Nota: Também traduzimos a Parte 2 desse texto (O Martelo e a Dança). Clique aqui!
Traduzido de “ Coronavirus: Why You Must Act Now: Politicians, Community Leaders and Business Leaders: What Should You Do and When?” de Tomas Pueyo.
Com tudo o que está acontecendo em relação o Coronavírus, pode ser muito difícil tomar uma decisão sobre o que fazer. É melhor esperar por mais informações? Ou melhor agir agora ? Qual a melhor opção?
Aqui está o que abordarei neste artigo, com muitos gráficos, dados e modelos embasados em diferentes fontes:
- Quantos casos de coronavírus poderão haver na sua localidade?
- O que acontecerá quando esses casos se materializarem?
- O que deveria ser feito?
- Quando deveria ser feito?
Quando você terminar de ler o artigo, é isso que você poderá concluir:
O coronavírus está chegando. Está chegando a uma velocidade exponencial: gradualmente e depois de repente. É uma questão de dias. Talvez uma semana ou duas. Quando isso acontecer, seu sistema de saúde ficará sobrecarregado. Seus concidadãos serão tratados nos corredores dos hospitais. Trabalhadores na área da saúde esgotados irão sucumbir. Alguns vão morrer. Eles terão que decidir qual paciente recebe o oxigênio e qual irá morrer. A única maneira de evitar isso é o distanciamento social hoje. Não amanhã. Hoje.
Isso significa manter o maior número possível de pessoas em casa, a partir de agora.
Como político, líder comunitário ou empresarial, você tem o poder e a responsabilidade de impedir isso.
Você pode ter alguns receios no momento : e se eu estiver exagerando? As pessoas vão rir de mim? Eles vão ficar com raiva de mim? Vou parecer idiota? Não é melhor esperar que outras pessoas tomem medidas primeiro? Estas medidas vão prejudicar muito a economia?
Porém, em 2 a 4 semanas, quando o mundo inteiro estiver em confinamento, quando os poucos dias preciosos de distanciamento social que você tiver possibilitado tiverem salvado vidas, as pessoas não o criticarão mais, mas o agradecerão por tomar a decisão certa.
Ok, aos fatos então:
O número total de casos cresceu exponencialmente até que a China o contivesse. Mas então, a doença “vazou”, e agora é uma pandemia que ninguém possa consegue parar.
Atualmente, isso se deve principalmente à Itália, Irã e Coréia do Sul:
Existem tantos casos na Coréia do Sul, Itália e China que é difícil ver o resto dos países, mas vamos dar um zoom no canto inferior direito.
Existem dezenas de países com taxas de crescimento exponencial. Hoje, a maioria deles é ocidental
Se você acompanhar esse tipo de taxa de crescimento por apenas uma semana, é isso que você obtém:
Se você deseja entender o que vai acontecer ou como evitá-lo, é necessário examinar os casos que já passaram por isso: China, países do oriente que tiveram experiência com a SARS e a Itália.
China:
Este é um dos gráficos mais importantes.
Mostra em barras laranja o número oficial diário de casos na província de Hubei, quantas pessoas foram diagnosticadas naquele dia.
As barras cinza mostram os casos verdadeiros diários de coronavírus. O Centro de Controle e prevenção de doenças chinês os encontrou perguntando aos pacientes durante o diagnóstico quando seus sintomas começaram.
É decisivo o fato destes casos verdadeiros não serem conhecidos na época. Só se pode identificar estes casos olhando para trás: as autoridades não sabem quando alguém começou a ter sintomas. Eles só sabem quando alguém vai ao médico e é diagnosticado.
O que isso significa é que as barras laranja mostram o que as autoridades sabiam e as cinza o que realmente estava acontecendo.
Em 21 de janeiro, o número de novos casos diagnosticados (laranja) estava explodindo, existiam cerca de 100 novos casos. Na realidade, houveram 1.500 novos casos naquele dia, crescendo exponencialmente. Mas as autoridades não sabiam disso. O que eles sabiam era que, de repente, havia 100 novos casos dessa nova doença.
Dois dias depois, as autoridades fecharam Wuhan. Nesse momento, o número de novos casos diários diagnosticados era de aproximadamente 400. Observe esse número: eles decidiram fechar a cidade com apenas 400 novos casos em um dia. Na realidade, havia 2.500 novos casos naquele dia, mas eles não sabiam disso.
No dia seguinte, outras 15 cidades em Hubei fecharam.
Até 23 de janeiro, quando Wuhan é fechada, você pode ver no gráfico cinza que os casos verdadeiros estavam explodindo. Assim que Wuhan é fechada, os casos diminuem. Em 24 de janeiro, quando outras 15 cidades foram fechadas, o número de casos verdadeiros (novamente, cinza) parou. Dois dias depois, o número máximo de casos verdadeiros foi atingido e diminuiu desde então.
Observe que os casos laranja (oficiais) ainda estavam crescendo exponencialmente: por mais 12 dias, parecia que a coisa ainda estava explodindo. Mas não foi exatamente o que aconteceu. Os diferentes casos estavam ficando com sintomas mais fortes e indo mais ao médico, e o sistema para identificá-los era mais fortes.
Esta diferenciação entre o conceito de casos oficiais e verdadeiros é importante. Vamos manter isso em mente para mais tarde.
As demais regiões da China foram bem coordenadas pelo governo central e, portanto, tomaram medidas imediatas e drásticas. Este é o resultado:
Toda linha plana é uma região chinesa com casos de coronavírus. Cada uma tinha o potencial de se tornar exponencial, mas, graças às medidas que aconteceram no final de janeiro, todas pararam o vírus antes que ele pudesse se espalhar.
Enquanto isso, Coréia do Sul, Itália e Irã tiveram um mês inteiro para aprender, mas não o fizeram. Eles iniciaram o mesmo crescimento exponencial de Hubei e ultrapassaram todas as regiões chinesas antes do final de fevereiro.
Países Orientais:
Os casos da Coréia do Sul explodiram, mas você já se perguntou por que no Japão, Taiwan, Cingapura, Tailândia ou Hong Kong não aconteceu o mesmo?
Todos eles foram atingidos pelo SARS em 2003, e todos aprenderam com ele. Eles aprenderam o quão viral e letal poderia ser, então sabiam levar a sério. É por isso que todos os gráficos, apesar de começarem a crescer muito mais cedo, ainda não parecem exponenciais.
Até agora, temos histórias de explosão de coronavírus, governos percebendo a ameaça e contendo-as. Para o resto dos países, no entanto, é uma história completamente diferente.
Antes de avançar para estes países, uma observação sobre a Coréia do Sul: O país provavelmente é uma exceção. O coronavírus foi contido nos primeiros 30 casos. O paciente 31 era um “super disseminador” que transmitiu o vírus a milhares de outras pessoas. Como o vírus se espalha antes que as pessoas apresentem sintomas, quando as autoridades perceberam o problema, o vírus já estava a solta. Agora eles estão pagando as consequências desse incidente. No entanto seus esforços de contenção se mostram eficientes: a Itália já ultrapassou a Coréia em número de casos, e o Irã ultrapassará amanhã (10/3/2020)
Estado de Washington
Você já viu o crescimento nos países ocidentais e como são ruins as previsões de apenas uma semana. Agora imagine que a contenção não acontece como em Wuhan ou em outros países do leste, e você tem uma epidemia colossal.
Vejamos alguns casos, como o estado de Washington, a área da baía de São Francisco, Paris e Madri.
O estado de Washington é o “Wuhan dos EUA”. O número de casos está crescendo exponencialmente. Atualmente, está em 140.
Mas algo interessante aconteceu logo no início. A taxa de mortalidade era altíssima. Em algum momento, o estado teve 3 casos e uma morte.
Sabemos a partir do ocorrido em outros lugares que a taxa de mortalidade do coronavírus está entre 0,5% e 5% (mais sobre isso adiante). Como a taxa de mortalidade poderia aqui ser de 33%?
Na verdade o vírus estava se espalhando sem ser detectado por semanas. Não é como se houvesse apenas três casos. É que as autoridades sabiam apenas de três e em um destes a pessoa estava morta porque quanto mais grave a condição, maior a probabilidade de alguém ser testado.
É um pouco como as barras laranja e cinza na China: aqui eles só sabiam sobre as barras laranja (casos oficiais) e por isso a situação parecia boa: apenas 3 casos. Mas, na realidade, havia centenas, talvez milhares de casos verdadeiros.
Isto é um problema, quando se conhece apenas os casos oficiais, e não os verdadeiros. Mas é necessário conhecer os verdadeiros. Como estimar os verdadeiros? Acontece que existem algumas maneiras. E eu tenho um modelo para ambos, para que você possa brincar com os números também (link direto para a cópia do modelo)
Para estimar os casos verdadeiros primeiro olhamos para os casos em que houveram mortes. Se você tem mortes em sua região, pode usar isso para adivinhar o número de casos atuais verdadeiros. Sabemos aproximadamente quanto tempo leva para essa pessoa passar do vírus para a morte em média (17,3 dias). Isso significa que a pessoa que morreu em 29/02 no estado de Washington provavelmente foi infectada por volta de 12/02
Então, você chega a taxa de mortalidade. Neste cenário, estou usando 1% (discutiremos mais adiante os detalhes). Isso significa que, por volta de 12/02, já haviam cerca de 100 casos na área (dos quais apenas um terminou em morte 17,3 dias depois).
Agora, usando o tempo médio de duplicação do coronavírus (tempo médio para dobrar os casos, em média), que é 6.2. Isso significa que, nos 17 dias que levou essa pessoa a morrer, os casos se multiplicaram por volta de 8 vezes (= 2 ^ (17/6)). Isso significa que, se você não está diagnosticando todos os casos, uma morte hoje significa 800 casos verdadeiros hoje.
Hoje, o estado de Washington tem 22 mortes. Com esse cálculo rápido, você chega a aproximadamente 16.000 casos reais de coronavírus hoje. Tanto quanto os casos oficiais na Itália e no Irã juntos.
Se analisarmos os detalhes, perceberemos que 19 dessas mortes foram vieram de um mesmo grupo, o que pode significar que o vírus não se espalhou tão amplamente. Portanto, levando isto em consideração, o total de mortes no estado é quatro. Atualizando o modelo com esse número, ainda temos por volta de 3.000 casos hoje.
Essa abordagem de Trevor Bedford analisa os próprios vírus e suas mutações para avaliar a contagem atual de casos.
A conclusão é que provavelmente há por volta de 1.100 casos no estado de Washington no momento.
Nenhuma dessas abordagens é perfeita, mas todas apontam para a mesma mensagem: não sabemos o número de casos verdadeiros, mas é muito maior que o oficial. Não está nas centenas. Está na casa dos milhares, talvez mais.
Área da Baía de São Francisco:
Até 08/03, em São Francisco não havia nenhuma morte. Isso tornava difícil saber quantos casos verdadeiros havia. Oficialmente, houveram 86 casos. Mas os EUA estão subestimando imensamente porque não possuem kits suficientes. O país decidiu criar seu próprio kit de teste, que acabou por não funcionar.
Este foi o número de testes realizados em diferentes países até 3 de março:
A Turquia, sem casos de coronavírus, teve 10 vezes mais testes por habitante do que os EUA. A situação não está muito melhor hoje, com aproximadamente 8.000 testes realizados nos EUA, o que significa que aproximadamente 4.000 pessoas foram testadas.
Aqui, você pode usar apenas uma porção dos casos oficiais para determinar os casos verdadeiros. Como decidir qual? Para a área de São Francsico, eles estavam testando todos que haviam viajado ou estavam em contato com um viajante, o que significa que eles conheciam a maioria dos casos relacionados a viagens, mas nenhum caso de transmissão interno, dentro de comunidades nos EUA. Através de um senso da relação entre disseminação comunitária vs propagação através de viagens, você pode saber quantos casos verdadeiros existem.
Eu olhei para essa proporção na Coréia do Sul, que tem ótimos dados. No momento em que tiveram 86 casos, a porcentagem da disseminação comunitária era de 86% (86 e 86% são uma coincidência).
Com esse número, você pode calcular o número de casos verdadeiros. Se a área da São Francisco tem 86 casos hoje, é provável que o número verdadeiro esteja por volta de 600.
França e Paris:
A França afirma ter 1.400 casos hoje e 30 mortes. Usando os dois métodos acima, você pode ter uma variedade de casos entre 24.000 e 140.000.
Permitam-me repetir: o número de casos verdadeiros na França provavelmente é entre uma e duas ordens de magnitude maior do que é oficialmente relatado.
Não acredita em mim? Vamos ver o gráfico de Wuhan novamente.
Se você empilhar as barras laranja até 22 de Janeiro, vocé terá 444 casos. Agora adicione todas as barras cinza no mesmo período. Eles somam aproximadamente 12.000 casos. Então, quando Wuhan pensou que tinha 444 casos, tinha 27 vezes mais. Se a França pensa que tem 1.400 casos, pode ter dezenas de milhares.
A mesma matemática se aplica a Paris. Com aproximadamente 30 casos dentro da cidade, é provável que o número real de casos esteja nas centenas, talvez milhares. Com 300 casos na região de Ile-de-France, o total de casos na região já pode exceder dezenas de milhares.
Espanha e Madri:
A Espanha tem números muito semelhantes aos da França (1.200 casos vs. 1.400, e ambos têm 30 mortes). Isso significa que as mesmas regras são válidas: a Espanha provavelmente já tem mais de 20 mil casos verdadeiros.
Na região de “Comunidad de Madrid”, com 600 casos oficiais e 17 mortes, o número real de casos é provável que esteja entre 10.000 e 60.000.
Se você ler esses dados e se pensar: “Impossível, isso não pode ser verdade”, pense no seguinte: com esse número de casos, Wuhan já estava fechada.
Com o número de casos que vemos hoje em países como EUA, Espanha, França, Irã, Alemanha, Japão, Holanda, Dinamarca, Suécia ou Suíça, Wuhan já estava fechada.
E se você está dizendo a si mesmo: “Bem, Hubei é apenas uma região”, deixe-me lembrá-lo de que possui quase 60 milhões de pessoas, uma população maior que da Espanha e aproximadamente do mesmo tamanho populacional da França
Então o coronavírus já está aqui. Está escondido e está crescendo exponencialmente.
O que acontece quando o coronavírus chega? É fácil saber, porque já temos vários lugares onde isso está acontecendo. Os melhores exemplos são Hubei e Itália.
Taxas de Fatalidades:
A Organização Mundial de Saúde (OMS) cita 3,4% como a taxa de mortalidade (porcentagem de pessoas que contraem o coronavírus e depois morrem). Esse número está fora de contexto, então deixe-me explicar.
Realmente depende do país e do momento: entre 0,6% na Coréia do Sul e 4,4% no Irã. Então qual o melhor modo de obter essa relação? Podemos usar um truque para descobrir isso.
As duas maneiras de calcular a taxa de mortalidade são: Óbitos / Total de casos, e Óbito / Casos encerrados. O primeiro provavelmente será subestimado, porque muitos casos abertos ainda podem acabar em morte. A segunda é uma superestimação, porque é provável que as mortes sejam contabilizadas mais rapidamente que as recuperações.
O que fiz foi ver como os dois evoluem ao longo do tempo. Esses dois números convergirão para o mesmo resultado quando todos os casos forem encerrados; portanto, se você projetar tendências passadas para o futuro, poderá adivinhar qual será a taxa final de mortalidade.
É isso que você vê nos dados. A taxa de mortalidade da China está agora entre 3,6% e 6,1%. Se você projetar isso no futuro, parece que converge para aproximadamente 3,8% -4%. Isso é o dobro da estimativa atual e 30 vezes pior que a gripe.
É composto por duas realidades completamente diferentes: Hubei e o resto da China.
A taxa de fatalidade de Hubei provavelmente convergirá para 4,8%. Enquanto isso, para o resto da China, provavelmente convergirá para 0,9%:
Também coloquei em gráfico os números do Irã, Itália e Coréia do Sul.
A relação entre óbitos / total de casos do Irã e da Itália estão convergindo para a faixa de 3% a 4%. Meu palpite é que essa seja a proporção final nesses países.
A Coréia do Sul é o exemplo mais interessante, porque esses dois números estão completamente desconectados: mortes / casos totais é de apenas 0,6%, mas mortes / casos fechados é de 48%.
Minha opinião é que algumas coisas únicas estão acontecendo lá. Primeiro, eles estão testando todo mundo (com tantos casos abertos, a taxa de mortalidade parece baixa) e deixando os casos em aberto por mais tempo (para que eles fechem os casos rapidamente quando o paciente está morto).
Segundo, eles têm muitos leitos hospitalares (ver gráfico 17.b). Também pode haver outros motivos que desconhecemos. O que é relevante é que as mortes / casos tenham oscilado em torno de 0,5% desde o início, sugerindo que vá estabilizar em volta desse número. Isto provavelmente devido o sistema de saúde e pelo gerenciamento de crises da Coréia do Sul.
O último exemplo relevante é o cruzeiro Diamond Princess: com 706 casos, 6 mortes e 100 recuperações, a taxa de mortalidade estará entre 1% e 6,5%.
Observe que a distribuição etária em cada país também terá um impacto: como a mortalidade é muito maior para idosos, países com uma população envelhecida como o Japão serão mais afetados, em média, do que países mais jovens como a Nigéria. Também existem fatores climáticos, especialmente umidade e temperatura, mas ainda não está claro como isso afetará as taxas de transmissão e fatalidade.
Isto é o que se pode concluir:
- Excluindo os países analisados acima, podemos dizer que os países preparados terão uma taxa de mortalidade de aproximadamente 0,5% (Coréia do Sul) a 0,9% (restante da China).
- Países com sistemas de saúde sobrecarregados terão uma taxa de mortalidade de cerca de 3% a 5%
Em outras palavras: os países que agem rapidamente podem reduzir o número de mortes em até 10 vezes. E isso considerando apenas a taxa de mortalidade. Agir rápido também reduz drasticamente o número de casos, tornando a atuação rápida um modo de condução até mesmo óbvio.
Então, o que um país precisa para estar preparado?
Qual será a pressão no sistema:
Cerca de 20% dos casos requerem hospitalização, 5% dos casos requerem cuidados numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e cerca de 2,5% requerem ajuda muito intensiva, com itens como ventiladores ou ECMO (Oxigenação por membrana extracorpórea).
O problema é que itens como ventiladores e ECMO não podem ser produzidos ou comprados facilmente. Alguns anos atrás, os EUA tinham um total de 250 máquinas ECMO, por exemplo.
Então, se você de repente tiver 100.000 pessoas infectadas, muitas delas vão querer fazer o teste. Cerca de 20.000 precisarão de hospitalização, 5.000 precisarão de UTI e 1.000 precisarão de máquinas que não temos o suficiente hoje. E isso é apenas com 100.000 casos.
Isso sem levar em conta questões como máscaras. Um país como os EUA possui apenas 1% das máscaras necessárias para cobrir as necessidades de seus profissionais de saúde. Se muitos casos aparecerem ao mesmo tempo, haverá máscaras por apenas 2 semanas.
Países como Japão, Coréia do Sul, Hong Kong ou Cingapura, bem como regiões chinesas fora de Hubei, foram preparados e prestaram os cuidados de que os pacientes precisam.
Mas o resto dos países ocidentais está indo na direção de Hubei e Itália. Então, o que está acontecendo?
Como é um sistema de saúde sobrecarregado:
As histórias que aconteceram em Hubei e na Itália estão começando a se tornar assustadoramente semelhantes. Hubei construiu dois hospitais em dez dias, mas mesmo assim estava completamente sobrecarregado.
Em ambos locais haviam reclamações sobre pacientes inundando hospitais. Eles tinham que cuidar destes pacientes em qualquer lugar: nos corredores, nas salas de espera …
Eu recomendo fortemente este pequeno tópico no Twitter. Ele pinta uma imagem bastante gritante da Itália hoje
Os profissionais de saúde passam horas usando o mesmo equipamento de proteção, porque não há o suficiente. Como resultado, eles não podem deixar as áreas infectadas por horas. Quando o fazem, desmoronam, desidratados e exaustos. Os turnos não existem mais. As pessoas são retiradas de suas aposentadorias, e voltam ao trabalho para atender às necessidades. Pessoas que não têm idéia sobre enfermagem são treinadas da noite para o dia para desempenhar funções críticas. Todo mundo está de plantão, sempre.
Ou seja, até que fiquem doentes. O que acontece muito, porque eles estão em constante exposição ao vírus, sem equipamento de proteção suficiente. Quando isso acontece, eles precisam ficar em quarentena por 14 dias, durante os quais não podem ajudar. Na melhor das hipóteses, duas semanas são perdidas. Na pior das hipóteses, eles morrem.
O pior está nas UTIs, quando os pacientes precisam compartilhar ventiladores ou ECMOs. Na verdade, são impossíveis de compartilhar; portanto, os profissionais de saúde devem determinar qual paciente o usará. Isso realmente significa: quem vive e quem morre.
***
“Depois de alguns dias, temos que escolher. […] Nem todo mundo pode ser intubado. Nós decidimos com base na idade e estado de saúde. ” — Christian Salaroli, médico italiano
Tudo isso é o que leva um sistema a ter uma taxa de mortalidade de 4% em vez de 0,5%. Se você deseja que sua cidade ou país faça parte dos 4%, não faça nada.
3. O que você deve fazer?
Achatar a curva
Esta é uma pandemia agora. Não pode ser eliminada. Mas o que podemos fazer é reduzir seu impacto.
Alguns países têm sido exemplares nisso. O melhor é Taiwan, que está extremamente conectado à China e mesmo hoje possui menos de 50 casos. Este artigo recente explica todas as medidas que eles tomaram desde o início, focadas na contenção.
Em Taiwan conseguiram conter o coronavírus, mas a maioria dos países não possuía sua “expertise” e não conseguiram reproduzir esse sucesso. E agora estão jogando um jogo diferente: mitigação. Eles precisam tornar esse vírus o mais inofensivo possível.
Se reduzirmos as infecções o máximo possível, nosso sistema de saúde poderá lidar com os casos muito melhor, reduzindo a taxa de mortalidade. E, se espalharmos a disseminação da doença ao longo do tempo, chegaremos a um ponto em que o resto da sociedade poderá ser vacinado, eliminando completamente o risco. Portanto, nosso objetivo não é eliminar os contágios de coronavírus. É adiá-los.
Quanto mais adiamos os casos, melhor o sistema de saúde pode funcionar, menor a taxa de mortalidade e maior a parcela da população que será vacinada antes de ser infectada.
Como aplainamos a curva?
Distanciamento social:
Há uma coisa muito simples que podemos fazer e que funciona: distanciamento social.
Se você voltar ao gráfico de Wuhan, lembrará que, assim que houve um bloqueio, os casos foram encerrados. Isso ocorre porque as pessoas não interagem entre si e o vírus não se espalhou
O consenso científico atual é que esse vírus pode se espalhar em até 2 metros se alguém tossir. Caso contrário, as gotículas caem no chão e não o infectam.
A pior infecção ocorre através das superfícies: o vírus sobrevive por até 9 dias em diferentes superfícies, como metal, cerâmica e plástico. Isso significa que coisas como maçanetas, mesas ou botões de elevador podem ser vetores de infecção terríveis.
A única maneira de reduzir isso de verdade é com o distanciamento social: manter as pessoas em casa o máximo possível, pelo maior tempo possível até que isso retroceda.
Isso já foi comprovado no passado. Ou seja, na pandemia de 1918, a Gripe Espanhola.
Aprendendo com a pandemia de Gripe Espanhola de 1918:
Você pode ver como a Filadélfia não agiu rapidamente e teve um pico maciço nas taxas de mortalidade. Compare isso com St Louis,que diferentemente foi mais ágil.
Então olhe para Denver, que promulgou medidas e as afrouxou depois. Eles tiveram um pico duplo, com o 2º maior que o primeiro.
Se você generaliza, é isso que você encontra:
Este gráfico mostra, para a gripe de 1918 nos EUA, quantas mais mortes ocorreram por cidade, dependendo da rapidez com que as medidas foram tomadas. Por exemplo, uma cidade como St. Louis tomou medidas 6 dias antes de Pittsburgh e teve menos da metade das mortes por cidadão. Em média, tomar medidas 20 dias antes reduziu pela metade a taxa de mortalidade.
A Itália finalmente entendeu isso. Eles primeiro fecharam a Lombardia no domingo e um dia depois, na segunda-feira, perceberam seu erro e decidiram que tinham que fechar o país inteiro.
Felizmente, veremos resultados nos próximos dias. No entanto, levará uma a duas semanas para verifica-lo. Lembre-se do gráfico de Wuhan: houve um atraso de 12 dias entre o momento em que o bloqueio foi anunciado e o momento em que os casos oficiais (laranja) começaram a cair.
Como os políticos podem contribuir para o distanciamento social?
A pergunta que os políticos estão se perguntando hoje não é se devem fazer alguma coisa, mas qual é a ação apropriada a ser tomada.
Existem várias etapas para controlar uma epidemia, começando com a antecipação e terminando com a erradicação. Mas é tarde demais para a maioria das opções hoje. Com esse nível de casos, as duas únicas opções que os políticos têm pela frente são contenção e mitigação.
Contenção:
A contenção é garantir que todos os casos sejam identificados, controlados e isolados. É o que Cingapura, Hong Kong, Japão ou Taiwan estão fazendo tão bem: usam equipamentos de proteção pesados para proteger seus profissionais de saúde, rapidamente limitam as pessoas que chegam, identificam os doentes, imediatamente as isolam, rastrear todos os seus contatos, os colocam em quarentena … Isso funciona muito bem quando você está preparado e faz isso desde o início e não precisa interromper sua economia para que isso aconteça.
Eu já elogiei a abordagem de Taiwan . Mas a China também tem feito um bom trabalho. O quão longe os chineses foram para conter o vírus é surpreendente. Por exemplo, eles tinham até 1.800 equipes de 5 pessoas , cada uma rastreando todas as pessoas infectadas, todos com quem interagiam, depois todos com quem essas pessoas interagiam e isolando-os em grupos. Foi assim que eles conseguiram conter o vírus em um país de bilhões de pessoas.
Não foi isso que os países ocidentais fizeram. E agora é tarde demais. O recente anúncio americano de que a maioria das viagens da Europa foi proibida é uma medida de contenção para um país que tem, até hoje, três vezes os casos que Hubei teve ao fechar, crescendo exponencialmente. Como podemos saber se é suficiente? Acontece que podemos saber olhando para a proibição de viagens em Wuhan.
Este gráfico mostra o impacto que a proibição de viagens em Wuhan causou, atrasando a epidemia. Os tamanhos das bolhas mostram o número de casos diários. A linha superior mostra os casos se nada for feito. As outras duas linhas mostram o impacto se 40% e 90% das viagens forem eliminadas. Este é um modelo criado por epidemiologistas, porque não podemos ter certeza.
Se você não vê muita diferença, está certo. É muito difícil ver alguma mudança no desenvolvimento da epidemia.
Os pesquisadores estimam que, em suma, a proibição de viagens em Wuhan apenas atrasou a propagação na China em 3–5 dias.
Agora, o que os pesquisadores pensam que seria o impacto da redução da transmissão?
O bloco superior é o mesmo que você já viu antes. Os outros dois blocos mostram taxas de transmissão decrescentes. Se a taxa de transmissão diminuir em 25% (através do Distanciamento Social), ela nivelará a curva e atrasará o pico em 14 semanas inteiras. Reduza a taxa de transmição em 50% e você nem poderá ver a epidemia no espaço de tempo descrito.
A proibição do governo dos EUA de viajar pela Europa é boa: provavelmente nos comprou algumas horas, talvez um dia ou dois. Mas não mais. Não é suficiente. É contenção quando o que é necessário é mitigação.
Uma vez que existem centenas ou milhares de casos crescendo na população, impedir que mais ocorram, rastrear os existentes e isolar seus contatos não é mais suficiente. O próximo nível é a mitigação.
Mitigação:
A mitigação requer grande distanciamento social. As pessoas precisam parar de sair para diminuir a taxa de transmissão (R), de R = ~ 2–3 a qual o vírus segue sem que hajam medidas efetivas contrárias, para abaixo de 1, para que eventualmente desapareça.
Essas medidas exigem o fechamento de empresas, lojas, transporte coletivo, escolas, imposição de bloqueios … Quanto pior a sua situação, pior o distanciamento social. Quanto mais cedo você impõe medidas pesadas, menos tempo precisa para mantê-las, mais fácil é identificar os casos de infusão e menos pessoas são infectadas.
Isto é o que Wuhan teve que fazer. Isto é o que a Itália foi forçada a aceitar. Porque quando o vírus é galopante, a única medida é bloquear todas as áreas infectadas e parar de espalhá-lo de uma só vez.
Com milhares de casos oficiais — e dezenas de milhares de casos verdadeiros — é isso que países como Irã, França, Espanha, Alemanha, Suíça ou EUA precisam fazer.
Mas eles não estão fazendo isso
Alguns negócios estão deixando seus funcionários trabalharem em casa, o que é fantástico.
Alguns eventos que agregam grande número de pessoas estão sendo interrompidos.
Algumas áreas afetadas estão em quarentena.
Todas essas medidas desacelerarão o vírus. Eles reduzirão a taxa de transmissão de 2,5 para 2,2, talvez 2. Mas não são suficientes para nos deixar abaixo de 1 por um período de tempo continuado para interromper a epidemia. E se não podemos fazer isso, precisamos chegar o mais próximo de 1 pelo maior tempo possível, para nivelar a curva.
Portanto, a pergunta é: quais são as compensações que poderíamos estar fazendo para diminuir o R? Este é o menu que a Itália colocou na frente de todos nós:
- Ninguém pode entrar ou sair de áreas de bloqueio, a menos que haja motivos comprovados de família ou trabalho.
- Os movimentos dentro de áreas de alta transmissão devem ser evitados, a menos que sejam justificados por razões pessoais ou profissionais urgentes e não possam ser adiados.
- Pessoas com sintomas (infecção respiratória e febre) são “altamente recomendadas” para permanecer em casa.
- Suspensão de folgas padrão dos profissionais de saúde
- Fechamento de todos os estabelecimentos de ensino (escolas, universidades …), academias, museus, estações de esqui, centros culturais e sociais, piscinas e teatros.
- Bares e restaurantes têm horário de funcionamento limitado das 6h às 18h. Lembrando sempre que é aconselhável que haja pelo menos um metro de distância entre as pessoas.
- Todos os pubs e clubes devem fechar
- Em toda atividade comercial deve haver uma distância de um metro entre os clientes, e entre clientes e funcionários. Aqueles que não conseguem fazer isso devem fechar. Os templos podem permanecer abertos enquanto garantirem essa distância.
- As visitas de familiares e amigos ao hospital são limitadas
- As reuniões de trabalho devem ser adiadas. O trabalho em casa deve ser incentivado.
- Todos os eventos e competições esportivas, públicas ou privadas, são cancelados. Eventos importantes podem ser realizados sob portas fechadas.
Dois dias depois, eles acrescentaram: Não, de fato, você precisa fechar todos os negócios que não são cruciais. Então agora estamos fechando todas as atividades comerciais, escritórios, cafés e lojas. Somente transporte, farmácias e mantimentos permanecerão abertos.”
Uma abordagem é aumentar gradualmente as medidas. Infelizmente, isso dá um tempo precioso para a propagação do vírus. Se você quer estar seguro, faça-o no estilo Wuhan. As pessoas podem reclamar agora, mas agradecerão mais tarde.
Como os líderes empresariais podem contribuir para o distanciamento social?
Se você é um líder de negócios e deseja saber o que deve fazer, o melhor recurso para você é o Staying Home Club.
É uma lista de políticas de distanciamento social que foram adotadas por empresas de tecnologia dos EUA — até agora, 328.
Eles variam desde permitir o trabalho em casa, até visitas, viagens ou eventos restritos.
Há mais coisas que toda empresa deve determinar, como o que fazer com trabalhadores que ganham por hora, manter o escritório aberto ou não, como realizar entrevistas … Se você quiser saber como minha empresa, Course Hero, lidou com algumas dessas questões, e além disso ter um modelo de anúncio sobre medidas tomadas pela empresa, aqui é o que minha empresa usou (versão para exibição apenas aqui).
4.Quando?
É muito possível que, até agora, você tenha concordado com tudo o que disse e que estava apenas se perguntando desde o início quando tomar cada decisão. Em outras palavras, quais gatilhos devemos ter para cada medida.
Modelo para gatilhos baseado em riscos:
Para resolver isso, eu criei um modelo.
Ele permite avaliar o número provável de casos em sua área, a probabilidade de que seus funcionários já estejam infectados, como isso evolui com o tempo e como isso deve indicar se você deve fechar.
Diz-nos coisas como:
- Se sua empresa possuía 100 funcionários na área do estado de Washington, com 11 mortes por coronavírus em 08/03, havia 25% de chance de pelo menos um de seus funcionários estar infectado e você deveria ter fechado imediatamente.
- Se sua empresa tivesse 250 funcionários, principalmente nos bairros de South Bay (condados de San Mateo e Santa Clara, que juntos tiveram 22 casos oficiais em 08/03 e o número de casos verdadeiros provavelmente era de pelo menos 54), em 09/03, você teria por volta de 2 % de chances de ter pelo menos um funcionário infectado e você também deveria ter fechado seu escritório.
- Se sua empresa está em Paris (intramuros) e tem 250 funcionários, hoje há 95% de chance de um de seus funcionários ter o coronavírus e você deve fechar seu escritório amanhã.
O modelo usa rótulos como “empresa” e “funcionário”, mas o mesmo modelo pode ser usado para qualquer outra coisa: escolas, transporte coletivo … Então, se você tem apenas 50 funcionários em Paris, mas todos vão pegar o trem , encontrando milhares de outras pessoas, de repente a probabilidade de que pelo menos uma delas seja infectada é muito maior e você deve fechar seu escritório imediatamente.
Se você ainda está hesitando porque ninguém está apresentando sintomas, saiba que 26% dos contágios acontecem antes que haja sintomas.
Você faz parte de um grupo de líderes?
Essa matemática é egoísta. Ele analisa o risco de cada empresa individualmente, assumindo o risco que queremos até que o inevitável martelo do coronavírus feche nossos escritórios.
Mas se você faz parte de uma liga de líderes empresariais ou políticos, seus cálculos não são para apenas uma empresa, mas para o todo. A matemática se torna: qual é a probabilidade de qualquer uma de nossas empresas estar infectada? Se você faz parte de um grupo de 50 empresas de em média 250 funcionários, na área da baía de São Francisco, há 35% de chance de que pelo menos uma das empresas tenha um funcionário infectado e 97% de chance de que isso aconteça na próxima semana. Eu adicionei uma guia no modelo para brincar com isso.
Conclusão: O custo da espera
Pode parecer assustador tomar uma decisão hoje, mas você não deve pensar dessa maneira.
Esse modelo teórico mostra diferentes comunidades: uma não toma medidas de distanciamento social, uma toma no dia n de um surto, a outra no dia n + 1. Todos os números são completamente fictícios (eu os escolhi para se parecer com o que aconteceu em Hubei, com aproximadamente 6 mil novos casos diários na pior das hipóteses). Eles estão lá apenas para ilustrar a importância de um único dia em algo que cresce exponencialmente. Você pode ver que o atraso de um dia atinge o pico mais tarde e mais alto, mas os casos diários convergem para zero.
Mas e os casos cumulativos?
Nesse modelo teórico que se parece com Hubei, esperar mais um dia cria 40% mais casos! Então, talvez, se as autoridades de Hubei tivessem declarado o bloqueio em 22/1 em vez de 23/23, elas poderiam ter reduzido o número de casos em 20k.
E lembre-se, estes são apenas casos. A mortalidade seria muito maior, porque não apenas haveria diretamente 40% mais mortes. Também haveria um colapso muito maior do sistema de saúde, levando a uma taxa de mortalidade até 10 vezes maior como vimos anteriormente. Portanto, uma diferença de um dia nas medidas de distanciamento social pode acabar explodindo o número de mortes em sua comunidade, multiplicando mais casos e maior taxa de mortalidade.
Esta é uma ameaça exponencial. Todo dia conta. Quando você está atrasando uma decisão por um único dia, talvez não esteja contribuindo para alguns casos. Provavelmente já existem centenas ou milhares de casos em sua comunidade. Todos os dias em que não há distanciamento social, esses casos crescem exponencialmente.
Compartilhe o que leu!
Esta é uma daquelas ocasiões em que fazer pouco pode salvar vidas, compartilhar um artigo pode salvar vidas. Mais pessoas precisam entender isso para evitar uma catástrofe. O momento de agir é agora.
Livre Tradução de Caio Freire
Tradução dos Gráficos: Luna Praun e Fernando Moreno.
Leia também a Parte 2 desse texto (O Martelo e a Dança). Clique aqui!