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Semana 18: A música vegana
Durante esses meses de transição, comecei a observar o quanto as músicas falam sobre a causa animal e percebi que a música vegana está muito presente na cena brasileira. Até mesmo o hino nacional existe uma referência aos gritos dos porcos num abatedouro à beira de um rio: “ouviram do Ipiranga às margens plácidas, de um povo heroico o brado retumbante”.
O rock brasileiro é vegano
Mas avancemos alguns séculos e comecemos com as referências de música vegana no rock nacional:
- “Nosso suor sagrado é bem mais belo que esse sangue amargo” é outro canto dos animais torturados tentando nos convencer a parar de beber seu sangue.
- “Tire suas mãos de mim, eu não pertenço a você” também vem da voz dos animais que pedem para não serem vistos como objetos. Se você acha que ama os animais, mas os come, a música explica: “acho que isso não é amoooor”.
- E a mais famosa história de amor poderia ter terminado mais cedo. “Eduardo sugeriu uma lanchonete, mas a Mônica queria ver o filme do Godard”. Na verdade, Mônica achou muito cedo para explicar que era vegana, então foi bem polida e deu essa indireta.
- “Eu sei que você sabe quase sem querer que eu quero o mesmo que você” é uma ode dos veganos aos carnistas. No fundo, ninguém que come carne quer a crueldade com animais. Todos desejamos a mesma coisa, mas quem não assiste aos vídeos dos abatedouros não se conecta e segue a vida evitando lembrar desse sofrimento. A música inclusive frisa esse ponto de que tentamos nos convencer de que existe abate humanitário: “mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira”.
- Os Mamonas Assassinas já cantavam sobre feijoada vegana antes de virar moda: “Sábado de sol, aluguei um caminhão, pra levar a galera pra comer feijão. Chegando lá, mas que vergonha, só tinha maconha, os maconheiros tava doidão querendo meu feijão”.
- É polêmico, mas corre o boato dessa música ser uma sequência de Chico Buarque, quando ele canta sobre um carnista tentando virar vegano: “Todo dia eu só penso em poder parar / Meio-dia eu só penso em dizer não / Depois penso na vida pra levar / E me calo com a boca de feijão”. Na música dos Mamonas, o protagonista finalmente abraçou o veganismo. E a maconha.
- Os Raimundos imortalizaram a cena de quando a namorada vegana descobre que seu parceiro foi num rodízio na noite anterior: “Que mulher ruim / Jogou minhas coisas fora / Disse que em sua cama eu não deito mais não / A casa é minha, você que vá embora / Já pra saia da sua mãe e deixa meu colchão”.
- O Charlie Brown Jr buscou retratar a cena de dois trabalhadores de um matadouro que se demitiram e prometeram nunca mais participar das cenas de tortura e sofrimento: “Agora eu sei exatamente o que fazer / Vou recomeçar, poder contar com você / Pois eu me lembro de tudo, irmão / Eu estava lá também / Um homem quando está em paz / Não quer guerra com ninguém”.
- O CPM 22 já preferiu focar naquele momento em que os pintinhos machos são triturados vivos logo após nascer, por serem inúteis à indústria do ovo:”Um minuto para o fim do mundo / Toda sua vida em 60 segundos / Uma volta no ponteiro do relógio pra viver /O tempo corre contra mim / Sempre foi assim e sempre vai ser…”
Desde que o samba é samba, é vegano
Saltemos do rock para o samba, a música vegana popular do Brasil:
- Alexandre Pires, com grande habilidade, retrata um carnista comendo seu hambúrguer de shitake, saboreando, sim, mas sem conseguir se esquecer do vício na picanha ensanguentada: “Fica dentro do meu peito / Sempre uma saudade / Só pensando no teu jeito / Eu amo de verdade / E quando o desejo vem / É teu nome que eu chamo / Posso até gostar de alguém / Mas é você que eu amo”
- Um pouco mais poético, Cartola faz uma linda metáfora do jardim para falar da crueldade animal. “Volto ao jardim / Com a certeza que devo chorar / Pois bem sei que não queres voltar / Para mim / Queixo-me às rosas / Mas que bobagem / As rosas não falam / Simplesmente as rosas exalam / O perfume que roubam de ti, ai”. O jardim é uma cela superlotada de porcos. Cada rosa é um porco que exala o medo. O medo é roubado do cheiro do açougueiro.
- “Vou festejar, vou festejar, o teu sofrer, o teu penar” … Ok, essa é aquela música de carnistas cantando na galeteria se lambuzando com asas de frangos crianças, torturados e abatidos com 2 ou 3 meses de idade. Voltemos para algo mais positivo…
- Na canção abaixo, os 40 mil frangos apertados e presos em um galpão tentam se animar acreditando que um dia o veganismo vai se popularizar: “Canta Canta, minha Gente / Deixa a tristeza pra lá / Canta forte, canta alto / Que a vida vai melhorar / Que a vida vai melhorar (repete 5 vezes)”. Ao final da canção, vejam como os frangos se ressentem de não estarem livres no campo: “Há muito tempo não ouço / O tal do samba sincopado / Só não dá pra cantar mesmo / É vendo o sol nascer quadrado.”
- Pra finalizar, por hoje, até Sidney Magal defende a liberdade das galinhas. Em sua música mais famosa, descreve uma linda cena de fuga das galinhas, quando descobrem uma abertura na prisão em que vivem, olham o céu azul, começam a correr cantando “Quero vê-la sorrir / quero vê-la cantar / quero ver o seu corpo dançar sem parar”.
Uma cena assim “explode coração na maior felicidade”, não?
Voltamos a qualquer momento com outras músicas veganas populares brasileiras.
Leandro Franz é economista, escritor e wannabe vegano. Seus últimos livros são “A Pequena Princesa” (Ed. Letramento), “No Útero de Paulo, o Embrião não Nascerá” (Ed. Penalux) e “Por toda vida, Carolina” (e-book Amazon).