O que fazer para nunca mais acontecer? Cidades mais preparadas

O nível de preparação das cidades para liderar com pandemias varia drasticamente ao redor do mundo. Sabemos que a extrema desigualdade típica do meio urbano tornaram vulneráveis as populações mais pobres, que habita as favelas e periferias. As cidades com boa infraestrutura para saúde e transportes, sistemas de monitoramento e comunicação eficientes de pandemias e mecanismos robustos de governança — envolvendo os poderes públicos e a iniciativa privada — estarão mais preparadas para detectar futuras pandemias e minimizar seus efeitos negativos.

Grandes cidades foram desproporcionalmente mais afetadas pelo novo surto de coronavírus, ao menos no primeiro momento. Aeroportos, conectando os grandes centros empresariais e turísticos do mundo todo, fizeram das grandes cidades a porta de entrada da epidemia. Transporte público, Shoppings e demais locais de aglomeração provavelmente foram o motivo da rápida propagação. Diante disso, alguns sugerem até mesmo abandonar as cidades. Porém, isso seria apenas jogar o bebê fora com a água do banho.

As pessoas continuam optando pelas cidades, mesmo quando a tecnologia criou inúmeras novas maneiras de se conectar remotamente. As cidades tornaram-se epicentros de novo capital e criatividade, porque a proximidade gera acaso e força, das quais surgem novas idéias e oportunidades.

As pandemias atacam isso incansavelmente. Eles são anti-urbanos. Eles exploram nosso impulso de congregar. E nossa resposta até agora — o distanciamento social — não apenas se depara com nossos desejos fundamentais de interagir, mas também contra a maneira como construímos nossas cidades e praças, metrôs e arranha-céus. Todos eles são projetados para serem ocupados e animados coletivamente. Para muitos sistemas urbanos funcionarem corretamente, a densidade é o objetivo, não o inimigo. (Fonte)

Tudo indica, portanto, a necessidade de adaptação:

O home office já era uma realidade para muita gente, de freelancers e profissionais liberais a funcionários de companhias que já adotavam o modelo. Mas essa modalidade vai crescer ainda mais. Com a pandemia, mais empresas — de diferentes portes — passaram a se organizar para trabalhar com esse modelo. O mesmo vale para o ensino a distância. Com isso também se evita a necessidade de estar em espaços com grande aglomeração, como ônibus e metrôs, especialmente em horários de pico.

A pandemia vai acentuar o medo e a ansiedade das pessoas e estimular novos hábitos. Assim, os cuidados com a saúde e o bem-estar, que estarão em alta, devem se estender aos locais públicos, especialmente os fechados, pois o receio de locais com aglomeração deve permanecer. Eis um ponto de atenção para bares, restaurantes, cafeterias, academias e coworkings, que devem redesenhar seus espaços para reduzir a aglomeração e facilitar o acesso a produtos de higiene, como álcool em gel. O serviço de entrega vai continuar em alta e pode se tornar a principal fonte de receita em muitos casos.(Fonte)

Muito deverá ser feito para repensar as cidades pós-pandemia. Urbanistas debaterão o tema provavelmente pelas próximas décadas e há muito espaço para inovação. Contudo, devemos nos precaver do “planejamento em excesso” que pode ser suscitado pela COVID-19. As cidades podem ser vistas como organismos vivos, que em geral melhor se organizam espontaneamente do que pela batuta de técnicos e burocratas os quais podem acabar por podar o bom crescimento das cidades, apesar das melhores intenções.

Diante disso, o planejamento via cocriação com a população parece ser o caminho a ser seguido. Se bem aplicado, trata-se da solução democrática que evita os excesso de um total laissez faire, por um lado, e do dirigismo burocrático do outro.

Nas palavras de Anthea Foyer, planejadora da cidade de Mississauga:

Por muitos anos eu disse que meu cargo dos sonhos seria o de “Chefe Desplanejadora”. O planejamento obviamente tem um papel importante nas cidades, especialmente em grandes projetos de infraestrutura, mas muitas vezes isso pode ser levado a extremos. Muitas das cidades contêm anomalias que estranhamente se tornam o motivo pelo qual as amamos. Elas criam uma vibração especial e única para aquele lugar e para as pessoas que vivem lá.

A Covid-19 criou uma situação incomum em que o não planejamento aconteceu muito rapidamente. Calçadas e ruas se transformaram em restaurantes a céu aberto. O transporte mudou com mais pessoas caminhando, usando bicicletas, patinetes e outros meios de “transportes micromóveis”. Parques e orlas marítimas foram redescobertos, enquanto os alimentos são cultivados em espaços públicos e distribuídos às pessoas que deles necessitam.

E se tivéssemos um relacionamento mais fluido entre a população e seu governo?

É necessária uma mudança cultural. Todos devem se sentir pessoal e politicamente responsáveis por sua comunidade. Para que isso aconteça, os governos precisam buscar novos modelos de integração e cocriação com seus cidadãos.

É vital repensar como o público é inserido no processo, junto com a análise do motivo e, o mais importante, que conhecimento eles trazem. Embora os funcionários da cidade sejam especialistas em como construir uma ponte ou em como um parque pode ser melhor projetado para ser bonito e útil, os residentes conhecem as pessoas que vivem lá, suas culturas e histórias, bem como os problemas que seus bairros enfrentam e o que eles querem para seus futuros.

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