O mercado de ações caiu na mesma semana do aniversário de quinze anos de Joe. Vivendo em uma comunidade de imigrantes judeus em cortiços de Nova York, ele viu demissões, filas de pão, favelas, tumultos, suicídios e a miséria humana generalizada engolirem sua cidade. Joe sonhava em crescer e ajudar a aliviar o sofrimento ao seu redor desde que, quando criança, testemunhara caminhões cheios de caixões passando pelo apartamento de seus pais durante a pandemia de gripe espanhola. Agora, a Grande Depressão reforçou para ele que o mundo estava em apuros e isso aprofundou seu desejo em ajudá-lo. Seus pais lhe ensinaram o princípio judaico do tikkun olam: conserte o mundo. Ele pretendia viver sua vida de acordo com isso, e planejava se tornar um advogado que lutaria em nome dos marginalizados.
Como se viu, Joe teve a chance de sair da pobreza em que cresceu e ir em busca de seu sonho, porque Joe era bastante inteligente. Ele pulou várias séries e raramente era visto sem um livro nas mãos. Uma escola preparatória de elite em sua comunidade de imigrantes judeus o aceitou. Ele foi o primeiro membro de sua família a ir para a faculdade.
Mas, à medida que Joe continuou sua educação, ficou evidente que seu desempenho acadêmico entre as demais pessoas inteligentes era meramente mediano. Ele tinha uma nota geral B no final do ensino médio. Ele se matriculou no City College porque era respeitado, gratuito e sua família não tinha dinheiro para mandá-lo para outro lugar. Uma vez lá, ele prontamente obteve Cs em química, inglês e matemática. Muito reservado, não impressionou muito os colegas, não ganhou troféus nem participou de organizações estudantis.
A mãe de Joe tentou convencê-lo a desistir de seu plano de se tornar um advogado. Sua timidez e sua personalidade apaziguadora não combinavam com a profissão, dizia ela. Além do que, ele nunca havia ganho uma discussão com ela. Ela sugeriu que ele se tornasse um professor e ajudasse o mundo através da educação.
Ela conseguiu convencê-lo de que o campo jurídico não era adequado a ele. Mas Joe não achava que o ensino se encaixaria perfeitamente bem em seu projeto de maximizar seu impacto positivo no mundo.
Ele perguntou a sua mãe sobre a área médica. Ela pensou que ele seria incapaz de tolerar as longas horas. Mas, apesar de nenhum interesse anterior em ciência, Joe mudou seu foco de disciplinas no colégio para a área médica e então se inscreveu em várias faculdades de medicina. Uma única escola medíocre o aceitou. Ainda determinado a fazer a diferença de alguma forma, ele se matriculou.
Durante toda a faculdade de medicina, Joe morou com os pais, trabalhando meio período para pagar as mensalidades e os equipamentos. Ele se interessou pela área de pesquisa, particularmente por micróbios e prevenção de doenças. Fazer pesquisas em larga escala que pudessem ajudar a humanidade em geral o atraía mais do que ajudar pacientes individualmente. Quando um professor advertiu que uma carreira em pesquisa nunca o tornaria rico, Joe lhe disse: “Há mais coisas na vida do que o dinheiro”.
Durante a faculdade de medicina, ele se sentiu atraído por uma estudante de pós-graduação em sociologia chamada Donna pois ela se preocupava com justiça social e queria fazer um trabalho humanitário como ele. Apesar da aparência mediana e perspectiva mediana de Joe, ela também se sentia atraída por ele, mas, infelizmente para ambos, o pai rico de Donna não aprovava aquele relacionamento. Ele entendia que Joe estava numa posição abaixo da de Donna.
No entanto, o casal o persuadiu a aceitar o casamento com a condição de que esperassem até que Joe se formasse para então anunciarem o casamento, para que todos os convidados pudessem ver o as letras “Dr.” antes de seu nome. Unidos por sua profunda preocupação pelos demais, Donna e Joe se casaram assim que ele se formou.
Depois que Joe terminou sua residência, ele descobriu que muitas instituições de pesquisa não o contratavam porque ele era judeu. Mas ele finalmente foi contratado, para pesquisas sobre a gripe nos grandes ensaios clínicos de vacinas conduzidos durante a Segunda Guerra Mundial. Contra-atacando o fantasma virulento de sua infância, ele serviu em uma pequena equipe que criou a primeira vacina contra a gripe, que foi usada para vacinar todo o Exército dos EUA. Esse trabalho o levou — pela primeira vez na vida de Joe — a um emprego estável e de longo prazo após a guerra. Ele então se tornou professor de epidemiologia.
O trabalho o tomava e, com uma hora e meia de viagem de casa para o trabalho, ele passava a maior parte do tempo longe da família. Mas Joe era motivado e, embora seu laboratório fosse pequeno e mal financiado, seu trabalho durante a guerra o colocou em uma posição para que pudesse continuar sua pesquisa em tempos de paz. Ainda com o objetivo de fazer o melhor para o maior número de pessoas possível, ele fez de sua missão desenvolver uma vacina universal contra a gripe, que protegesse contra todas as cepas de influenza.
Um dia, o diretor de pesquisa da Fundação Nacional de Paralisia Infantil (National Foundation for Infantile Paralysis – NFIP) o abordou sobre um novo projeto. O NFIP estava financiando pesquisas básicas sobre o vírus que causava a poliomielite e queria saber quantos tipos de vírus existiam.
Nosso herói Joe — ou como a história o conhece, Jonas Salk — não estava particularmente interessado na poliomielite. Mas ele viu o projeto de tipagem da poliomielite como uma oportunidade de obter financiamento para seu laboratório, de modo que pudesse perseguir seu objetivo principal de uma vacina universal contra a gripe. Então ele concordou.
Embora as pessoas que trabalhavam com Salk gostassem de seu jeito de tratar os pacientes e de seu senso de humor, ele não era bem-visto pela comunidade científica. Ele apreciava a comunicação científica com o público geral em uma época que a ciência e a academia estavam isoladas do resto da sociedade. Ele falou muitas vezes ao público e à imprensa. Mesmo após se tornar uma figura pública, Salk respondia a todas as cartas enviadas ao seu laboratório, incluindo algumas bem difíceis, de pessoas com poliomielite, porque ele se preocupava com a saúde das pessoas.
Mas cientistas seniores viram nesse comportamento uma busca por atenção. Salk também tendia a publicar artigos um tanto especulativos, sem evidências suficientes para apoiar suas conclusões, e ocasionalmente comentava resultados à imprensa que ainda não haviam sido revisados por pares. Sem mencionar que as condições de segurança em seu laboratório não eram ótimas, e várias vezes recipientes de vidro com pólio vivo dentro deles quebraram devido ao manuseio incorreto.
E agora uma organização sem fins lucrativos iria bancar a pesquisa científica de Salk – um conceito inédito na época. Seu laboratório também estava colaborando com outros laboratórios do programa, o que era incomum. Alguns cientistas importantes não consideravam Salk um pesquisador sério.
Em uma mesa redonda do NFIP que Salk participou, a virologista Isabel Morgan mencionou que, durante o processo de determinação de qual cepa de poliomielite algumas amostras pertenciam, ela havia realizado a vacinação rudimentar de macacos rhesus em seu laboratório usando poliovírus morto. A mente de Salk imediatamente saltou para a pergunta: “Por que não estamos fazendo isso pelos humanos?”
A maioria dos virologistas achava que uma vacina ainda estava a anos de distância por várias razões técnicas, sendo que apenas uma vacina contendo poliovírus vivo enfraquecido seria aceitável para eles. Eles achavam que uma vacina morta não conferiria imunidade duradoura. Mas o problema, como Salk viu, era que uma vacina viva e enfraquecida levaria anos para ser desenvolvida. O vírus precisaria passar por centenas de macacos, um de cada vez, para diminuir sua virulência. Se ele pudesse encontrar evidências de que o vírus morto poderia causar imunidade duradoura, no entanto, ele poderia salvar muitos milhares de vidas agora.
Concentrando-se em duas doenças ao mesmo tempo, a carga de trabalho de Salk cresceu demais, e o problema da poliomielite de repente lhe parecia muito mais tratável do que o problema da gripe. Então, tendo a pesquisa da poliomielite lhe motivado tanto quanto a luta contra a gripe, Salk abandonou toda a pesquisa da segunda para se concentrar na primeira.
E, de fato, a poliomielite era uma assassina. Sete mil morreram em uma epidemia de 1916 nos EUA. Os casos graves apresentavam febre e dor ininterrupta, seguidos, em alguns casos, de paralisia dos membros e/ou dificuldade respiratória, às vezes permanente. A cada verão da década de 1950, o pavor tomava conta dos pais de todo o mundo, pois esperavam e rezavam para que seus filhos fossem poupados. Com uma infinidade de portadores assintomáticos, a poliomielite era difícil de controlar usando medidas normais de saúde pública.
O presidente Roosevelt, ele próprio vítima da pólio, popularizou a luta contra ela e ajudou a formar o NFIP, que agora financiava a pesquisa de Salk. Mais de dois milhões de voluntários do NFIP trabalharam nos Estados Unidos para arrecadar dinheiro em cinemas, igrejas e milhares de grupos locais n o que ficou conhecido como a “Campanha das Moedas” (March of Dimes).
Enquanto as outras equipes do projeto de pesquisa ainda estavam realizando pesquisas básicas sobre o vírus, Salk secretamente colocou sua equipe para trabalhar em uma vacina de vírus morto. Três meses depois, eles tinham desenvolvido uma.
Quando Salk apresentou a vacina ao comitê do NFIP designado para supervisionar sua pesquisa, eles se recusaram a deixá-lo fazer testes em humanos porque achavam que não havia como garantir que todos os vírus da vacina estivessem realmente mortos. Apesar de diversas provas fornecidas por Salk de que os vírus haviam realmente sido mortos e que a imunidade após três doses era tão alta quanto a imunidade após a infecção natural, eles viram sua vacina como uma tarefa tola. Talvez eles estivessem temerosos demais e desejassem evitar o acidente de apressar uma vacina por meio de testes de pesquisa apenas para infectar acidentalmente as mesmas pessoas que deveria proteger – um erro trágico que aconteceu durante uma tentativa anterior de uma vacina contra a poliomielite.
O diretor de pesquisa da NFIP, no entanto, disse a Salk para testar a vacina mesmo assim — em segredo. Ele aprovou uma série de pequenos testes em humanos para a vacina de Salk, a qual se provou ser segura e eficaz. “Foi a emoção da minha vida”, disse Salk sobre o momento em que viu os resultados pela primeira vez. Quando ele voltou do trabalho para casa naquela noite, ele correu pela porta da frente e exclamou para sua família: “Eu consegui!”
Quando ele apresentou os resultados ao comitê do NFIP, a organização demoliu Salk. Disseram que seriam necessários mais testes em animais, mais pesquisas deveriam ser feitas para encontrar as cepas adequadas e precisariam determinar se uma vacina oral ou injetável seria a melhor, entre várias outras preocupações. Uma minoria do comitê reagiu, argumentando que a vacina de Salk deveria prosseguir imediatamente para um ensaio clínico em larga escala, embora Salk achasse que isso era um pouco prematuro. Vidas se penduravam na balança enquanto eles debatiam.
O fato de que um teste de campo estava sendo considerado vazou para a imprensa, e as notícias correram. Após promessas embelezadas pela mídia, o mundo todo esperava um teste da vacina e a liderança do NFIP também queria um. Salk, transmitindo humildade e competências nas entrevistas, ficou, aos olhos do público, ligado aos testes de vacinas, apesar do fato de ser a NFIP, e não Salk, que tinha total controle sobre o assunto.
Para seu desgosto, ele se tornou uma pequena celebridade. Ele não gostou do termo dado pela mídia de “vacina Salk” porque queria compartilhar o crédito com todos os outros cujas ideias e esforços ajudaram a desenvolvê-la. Em uma entrevista, talvez para responder tanto à mídia que o sensacionalizou quanto aos virologistas que queriam passar anos intermináveis em pesquisas adicionais, Salk disse: “Não é para a glorificação do indivíduo, mas para o serviço à humanidade que [a pesquisa] deve se orientar. O objetivo deve ser resolver um problema e não apenas trabalhar em um problema.”
As únicas organizações com capacidade de produzir vacinas suficientes para um grande teste eram as empresas farmacêuticas, mas o processo de criação da vacina era extremamente complexo e Salk não confiava que elas as produziriam direito. Ele escreveu instruções detalhadas e passou muito tempo no telefone explicando tudo aos técnicos farmacêuticos. Ninguém em sua equipe poderia descrever o procedimento completo para eles – Salk era literalmente a única pessoa no mundo que sabia como fazer a vacina com precisão.
Ele estipulou que ele teria permissão de realizar seus próprios testes de segurança em cada lote da vacina, além dos testes realizados pelas empresas farmacêuticas. Essa também foi uma medida acertada. As empresas introduziram medidas de redução de custos que ignoraram alguns detalhes das instruções dadas por Salk e suas verificações de segurança detectaram vírus vivos em algumas das vacinas que estavam sendo preparadas para o teste.
Infelizmente, essa história também vazou para a imprensa, que a sensacionalizou. Os testes perderam mais de um terço de seus voluntários devido ao medo justificável dos pais de que a vacina pudesse prejudicar seus filhos. Salk começou a receber cartas de ódio. Um artigo crítico dele começava com as seguintes palavras: “Só Deus saberá quantos milhares de pequenos caixões brancos serão usados para enterrar as vítimas da vacina hedionda e fraudulenta de Salk”.
Mas em pouco tempo, um dos maiores ensaios clínicos randomizados da história teve seu início, com dois milhões de crianças americanas participantes. Os níveis de anticorpos seriam medidos antes e depois da vacinação, e a taxa de incidência de poliomielite seria registrada em um grupo experimental e em um grupo de controle.
Os computadores de cartão perfurado da IBM analisaram os dados. Amigos próximos e até celebridades entraram em contato com Salk para implorar por vacinas para sua família antes de que ela fosse aprovada. Ele estava completamente esgotado a essa altura e até desenvolveu dores no peito. Ele começou a ver um psiquiatra para tratar a ansiedade causada pelo excesso de trabalho.
Quando os resultados do teste foram anunciados em 12 de abril de 1955, Salk ainda era seu garoto-propaganda, embora não tivesse projetado ou implementado o teste. A cobertura da imprensa foi gigantesca. Repórteres cercaram um grupo de pesquisadores carregando relatórios dos resultados e vazaram a notícia cinquenta minutos antes. O mundo deu um suspiro coletivo de alívio ao saber que a vacina de Salk era segura e 80 a 90% eficaz na prevenção da poliomielite.
Lemos na biografia escrita por Charlotte DeCroes Jacobs “Jonas Salk: A Life”, da qual muito deste artigo é baseado:
Os sinos da igreja bateram, carros buzinaram e sirenes apitaram enquanto a nação se regozijava. Alguns aplaudiram; alguns choraram. Nas lojas de departamento, os alto-falantes anunciavam as boas notícias. Os lojistas pintaram “Obrigado Dr. Salk” em suas vitrines. Sistemas de som em escolas, tribunais e fábricas pediam um momento de silêncio.
Pais ao redor do mundo comemoraram. Nos meses seguintes, ruas, hospitais e monumentos receberam o nome de Salk. As pessoas lhe enviaram dinheiro e até lhe enviaram carros novos em agradecimento, mas ele devolveu tudo aos remetentes, incentivando-os a comprar vacinas para suas comunidades locais. Marlon Brando enviou uma mensagem de agradecimento a Salk, e o Oscar o convidou a comparecer. Numerosas universidades ofereceram-lhe diplomas honorários. O presidente Eisenhower deu-lhe uma honraria. Seu volume de correspondências saltou para mais de 10.000 cartas por mês, e ele não conseguia mais responder a todas elas.
O Departamento de Saúde, Educação e Bem-Estar (o precursor do atual Departamento de Saúde e Serviços Humanos) licenciou a vacina de Salk no mesmo dia em que os resultados do estudo foram anunciados. É comum contar a história de que Salk optou por não patentear a vacina, mas isso não é muito correto, porque a vacina não era patenteável. Ela teve por base muitas descobertas distintas, por muitos cientistas separados. É verdade, porém, que Salk optou por não lucrar com sua vacina para que pudesse ser livremente disseminada em todo o mundo. A maioria dos países desenvolvidos produziu sua própria versão da vacina de Salk em um ano.
Nos EUA, a implementação da campanha de vacinação foi muito acidentada, e ainda restava muito trabalho a ser feito para livrar os países em desenvolvimento da pólio. Mas, ano após ano, a humanidade tinha cada vez menos uso de pulmões de ferro. O medo que tomava conta dos pais a cada verão diminuiu. As crianças que de outra forma teriam morrido ou sofrido paralisia parcial cresceram livres da pólio.
Quantas vidas a vacina de Salk salvou? Estatísticas globais confiáveis da pólio não eram mantidas na época, mas em todo o mundo a pólio provavelmente causava centenas de milhares de casos e dezenas de milhares de mortes a cada ano. Albert Sabin, um dos opositores dos testes no comitê da NFIP, finalmente desenvolveu uma vacina viva enfraquecida, cerca de seis anos depois que Salk desenvolveu a dele. Durante esses seis anos, a vacina Salk provavelmente evitou cerca de 200.000 casos e 12.000 mortes apenas nos Estados Unidos. A estimativa global é muito maior.
Jonas Salk não era um santo. Longe disso. No início de sua carreira, antes que os padrões éticos modernos para pesquisa fossem estabelecidos, ele ajudou a liderar um estudo que infectou intencionalmente dois hospitais para doentes mentais com gripe para testar uma vacina. Milhares de macacos rhesus foram mortos durante os experimentos de Salk durante o desenvolvimento da vacina contra a poliomielite. Ele era um notório viciado em trabalho e sua vida familiar estava longe de ser perfeita. E a segunda metade sinuosa e grandiosa de sua vida oferece muitos exemplos do que não se deve fazer se você se tornar extremamente bem-sucedido e famoso.
Talvez essas falhas e ações retirem sua áurea de santidade, tornando-o mais próximo de uma pessoa comum. Mas, em qualquer avaliação da vida de alguém, deve-se levar em conta o tremendo bem que ele fez para a humanidade, bem como as principais perspectivas e escolhas que o levaram à sua realização.
A história de Salk se encaixa perfeitamente no mito americano de trabalho árduo e determinação, retirando um visionário da pobreza e levando-o a alcançar grandes feitos e, em decorrência, prosperar. Os livros de história reconhecem sua sabedoria em perceber aquilo que seus colegas estavam negligenciando: a ideia de que a vacinação em massa com vírus morto seria possível seis anos antes do que com um vírus vivo enfraquecido.
Mas muitas vezes são negligenciadas outras de suas decisões cruciais, como a escolha de Salk de cursar a faculdade de medicina quando percebeu que direito não era uma boa opção, ou ter escolhido abandonar sua amada pesquisa sobre gripe, na qual ele gastou muito tempo e energia, para prosseguir o projeto mais promissor de uma vacina contra a poliomielite. Quão diferente a década de 1950 teria sido para o mundo se Salk tivesse tomado um caminho diferente com escolhas, aparentemente, pessoais? Quem seriam os azarados que mais tarde teriam morrido de poliomielite sem barreiras?
A história de Salk também demonstra que um altruísta não precisa ser o melhor dos melhores para ter insights importantes ou alcançar algo grandioso para a humanidade. Ele era brilhante, mas não o mais brilhante, estudou no que era, na época, uma faculdade de medicina de segunda categoria, e ele não era tão bem financiado ou bem relacionado como muitos dos outros pesquisadores que trabalhavam no projeto de poliomielite da NFIP. E, no entanto, ele fez uma contribuição mais significativa e impactante do que a maioria das pessoas já fez.
Também importante para o desenvolvimento da vacina contra a poliomielite foi a visão geral altruísta de Salk (apesar do fato de que algumas de suas ações acabaram sendo prejudiciais). Ele entendia como sendo sua missão de vida diminuir o sofrimento humano.
Ele poderia ter trabalhado como médico e assim diminuído o sofrimento de um paciente de cada vez – o que é inegavelmente valioso e importante – Salk, no entanto, pensou mais alto, reconhecendo que a escala dos problemas é um fator-chave e que isso deve ser considerado quando decidimos se devemos trabalhar neles. Por fim, enquanto outros com uma trajetória de carreira similar poderiam ter se distraído com as perspectivas de dinheiro e prestígio, ele sustentou que há mais na vida do que dinheiro, especialmente o princípio que ele aprendeu quando criança, tikkun olam: consertar o mundo.
Autor: Joshua Ingle
Tradução: Fernando Moreno
Publicado originalmente 25 de outubro de 2021 aqui.