Semana 11
O número de veganos tem crescido, mas somos ainda menos de 5% da população brasileira. Segundo pesquisa do Ibope de 2018, pelo menos o número de vegetarianos já é bem bem considerável, chegando a 15% da população (aproximadamente 30 milhões de pessoas).
Já li que essas pesquisas podem estar superestimadas, então vamos considerar, por segurança, metade desses números: 2,5% seriam veganos, 7,5% seriam vegetarianos. Se o cenário for assim tão ruim, como podemos acelerar então a migração para o fim da tortura animal?
A resposta pode surpreender, mas ninguém solta a mão de ninguém, porque a solução é convencer os vegetarianos a também se tornarem… wannabe veganos!
É isso, venham para o grupo dos chatos e malucos e radicais, mas nem precisam se tornar chatos e malucos e radicais, apenas assumir a identidade. Temos base científica para esse pedido, vejam o gráfico abaixo para a lei de difusão da inovação.
Ele se popularizou no livro “Difusão da Inovação”, de Everett Rogers, a partir do cruzamento de 508 estudos sociológicos e explica desde a popularização de novas tecnologias até estilos de música e redes sociais. Isso porque, basicamente, reflete nosso comportamento mais básico: somos seres sociais e não queremos ser expulsos do grupo.
Assim, apenas 16% das pessoas inovam ou gostam de se sentir diferentes adotando rapidamente as inovações do primeiro grupo. Alcançar essa faixa da população é o mais difícil, mas a partir dali, quando a questão ganha corpo e possui maior clareza, os outros 34% da “maioria inicial” são mais fáceis de trazer (geralmente os mais jovens). Com isso, acumula-se 50% da população aderindo à inovação, o que leva à redução de custos, produção em escala, popularização no dia a dia das pessoas, boca a boca para novas influências e, finalmente, outros 34% da população se convencem.
Com a soma em 84%, sobram apenas os mais reacionários, uma turma chamada de “atrasados”, que ainda resiste e esperneia até ser quase obrigada a aderir. Um bom exemplo ilustrativo são as redes sociais: no início, era só uma minoria que tinha Facebook ou Instagram, depois de um tempo já ninguém se imagina sem (mas agora os 16% mais inovadores já migraram para o TikTok, e assim sucessivamente).
Pois bem, toda essa teoria social serve para quê? Serve para entendermos que nunca impactaremos a indústria da carne (e derivados de animais) sem antes ganharmos algum volume, sem nos tornarmos relevantes como fatia da população. Seja como consumidores, seja como massa influenciadora.
Então, vegetarianos, não precisam mudar o cardápio, apenas vistam a camisa junto com a gente. Declarem-se veganos. Declarem-se wannabe veganos. Sejamos uma massa influenciadora única e, juntos, conseguiremos construir a adesão do que falta para sermos metade do país. São os 34% que já possuem maior simpatia ao tema, que estão mais dispostos a reduzir o consumo, a testar uma segunda-feira sem carne por exemplo.
A partir desse limite, a outra metade do país seguirá naturalmente. Foi assim com com a calça jeans, foi assim com o instagram, foi assim com a pochete. Vamos construir juntos as condições para que os 50% seguidores venham por tabela, reduzam o consumo de carne para não se sentirem retardatários.
O motivo inicialmente não importa. Alguns da “maioria inicial” podem aderir ao wannabeveganismo pela questão da tortura animal, outros pela sustentabilidade do meio-ambiente, outros ainda só pela saúde. O importante é dar mais corpo à massa inicial e, com isso, caminhar mais rapidamente para sermos relevantes.
Portanto, vegetarianos amados, ninguém solta a mão de ninguém, venham ser wannabe veganos. Vocês, aliás, já são. Parem de se enganar. Depois do primeiro passo para o vegetarianismo, não é muito esforço (é aliás quase inevitável) cogitar um segundo passo, um terceiro, continuar o movimento, sentir o vento no rosto. O mundo, aliás, já está facilitando isso, com opções cada vez melhores de leites/queijos/couros/etc.
Portanto, amigos vegetarianos, venham com a gente e miremos juntos na próxima faixa, os 34% mais abertos à mudança, geralmente jovens e millenials e tiktokers. Vamos juntos fazer o veganismo cool again!
Leandro Franz é economista, escritor e wannabe vegano. Seus últimos livros são “A Pequena Princesa” (Ed. Letramento), “No Útero de Paulo, o Embrião não Nascerá” (Ed. Penalux) e “Por toda vida, Carolina” (e-book Amazon).