Semana 17
Nenhum pensador que desconsidera a causa animal realmente pensa.
Ou, ao menos, omite o que está pensando.
Ou pensa de maneira incompleta – sobre este tema específico, deixemos claro.
Abaixo, reuni trechos de bons filósofos a partir do ótimo arquivo do site Vegazeta (buscando nesse link você encontra todas as fontes).
Este talvez seja o texto mais potente do diário, delicie-se com essas reflexões de pensadores que realmente pensam com o cérebro, não com o estômago.
Pitágoras afirmava que comer carne era canibalismo e foi o primeiro a condenar o abate de animais, pedia compaixão com todos os seres sencientes: “Enquanto o ser humano for implacável com as criaturas vivas, ele nunca conhecerá a saúde e a paz. Enquanto os homens continuarem massacrando os animais, eles também permanecerão matando uns aos outros. Na verdade, quem semeia assassinato e dor não pode colher alegria e amor.”
Ovídio também reforçou a mensagem: “Quando coloca a carne do gado abatido em sua boca, você sabe e sente que está devorando uma criatura amiga. (…) Deixe o boi morrer de velhice”.
Apolônio virou vegetariano na adolescência e “declarou ao seu professor que a carne é impura e nociva à mente, e que ele se alimentaria apenas de frutos secos e outros vegetais porque os frutos da terra são limpos e isentos de violência.”
Sêneca foi vegetariano estrito: “É desumanidade não nos comovermos com a morte do cabrito, cujos gritos tanto se assemelham aos das crianças, e comermos as aves a que tantas vezes demos de comer. Ah! quão pouco dista d’um enorme crime!”.
Neste outro trecho, ele nos orienta a fugir da grande seita, da pressão social carnista: “Eu simplesmente me privo da comida dos leões e dos abutres. […] Só reconhecemos o som da razão quando nos separamos da multidão. O próprio fato da aprovação da multidão é uma prova da falta de prática ou de opinião. Pergunte o que é melhor, não o que é costume. Deixe-nos amar a temperança – sejamos justos – deixemos nos abster do derramamento de sangue… (…) Os vegetais são o suficiente para o nosso estômago”.
Platão dizia que “consumo de carne pode levar a humanidade à decadência” e inspirou seguidores a quase criar uma cidade vegetariana chamada Platonópolis.
Plutarco: “ao assar ou cozinhar a carne, o ser humano altera o seu gosto natural e intruja-se usando especiarias e mel para ocultar o sabor do sangue e ‘esconder sua culpa por comer algo que tinha uma alma’: ‘Pergunto-me qual foi a sensação do primeiro homem que colocou a carne de um animal assassinado em sua boca. […] Ele chamou de iguarias as partes que um animal usava para rugir, falar, mover e ver. […] Como seus olhos podem admirar o sangue de criaturas abatidas, esfoladas e esquartejadas? Como seu nariz pôde suportar o mau cheiro?”
Plotino: “Mestre de Porfírio, seu discípulo que escreveu ‘Da Abstinência do Alimento Animal’, considerada por inúmeros pesquisadores como a obra mais importante da Grécia Antiga sobre a abstenção do consumo de animais, Plotino foi um filósofo neoplatônico que melhor assimilou e aperfeiçoou não apenas os ensinamentos de Platão, mas também de Pitágoras e Plutarco, autor de “Do Consumo da Carne”, outra obra relevante na discussão sobre o tema.”
Comer carne é cringe e elitista. O vegetarianismo de Empédocles: “pode ser visto como uma declaração política que se opôs à identificação aristocrática do sacrifício animal. Isto porque o consumo de carne à época já era associado à barbárie e à glutonaria, já que os cidadãos de maior poder aquisitivo sempre reivindicavam primeiro a maior porção de carne”.
Aristóteles falhou na lógica e não reconhecia o direito dos animais, mas alguns de seus seguidores discordavam: “No entendimento de Aristóteles, os animais ‘irracionais’ não possuem capacidades mentais para assegurar que seus interesses sejam respeitados. Por outro lado, o seu discípulo Teofrasto, além de reconhecer a existência do intelecto animal, viu exatamente nessa suposta incapacidade animal apontada por Aristóteles uma razão moral para que os seres humanos não se colocassem acima dos animais nem se aproveitassem de sua vulnerabilidade.”
Leonardo da Vinci era vegetariano. Um trecho de sua biografia escrita por Walter Isaacson: “Por causa do amor pelos animais, Leonardo foi vegetariano durante a maior parte da vida. ‘Ele não seria capaz de matar uma mosca, pelo motivo que fosse’, escreveu um amigo. ‘Preferia vestir-se com linho, para não usar algo morto.’ Um florentino em viagem à Índia relatou que as pessoas desse país ‘não se alimentam de nada que possua sangue nem permitem que ninguém fira uma criatura viva, assim como nosso Leonardo da Vinci’.”
Voltaire: “Os sofrimentos de um animal nos parecem males porque, sendo animais nós mesmos, sentimos que deveríamos estimular a compaixão da mesma forma”
Bentham: “A questão não é, eles podem raciocinar? nem eles podem falar?, mas sim eles podem sofrer? Por que a lei deve recusar proteção a qualquer ser senciente?”
Schopenhauer “não concordava com a concepção antropocêntrica de que os animais existem ou deveriam existir para servir aos seres humanos.”
Tolstói pede que você visite um abatedouro (ou veja o filme Dominion): “Já que se come carne, é preciso ver como matam os bois”. Ele também afirmou que o consumo de carne “é verdadeiramente imoral, já que exige um ato contrário ao nosso senso moral”
O maior expoente hoje do utilitarismo é Peter Singer. Ele questiona “se é justificável considerar nosso prazer e nossa dor mais importantes que os animais. Quando submetemos os animais ao sofrimento da agricultura industrial para a produção de carne, ele pergunta se estamos apenas sendo ‘especistas’. Assim como os racistas, argumenta ele, os especistas favorecem o interesse de sua própria espécie.”
Para fechar, alguns trechos do historiador (e muitas vezes pensador filosófico sobre o futuro) mais popular do planeta. O livro Sapiens, de Yuval Harari, mostra como deixamos de ver os animais como vidas e transformamos em produtos, como se não tivessem dor. São 8 trechos indispensáveis para guardar em qualquer diário wannabe vegano, leia com carinho:
“Mais ou menos na mesma época em que o Homo sapiens foi elevado a um status divino pelas religiões humanistas, os animais de criação deixaram de ser vistos como criaturas vivas capazes de sentir dor e sofrimento e passaram a ser tratados como máquinas. Hoje, esses animais muitas vezes são produzidos em massa em instalações similares a fábricas, seus corpos moldados de acordo com as necessidades industriais. Eles passam a vida inteira como engrenagens em linhas de produção gigantes, e a duração e a qualidade de sua existência são determinadas pelos lucros e perdas das corporações. Mesmo quando a indústria toma cuidado para mantê-los vivos, razoavelmente saudáveis e bem alimentados, não tem nenhum interesse intrínseco nas necessidades psicológicas e sociais dos animais (exceto quando estas têm um impacto direto sobre a produção).
“Galinhas poedeiras, por exemplo, têm um mundo complexo de impulsos e necessidades comportamentais. Elas sentem desejos intensos de explorar seu ambiente, bicar e procurar alimento, determinar hierarquias sociais, construir ninhos e cuidar da aparência. Mas a indústria de ovos muitas vezes tranca as galinhas dentro de gaiolas minúsculas, e não é incomum espremerem quatro galinhas em uma única gaiola, cada uma delas com um espaço de chão de cerca de 25 por 22 centímetros. As galinhas recebem comida suficiente, mas são incapazes de reivindicar um território, construir um ninho ou se envolver em outras atividades naturais. Na verdade, a gaiola é tão pequena que em geral elas não conseguem nem mesmo abrir as asas ou ficar totalmente eretas.
“Os porcos estão entre os mais inteligentes e curiosos dos mamíferos, possivelmente só ficam atrás dos grandes primatas. Mas as fazendas industrializadas de criação de porcos adotam a prática rotineira de confinar porcas lactantes dentro de caixotes de madeira tão pequenos que elas literalmente são incapazes de se virar (muito menos caminhar ou procurar comida). As porcas são mantidas nesses caixotes dia e noite durante quatro semanas depois de parir. Sua prole é retirada para ser engordada, e as porcas são inseminadas com a próxima leva de leitões.
“Muitas vacas leiteiras passam quase a vida toda dentro de um pequeno cercado, pisando, sentando e dormindo sobre a própria urina e excremento. Elas recebem sua porção de alimento, hormônio e medicação de um conjunto de máquinas e são ordenhadas a cada poucas horas por outro conjunto de máquinas. A vaca é tratada como pouco mais do que uma boca que consome matérias-primas e um úbere que produz uma mercadoria.”
“Assim como o comércio de escravos no Atlântico não resultou do ódio para com os africanos, a indústria animal moderna não é motivada por animosidade. Novamente, é alimentada pela indiferença. A maioria das pessoas que produzem e consomem ovos, leite e carne raramente param para pensar no destino dos frangos, vacas ou porcos cuja carne e produtos estão comendo. Aqueles que pensam muitas vezes argumentam que tais animais realmente pouco se diferem de máquinas, desprovidos de sensações e emoções, incapazes de sofrer. Ironicamente, as mesmas disciplinas científicas que criam nossas máquinas de leite e de ovos têm demonstrado, para além de qualquer dúvida, que os mamíferos e as aves têm uma composição sensorial e emocional complexa. Eles não só sentem dor física como também podem padecer de sofrimento emocional.
“Por exemplo, uma vaca selvagem precisava saber se relacionar com outras vacas e bois, ou não seria capaz de sobreviver e se reproduzir. Para aprender as habilidades necessárias, a evolução implantou nos bezerros – e nos filhotes de todos os outros mamíferos sociais – um intenso desejo de brincar (é brincando que os mamíferos adquirem novas habilidades sociais). E implantou neles um desejo ainda mais intenso de estar junto da mãe, cujo leite e cuidados eram essenciais para sua sobrevivência.
“O que acontece se, hoje, um fazendeiro separa uma bezerra da mãe, a coloca em uma jaula, lhe dá comida, água e inoculações contra doenças, e então, quando ela tiver idade suficiente, a insemina com esperma de boi? De uma perspectiva objetiva, essa bezerra já não precisa do vínculo com a mãe, nem de companheiros de brincadeira, para sobreviver e se reproduzir. Mas, de uma perspectiva subjetiva, a bezerra ainda sente um intenso desejo de estar junto da mãe e de brincar com outros bezerros. Se esses desejos não forem atendidos, a bezerra sofre muitíssimo.
“Essa é a lição elementar da psicologia evolutiva: uma necessidade formada na natureza continua a ser sentida subjetivamente, mesmo que já não seja necessária para a sobrevivência e a reprodução nas fazendas industriais. O que há de trágico na agricultura industrial é que ela se ocupa muito das necessidades objetivas dos animais, mas negligencia suas necessidades subjetivas.”
Leandro Franz é economista, escritor e wannabe vegano. Seus últimos livros são “A Pequena Princesa” (Ed. Letramento), “No Útero de Paulo, o Embrião não Nascerá” (Ed. Penalux) e “Por toda vida, Carolina” (e-book Amazon).