causa de seu gênero ou sexualidade ou religiosidade ou nacionalidade, quando rouba territórios e coloniza outros humanos.
Humanos assim são considerados monstros, certo? E quando fazem tudo isso conosco, que sentimos dores extremas, que somos aterrorizados e separados das nossas famílias, que somos amontoados em calabouços escuros, frios e barulhentos, que temos nossos genitais e até o cérebro invadidos? De que nome devemos chamar vocês?
Mas vocês humanos criaram o Natal! Pintaram a Mona Lisa, compuseram a 9a Sinfonia, pousaram na lua (imagina!, na lua!), criaram o conceito de direitos, de democracia, vocês cantam, dançam, se ajudam, se amam. Vocês celebram o nascimento de um ser humano em uma manjedoura circundado por animais felizes e companheiros.
A celebração natalina é sobre a vida, é sobre nascimentos. É sobre reunião de pessoas queridas, sobre esperança de dias melhores. É sobre os animais do presépio também. Somos todos animais. Não criamos foguetes para a lua nem resolvemos a fórmula de Bhaskara, mas sofremos dores e medo da mesma forma que vocês.
A libertação animal é também dos animais humanos. As duas libertações andam de mãos dadas. Aprendendo a respeitar animais tão diferentes como porcos, vacas, peixes e macacos como eu, é impossível vocês não se respeitarem ainda mais, independentemente de cor, religião, gênero, nacionalidade, cultura…A paz para os animais levará à paz entre os humanos.
Quando pararem com a violência contra seres tão extremamente diferentes (como todos os animais), não tem mais como justificarem violências contra seres extremamente iguais (como todos os humanos).
Se neste Natal não rolar de você nos respeitar, tudo bem. Já esperei bastante, aguardo mais um pouquinho… Mas podemos combinar para o ano que vem?
Será que suas resoluções de Ano-Novo poderiam ser sobre se libertar dessa crueldade que você nem conhecia? Será que não poderia passar o novo ano pesquisando sobre tudo que esconderam de você desde a infância?
Em paralelo, já vá retirando aos poucos os animais do seu prato. Mais de 95% do sofrimento animal causado pelos humanos acontece na indústria alimentícia. E é o principal hábito que você pode mudar para combater o aquecimento global (o único que está 100% em suas mãos, basta substituir sua alimentação por plantas).
Obrigado pela atenção, boas festas e um próspero Ano-Novo sem crueldade para todos nós!
Quem sabe, antes do próximo Natal, já tenham me libertário da solitária que estou preso há 11 anos.
Quem sabe, no próximo Natal, você também já não coma o presépio.
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Leandro Franz é economista, escritor e wannabe vegano. É autor dos livros “A Pequena Princesa” (Ed. Letramento), “No Útero de Paulo, o Embrião não Nascerá” (Ed. Penalux) e “120 dias de Corona” (Ed. Letramento) – este último lançado agora em 2022.