Diversidade cognitiva é o melhor modo para se gerar uma “inteligência coletiva” eficiente. Um estudo publicado na “Frontiers in Psycology” trata da melhor configuração de grupos que devem deliberar para atingir decisões precisas.
Mas este estudo deixa claro que a chave está num equilíbrio entre diversidade e homogeneidade. Existe um intervalo de diversidade onde a eficiência coletiva se dá, pouca diversidade leva a estagnação e baixa dinâmica, enquanto diversidade demais gera problemas na deliberação que seus benefícios não parecem compensar. A medida certa de diversidade cognitiva leva não só a maior eficiência deliberativa, mas também a maior potencial de adaptação a novos desafios.
Foram analisados 98 grupos consistindo de 2 a 5 pessoas, enquanto se engajavam em um jogo estipulado pelos pesquisadores. A diversidade cognitiva foi determinada a partir de uma classificação dos participantes em 3 tipos cognitivos: “Verbalizadores” (típico em jornalistas e advogados), “Visualizadores Espaciais” (típico em engenheiros ), e “Visualizadores de Objeto” (típico em artistas). Nem todos participantes se encaixavam perfeitamente em somente um destas categorias, podendo transitar entre tipos.
A pesquisa em si tem por objetivo indicar melhores métodos para gerenciar grupos em empresas, mas não deixa de ser interessante imaginar um paralelo entre seus resultados e processos de decisão coletiva em grupos mais amplos,como nossas sociedades.
Sua conclusão parece corroborar com o que temos compartilhado em relação a decisões coletivas, que para serem precisas e coerentes dependem de deliberação e diversidade. Em ambientes políticos onde haja homogeneidade gerada artificialmente, e pouca deliberação, a tendência é que um “filtro” de más decisões seja menos eficiente. Enquanto que ambientes que possam maximizar a possibilidade de haverem decisões verdadeiramente coletivas (ou seja que não são geradas por um ponto de vista particular que se imponha na forma de uma homogeneidade artificial), derivadas de deliberação entre diferentes pontos de vista dentro do coletivo sem se perder dentro da própria diversidade, não só “filtram” melhor suas decisões, como se adaptam mais naturalmente a mudanças.
Baixa diversidade de perspectivas (que no caso de sociedades amplas pode se dar artificialmente) leva a rigidez e maior dificuldade em se barrar más decisões. Diversidade alta demais pode simplesmente dificultar a deliberação, o que por sua vez pode ser visto como paralelo a uma crítica a identitarismo e principalmente a sectarismos e virtuosismos ideológicos que geram diversos pequenos grupos fechados e pouco dispostos a ceder diante de um oceano de opções ideológicas. A combinação entre diversidade e deliberação dinâmica parece realmente ser combinação a ser buscada visando um bom equilíbrio e eficácia.
Cabe esclarecer que a diversidade que a pesquisa referida trata e da qual comentamos aqui não é uma diversidade de opiniões em si. Uma diversidade de opiniões pode inclusive gerar o efeito contrário ao esperado, quando por exemplo se considera com mesmo peso conclusões de especialistas bem embasadas e opiniões como a Terra plana, o criacionismo, e o movimento “antivax”, isto simplesmente em nome da diversidade de opiniões. O que tratamos aqui é de uma diversidade cognitiva, diferentes pontos de vista que ao se encontrarem em debate acabam por salientar dentro do debatido o que é mais preciso, menos contraditório, e também amenizam qualquer enviesamento indesejado.
Escrito por Caio Freire
Fonte do gráfico: https://www.weforum.org/agenda/2019/07/different-kinds-of-thinking-make-teams-smarter