O que fazer para nunca mais acontecer? Segurança em Aeroportos e Monitoramento de Epidemias

Tal como feito após o 11 de setembro, sugerimos a criação de novos protocolos de segurança em aeroportos, desta vez tendo por foco a prevenção da disseminação de doenças. Cada país também deveria criar seu próprio centro de monitoramento de epidemias emergentes. O exemplo que deve nos inspirar vem de Taiwan.

Quem faz viagens regulares de avião pode acompanhar o quanto os protocolos de segurança mudaram após o 11 de setembro. Contudo, pouco foi feito no sentido de conter pandemias.

Demoramos até mesmo para dar a simples orientação para as pessoas se “auto-quarentenizarem” em suas casas quando retornando de viagens internacionais. No Brasil, imagina-se que cerca de 300 pessoas, regressas da Europa, principalmente Itália, foram responsáveis pela disseminação simultânea do vírus — Não recebiam se quer uma simples máscara ao embarcarem ou desembarcarem. Enquanto isso, Singapura mapeava os locais de origem de cada passageiro que chegava em seus aeroportos. A não colaboração podia acarretar prisão ou multa de até 10 mil dólares.

Outro país com o qual também podemos aprender muito sobre como agir é Taiwan: “A ilha de 23 milhões de habitantes fica a apenas 81 milhas da China continental, com voos frequentes para lá com centenas de milhares de cidadãos de Taiwan que vivem e trabalham na China. Taiwan recebeu 2,7 milhões de visitantes da China no ano passado”. Ainda assim, a epidemia foi mantida sob controle.

Nas palavras de Jason Wang, pesquisador de questões de políticas para saúde de Stanford, Taiwan se preparava para isso desde 2004, quando ocorreu a primeira crise de coronavírus, no que ficou conhecido como a epidemia de SARS:

“A coisa mais importante sobre o gerenciamento de crises é se preparar para a próxima crise. E então eles começaram a fazer isso. Eles montaram um centro de comando, o Centro Nacional de Comando de Saúde e integraram diferentes agências”.

“As autoridades médicas de Taiwan estavam no primeiro avião de Wuhan no início do surto, já procurando casos, de modo que não ficássemos em uma situação na qual a doença sequer tivesse sido descoberta e já contaríamos com casos de transmissão comunitária.”

Leia a matéria completa sobre o que Taiwan fez. Se tiver com tempo, confira a lista de 124 medidas tomadas imediatamente pelo governo de Taiwan logo no início da crise.

Cabe destacar, portanto, que o aeroporto é apenas um componente das ações: todo país deveria criar um centro de monitoramento de epidemias emergentes, monitorando de perto os aeroportos e demais transportes, informando em tempo real as autoridades e coordenando a tomada de ação.

As medidas adotadas por Taiwan tiveram por base garantir a confiança da população por meio da transparência, um bom trato e disseminação de informações, uso inteligente de tecnologia, e análise cuidadosa de dados. Essas foram as diretrizes. A seguir, sumarizamos as medidas mais concretas que deram corpo às diretrizes:

  • Esta mesma prontidão mencionada acima se concretizou na criação do Centro de Comando Nacional de Saúde em 2004 após a crise do SARS. Este sendo um centro de resposta contra surtos e epidemias, atuando conectando, e facilitando comunicação entre autoridades nacionais, regionais e locais. Em outras palavras, não só um investimento em prontidão, mas em comunicação (ambos frequentemente andando juntos). Ainda em Janeiro o governo taiwanês já coordenava seus ministérios para enfrentar a crise vindoura.
  • Agilidade ao traçar perfis entre a população de maior probabilidade de infecção através da integração dos dados de seu sistema de saúde com dados de imigração e alfândega. Assim cruzando histórico de viagens com sintomas apresentados recentemente, e assim gerando perfis que iam de baixo risco, assim sofrendo menores restrições, a alto risco, que devem passar por quarentena.
  • Intenso rastreamento, através deste banco de dados. E mesmo indo atrás de cidadãos que apresentavam sintomas de dificuldades severas de respiração, porém testaram negativo para influenza, para então testa-los para COVID-19.
  • Comunicação aberta com sua população, com instruções e entrevistas diárias de seu Ministro da Saúde, e de seu Vice Presidente, um conhecido epidemiologista. Através da mídia (incluindo proclamações do Vice via redes sociais) o governo mantém a população bem informada, e detalha informações necessárias para prevenção e cuidados quando infectados. A população está ciente dos passos tomados pelo governo, e é alimentada com informações continuamente.
  • Posição ativa na alocação de recursos, como a fixação de preços de máscaras, e uso de fundos governamentais e pessoal militar para aumentar a produção de máscaras. Rendendo um estoque de 44 milhões de máscaras cirúrgicas, 1,9 milhão de máscaras N95, e 1100 salas de isolamento de pressão negativa.
  • Disponibilização de comida para os infectados em quarentena assim como frequentes exames de saúde.

Este artigo faz parte da série: “Coronavírus: o que fazer para nunca mais acontecer”.

Autores: Fernando Moreno e Caio Freire

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